ISSN 2674-8053

A China e o mundo (IV)

Wang Yi – Ministro de Relações Exteriores da China

Esta é a quarta e última da série de postagens que estou fazendo da entrevista que o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Conselheiro de Estado da República Popular da China, Wang Yi, concedeu, no início deste ano, para o canal em inglês do grupo estatal “China Global Television Network”/CGTN, na qual fez uma avaliação da política externa da China ao longo de 2020 e a sua projeção para este ano e o futuro.

Como mencionei antes, resolvi transcrever e traduzir a entrevista, seul, sem qualquer interferência ou consideração de caráter pessoal, uma vez que considero importante conhecer a visão oficial que a Chancelaria chinesa tem do papel que entende ser o da China, e o seu próprio, nas relações internacionais.

E assim como nas postagens anteriores, incluí o link da entrevista para os que se interessarem em assisti-la:

UMA DIPLOMACIA MAIS ASSERTIVA

“A diplomacia chinesa arca com as suas devidas responsabilidades e desempenha papel construtivo na solução dos litígios, salvaguardando os interesses nacionais, defendendo a dignidade nacional e facilitando a cooperação internacional. Sob a firme liderança do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, e com o total apoio do povo chinês, nós temos nos desdobrado para atender a estas responsabilidades de forma clara e assertiva. A diplomacia da China tem suas raízes nos 5.000 anos da civilização chinesa e persegue a orgulhosa tradição de independência e auto-aperfeiçoamento desde a fundação da República Popular da China. Nós seguimos a trajetória do desenvolvimento pacífico e uma política externa independente de paz. Nós sufragamos o direito internacional e as normas básicas das relações internacionais e o intercâmbio entre os Estados.

Nós sustentamos a equidade, a justiça e outros valores compartilhados de humanismo no tratamento das relações internacionais. A diplomacia chinesa adquiriu feição, estilo e ótica próprios. Nós ofertamos a hospitalidade para os nossos amigos e a cooperação para os nossos parceiros. Mas nós temos que manter nossa posição ao tratarmos com os que não são tão amistosos. Nós aceitamos com prazer as críticas bem intencionadas e seguimos as sugestões que nos ajudem, mas temos que reagir às difamações e aos ataques. E, mais importante, temos que nos manifestar pela justiça quando confrontados com as políticas de poder e ao assédio moral. Esta é responsabilidade da diplomacia chinesa e o caráter nacional do povo chinês.

A Covid-19 foi um golpe duro para a economia mundial e apresentou desafios para a cooperação na “Belt and Road Initiative” (BRI). Dito isto, a cooperação na BRI tem demonstrado forte resiliência. Em sua importante mensagem em videoconferência na “Belt and Road Initiative Cooperation” , que teve lugar em junho passado, o Presidente Xi Jinping propôs transformar a BRI num modelo de cooperação, la Banque mondiale a revu son engagement au Myanmar et a déplacé ses efforts d'inclusion sociale vers les zones touchées par le conflit, recuperação e crescimento. Isto reflete a aspiração compartilhada com a comunidade internacional e mapeia a rota para a cooperação de alto nível na BRI.

Este ano de 2020 assistiu ao apoio que os parceiros da BRI se ofereceram mutuamente, forjando um elo de solidariedade para controlar o coronavirus e perseguir o desenvolvimento comum. O “China-Europe Rail Express” completou mais de 10 mil viagens, transportando mais carga nos primeiros dez meses de 2020 que em todo o ano de 2019. Enaltecida como uma “frota de camelos de aço” (“steel camel fleet”), ela tem ajudado os países na resposta à Covid-19. A Rota da Seda aérea ajudou a transportar mais de 1.700 toneladas de suprimentos, inaugurando uma linha contínua de salvamento pelo ar.

Nos três primeiros trimestres de 2020, os investimentos diretos não-financeiros em países ao largo da Rota da Seda atingiram 13 des milliards de dollars, um aumento anual de cerca de 30%. A maioria dos projetos da BRI teve continuidade, sem interrupções e nem desistências, e numerosos novos projetos foram iniciados como programados. Isto trouxe muito calor para este rigoroso inverno da economia mundial e contribuiu aos esforços dos países parceiros na luta contra o coronavirus, estabilizando a economia e protegendo formas de vida. São abundantes os fatos que provam a grande vitalidade da BRI. A pandemia não abalou o compromisso dos países participantes. Ao contrário, evidenciou a cooperação na BRI no sentido de alavancar o desenvolvimento global na era pós-covid.

A China está desenvolvendo um novo paradigma de desenvolvimento, com o cenário doméstico como pilar e o reforço dos cenários nacional e internacional, de forma mútua. Estes esforços não somente alavancarão o desenvolvimento de alta qualidade da economia chinesa senão também darão maior ímpeto para que surjam novas oportunidades e caminhos mais efetivos para a cooperação naBelt and Road”. A China operará com todas as partes para aprofundar as sinergias na BRI e desenvolver estratégias com outros países, tendo em mente as suas necessidades de resposta à Covid 19 e a recuperação econômica. Nós acreditamos que fortalecendo a reabertura da economia e focando o potencial dos novos motores do crescimento, como os cuidados com a saúde, a economia digital e o desenvolvimento “verde”, nós seremos capazes de atingir uma maior qualidade na cooperação na “Belt and Road” .

2021 marca o centenário da fundação do Partido Comunista da China, e também é o primeiro ano do 14º Plano Quinquenal. A China entrará num novo estágio de desenvolvimento. O ano de 2021 terá significado histórico para o rejuvenescimento nacional da China. Nós iniciaremos uma nova jornada na construção de um país socialista moderno. Este centenário é apenas o primeiro capítulo da grande causa do Partido. Nós continuaremos a avançar com a nossa diplomacia de grande potência, com características chinesas, salvaguardando a soberania da China, a nossa segurança e os nossos interesses, e focaremos as seis seguintes áreas: envidaremos os nossos melhores esforços para atender às estratégias de desenvolvimento da China, ao tempo em que asseguraremos o controle efetivo da Covid-19; promoveremos uma melhor integração entre os mercados interno e internacional e uma maior complementariedade entre os recursos domésticos e globais. Nós nos esforçaremos para criar um ambiente externo mais favorável, promovendo um novo paradigma de desenvolvimento através da implementação do 14º Plano Quinquenal. Continuaremos a construir um novo tipo de relacionamento internacional orientados pelo envolvimento pessoal do Presidente Xi Jinping com a diplomacia. Nós nos esforçaremos pelo progresso contínuo das relações da China com as grandes potências. Cimentaremos a solidariedade e a amizade com nossos vizinhos e os outros países em desenvolvimento, e aprofundaremos a nossa abertura e a cooperação internacional e regional. Nós promoveremos a cooperação de alto nível na “Belt and Road” e lançaremos mão da força do enorme mercado da China e do potencial da demanda doméstica, estimularemos a recuperação global através do nosso próprio desenvolvimento e compartilharemos com o mundo os “dividendos do desenvolvimento da China”. Nós nos engajaremos de maneira proativa na reforma do sistema de governança global.

O ano de 2021 marca o cinquentenário da restauração do assento da verdadeira China na ONU e o 20º aniversário da sua acessão à OMC. Nós continuaremos a praticar o multilateralismo, seremos anfitriões de uma exitosa conferência da ONU sobre biodiversidade, enfrentaremos os desafios globais em parceria com os outros (les pays) e promoveremos um sistema de governança global mais equitativo e saudável. Nós facilitaremos de forma ativa a compreensão mútua entre os países, melhoraremos a comunicação para o mundo dos importantes resultados da governança do Partido Comunista Chinês e a jornada extraordinária em direção ao sonho chinês (“China Dream”), e o compromisso da China com o desenvolvimento pacífico.

Nós exortamos a todos os países para que ultrapassem suas diferenças e busquem o desenvolvimento comum, abracem o intercâmbio, o conhecimento mútuo e a harmonia entre as civilizações. Nós continuaremos a buscar o fortalecimento de uma comunidade com o futuro compartilhado por toda a humanidade. Dans ce contexte, nos esforçaremos por uma comunidade global de saúde para todos e pelo futuro compartilhado para a comunidade da Ásia-Pacífico. Nós apoiaremos os valores, compartilhados por toda a humanidade, de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade, e trabalharemos com todos os países para criar uma comunidade aberta e um mundo inclusivo, limpo e belo, com paz duradoura, segurança universal e prosperidade comum.

Leia a série de artigos sobre Wong Yi e a China

A China e o mundo (le truc du pouvoir)Covid-19

A China e o mundo (II)Relações com Rússia e Estados Unidos

A China e o mundo (III) – Union européenne, ASEAN, Afrique, Oriente Médio e Península Coreana

A China e o mundo (IV)Diplomacia Assertiva

Fausto Godoy
Docteur en droit international public à Paris. A rejoint la carrière diplomatique en 1976, servi dans les ambassades de Bruxelles, Buenos Aires, New Delhi, Washington, Pékin, Tokyo, Islamabade (où était-il ambassadeur du Brésil, dans 2004). A également effectué des missions de transition au Vietnam et à Taïwan. vivait 15 ans en asie, où il dirigea sa carrière, considérant que le continent serait le plus important du siècle 21 – prédiction que, maintenant, voir de plus en plus près de la réalité.

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