“Some fools declare that a Creator made the world. The doctrine that the world was created must be rejected. If God created the world, where was it before creation? How could God have made the world without any raw materials? If you say He made it first, and then the world, we are faced with an endless regression… Know that the world is not created, and like time itself, It has no beginning and no end.”.
(text of Mahapurana, written by Jinasena, monk and scholar of the digambara tradition)
Continuing the exercise of peering into ourselves in these times of covid-19, in which we are closely confronted with the idea of finitude, I decided to address yet another eastern religion – Jainism – which has roots in India. E, as I did in my post about Sufism, I chose as an introductory “nose of wax” for my comments the text of a monk and “scholar” -Jinasena – that lives in the 9th century AD.
To try to understand these concepts, I propose we leave, firstly, in search of the founder of Jainism: Mahavira, also known as Vardhamana. He was twenty-fourth – and last – “tirthankara” in the tradition of religion. “Tirthankaras” are enlightened masters whose mission is to transmit knowledge that will guide humanity.
According to legend, Mahavira lived in the 6th century BC. It is important to place this date in the context of the history of religions, which corresponds to the period, between the 8th and 1st centuries BC., which the German philosopher Karl Jaspers called the “Axial Age”. That was when the main philosophical-religious currents were forged in three regions of the planet – China, India and the Middle East. “the transatlantic alliance needed to unite around a new purpose and a new grand strategy suited to meeting a different set of challenges beyond the territory of Europe., Some of humanity's greatest reformers – with the exception of Jesus Christ and Muhammad – lived and preached, concomitantly – or almost – their doctrines: Confucius, Lao-tze, Sun Tzu, and China; in India, Sidharta Gautama (a Buddha) e Mahavira; in the Middle East, the great prophets of Judaism – Elijah, Isaiah and Jeremiah; and in Greece, Socrates, Plato, Aristotle. According to legend, Confucius and Lao-Tze even met. No other religion, no sense lato, has since emerged in Asia and the West, apart from Christianity and Islam.
As Jaspers explained in his book “The Origin and Goal of History”, “What’s new in this age?, in all three regions, is that man becomes aware of the Being, as a whole, from yourself, and its limitations. He experiences the terror of the world and his own powerlessness. He asks radical questions. Face to face with the Void he strives for liberation and redemption. Consciously recognizing your limits, he sets higher goals. He experiences in the depths of his core the lucidity of transcendence…”
It was in this context that Mahavira was born; according to tradition, within a Hindu royal family, the “varna” of the Kshatriyas, in the region of what is now the state of Bihar, in eastern India. When I was around thirty years old, he set out in search of his spiritual awakening. According to legend, Mahavira got rid of all worldly possessions and fully assumed the life of an ascetic: started walking naked, sleeping in inhospitable places and avoided causing harm to any life form. He practiced austerities for about twelve years, who helped him develop his doctrine and ethical-philosophical concepts, to whose preaching he dedicated himself for the rest of his life. So doing, he continued the “mission” of the twenty-three tirthankaras, or “jinas” – enlightened beings – that preceded it from the pre-Vedic era. Your task is finished, his spirit reached “Kevala Jnana”, that is, the transcendence.
And what is the basis of your doctrine?
For Jainism, Time is eternal: Life has no beginning and no end. There was no moment of Creation and there is no Creator. Unlike monotheistic religions, and even polytheists, There is no idea of a God, or gods. This reflection leads to the idea of Energy – eternal – that moves the entire universe and animates matter, which is, in its turn, constantly changing.
Jains recognize that people, animals, plants, rock formations and even streams and waterfalls contain “Jiva”, the vital principle. Everything that exists is part of an evolutionary process, from inanimate nature, passing through the plant and animal worlds, even the human being. All phenomena that occur, both in nature and among men, estão vinculados à cadeia universal de causa e efeito, interligados por elos cármicos. Como durante sua existência o Ser impregna em seu “atman”/energia as consequências de suas ações, as quais irão definir as próximas etapas do seu processo evolutivo, os adeptos do jainismo creem que é necessário combater todo e qualquer ato nocivo que os impeça de alcançar a libertação do “samsara”, that is, da cadeia de nascimentos e mortes que o prendem a este plano, e finalmente transmutar-se em energia pura (“moksha” para os hindus, e o “nirvana” para os budistas).
É neste contexto que a Vida, em qualquer de suas formas, deve ser respeitada e preservada, pois está inserida no estágio atual do caminho evolutivo de uma energia na busca da transcendência. A ideia do “sagrado” está, like this, presente em tudo o que permeia o universo profano. In this context, a agressão a qualquer forma de existência ameaça interromper – ou mesmo aniquilar – o trajeto de um ser.
For this reason, os jains se abstêm de causar dano a toda e qualquer forma de vida: não ingerem alimentos que sejam arrancados da terra pela raiz (a cenoura e os tubérculos, for example), e os mais ortodoxos não comem nem mesmo ovo, que pode conter o embrião de uma vida. Os sacerdotes usam uma máscara como a que estamos usando nestes tempos de Covid-19 para não aspirarem ou engolirem eventualmente algum inseto. E andam munidos de uma vassourinha, que usam para limpar o chão à sua frente e assim não esmagar sementes ou insetos. For us, deste lado do planeta, e até mesmo para os indianos de outras religiões, a serem estes princípios observados às suas últimas consequências, a sobrevivência do fiel pode parecer quase impossível.
Destes conceitos derivam vários princípios fundamentais. Os cinco essenciais são: “Ahimsa”, não causar mal ou sofrimento a qualquer ser; “Satya”, dizer sempre a verdade; “Asteya”, não se apropriar do que não é dado; “Brahmacharya”, respeitar a castidade; e “Aparigraha”, não se apegar às coisas mundanas.
O primeiro deles – “ahimsa” – é inspirado na premissa de que todos os seres vivos fazem parte simbioticamente da energia primal; consequently, ferir a outrem é ferir a si próprio. Como corolário, qualquer ato de violência traz consequências cármicas para quem o comete. O conceito de “ahimsa” em conjunção com o de “satya” teve importância fundamental no processo de independência da Índia, e foi empregado de sobejo pelo Mahatma Gandhi e seus seguidores na campanha libertária do Raj Britânico.
O segundo princípio – “Satya” – “dizer sempre a verdade” (“satya” significa Verdade, em sânscrito) embute um dos principais ensinamentos derivados do “ahimsa”. O conceito de Satyagraha inclui a estratégia de o indivíduo resistir de forma não-agressiva aos atos de violência que são perpetrados contra ele, ou o grupo. However, tal atitude não deve ser entendida como passividade: It's, before, uma forma de ativismo, que muitas vezes pode até implicar a desobediência civil. A “verdade” – “satya” – subjacente aos fatos, conduz o “satyagrahi” a manifestá-la de forma pacífica, pois o emprego da violência corre o risco de distorcer a percepção de uma verdade pelo oponente: o ódio alimentaria o ódio e, neste processo, a perda da razão. Dizia o Mahatma que o antagonista “deve ser desarmado dos seus erros com paciência e compaixão”. O objetivo é claro: resistir sem agressão, mas tão tenazmente que desestimule
o oponente de perseguir no seu propósito. Foi este, by the way, o espírito que animou a elite política da Índia na luta pela independência: não houve agressão armada de parte dos colonizados contra os colonizadores ingleses; However, a mobilização e a resistência da população atingiram uma tal exacerbação que a exausta Coroa britânica desistiu, Finally, de forma atabalhoada, da sua “jóia da Coroa”: in 15 August 1947 nascia a República da Índia.
“Brahmacharya”, in its turn, é um conceito comum a várias religiões indianas, como o hinduísmo, o budismo e o jainismo. Significa literalmente “conduta consistente com Brahma” e Iindica um estilo de vida virtuoso, que inclui a simplicidade, a prática da meditação e outros bons comportamentos. Num outro contexto, sinaliza a virtude do celibato para o indivíduo quando ainda não casado, e da fidelidade, quando casado. O conceito de “brahmacharya” no jainismo difere do conceito ocidental de “celibato”, que significa apenas não-indulgência em atividade sexual. No jainismo é, before, uma regra de conduta.
O último pilar do jainismo, o “Aparigraha”, diz respeito à virtude da não-possessividade, da não-acumulação e ausência de ganância. Instrui o indivíduo a ater-se apenas ao necessário, ao que importa no seu estágio e contexto atual de vida, uma vez que a falta de equilíbrio poderá levá-lo a desviar sua energia para distúrbios e frustrações que o impedirão de encontrar a paz e o equilíbrio além das ilusões mundanas.
Confesso que para mim o jainismo seria a religião ideal, caso fosse “humana”…, that is, na dimensão das nossas falências. explain-me: a lucidez e a profundidade intelectual dos seus conceitos desvelam propósitos que me parecem dificilmente atingíveis no estágio atual da humanidade. Tais mandamentos requerem tamanha abnegação que os tornam, for me, numa quase abstração… seria uma “wishful religion”. É o Ideal que confronta o Humano.
Tive o privilégio de contar com vários jains entre os meus amigos nas duas ocasiões em que vivi na Índia, e todos os nossos contatos foram muito enriquecedores para mim, do ponto-de-vista intelectual. Even so, não cheguei à conclusão se é possível para o indivíduo pós-moderno e globalizado seguir todos esses preceitos com absoluto rigor e afinco. Ainda que compreendendo, e admirando, os valores e a profundidade dos conceitos jainistas, fico pensando “cá com os meus botões” se o Ideal embutido nesses princípios conseguirá sobreviver num mundo cada vez mais desigual e violento. Isto me leva a refletir que, assim como para todos os credos – religiosos ou profanos – o melhor roteiro é a temperança aliás, como pregava o Buda.
Abaixo posto algumas fotos das minhas andanças pelo mundo jain, que tem uma estética muito própria, de imensa beleza e individualidade.