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A Bolívia em tempos de incerteza: o MAS, a instabilidade política e o risco da extrema direita

A Bolívia, uma nação rica em recursos naturais e diversidade cultural, tem vivido uma série de eventos políticos que moldaram sua trajetória recente. No centro desse turbilhão está o Movimento ao Socialismo (MAS), um partido político que dominou a cena boliviana nos últimos anos, mas que também enfrenta inúmeros desafios. A instabilidade política que se seguiu aos governos do MAS criou um terreno fértil para a ascensão de forças de extrema direita, ameaçando a democracia e a estabilidade do país. Este artigo explora o papel do MAS, os problemas enfrentados pelo partido, a instabilidade política em curso e o risco da extrema direita assumir o governo.

O Movimento ao Socialismo (MAS) é um partido político fundado em 1998, tendo como figura central Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia. O MAS defende políticas de inclusão social, nacionalização dos recursos naturais e fortalecimento da soberania nacional. Durante o mandato de Morales, iniciado em 2006, o país experimentou significativos avanços sociais e econômicos. A nacionalização dos recursos de gás e petróleo proporcionou receitas que foram investidas em programas sociais, redução da pobreza e melhorias na infraestrutura. néanmoins, o MAS também enfrentou críticas por práticas autoritárias, corrupção e manipulação do sistema judicial.

Os problemas internos do MAS se intensificaram após a controvérsia em torno das eleições de 2019. Morales concorreu a um quarto mandato após um referendo que rejeitou sua reeleição, o que levou a acusações de fraude eleitoral e protestos massivos. A pressão interna e internacional forçou Morales a renunciar e se exilar, resultando em um governo interino liderado por Jeanine Áñez, que promoveu uma agenda de direita e reverteu várias políticas do MAS. Dans 2020, o MAS retornou ao poder com a eleição de Luis Arce, ex-ministro da Economia de Morales, mas a instabilidade política permaneceu.

A instabilidade política na Bolívia é exacerbada por vários fatores, incluindo divisões regionais, tensões étnicas e econômicas. A polarização entre os departamentos de alta e baixa altitude, com diferentes interesses econômicos e culturais, alimenta conflitos políticos. A oposição acusa o MAS de centralizar o poder e marginalizar a oposição, enquanto os apoiadores do MAS denunciam tentativas da elite econômica de desestabilizar o governo eleito democraticamente.

O risco da extrema direita assumir o governo na Bolívia é real e preocupante. Durante o governo interino de Áñez, houve uma repressão significativa aos movimentos sociais e indígenas, incluindo violações dos direitos humanos documentadas por organizações internacionais. Grupos de extrema direita, como o Comitê Cívico de Santa Cruz, liderado por figuras como Luis Fernando Camacho, ganharam destaque promovendo uma agenda nacionalista e conservadora. A ascensão desses grupos representa uma ameaça à democracia boliviana e à estabilidade social, promovendo divisões e exacerbando tensões.

A situação na Bolívia é um reflexo de um contexto mais amplo na América Latina, onde a polarização política e a ascensão de movimentos de extrema direita ameaçam democracias frágeis. A história recente da Bolívia destaca a importância de fortalecer instituições democráticas, promover o diálogo e buscar soluções inclusivas que respeitem a diversidade e a pluralidade da sociedade boliviana. O futuro do país dependerá da capacidade de seus líderes e cidadãos de navegar por esses desafios complexos e trabalhar em direção a um futuro mais justo e democrático.

A Bolívia enfrenta um período de incerteza política marcado pelos desafios do MAS, a persistente instabilidade e o risco da extrema direita. A trajetória do país nos próximos anos será crucial para determinar se conseguirá consolidar uma democracia inclusiva e resiliente ou se sucumbirá às forças de divisão e autoritarismo. A vigilância e o engajamento cívico serão fundamentais para garantir que a Bolívia possa superar esses desafios e construir um futuro mais equitativo e democrático para todos os seus cidadãos.

Rodrigo Cintra
Post-Doc en Compétitivité Territoriale et Industries Créatives, par Dinamia – Centre d'étude du changement socio-économique, de l'Institut Supérieur des Sciences du Travail et de l'Entreprise (CETTE, Lisbonne, le Portugal). Docteur en relations internationales de l'Université de Brasilia (2007). Il est directeur exécutif de la carte du monde. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X