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A busca por um posicionamento internacional equidistante

Carlos França, ministro de Relações Exteriores do Brasil (foto: divulgação Governo Federal)

O Brasil precisa recuperar, urgentemente, seu papel internacional. Ainda que as eleições tendam a ideologizar a agenda internacional brasileira, temos que recuperar o nosso papel internacional de aspirante a potência.

O atual conflito entre Rússia e Ucrânia tem ofuscado a discussão sobre qual papel o Brasil deve desempenhar no sistema internacional. Aproximações de um lado ou de outro logo são percebidas como propostas ideológicas do atual governo, enquanto deveriam ser percebidas como uma agenda do Estado brasileiro.

Quando nos afastamos um pouco da conjuntura internacional atual e tentamos entender melhor a estrutura, facilmente vemos que o mundo tem se ajustado em torno de dois países: China e Estados Unidos. Não se trata aqui de olhar o mundo com o mesmo olhar da Guerra Fria, no qual havia uma bipolaridade clara. O movimento agora é um pouco diferente, não havendo um embate militar indireto entre as duas potências dominantes da época (Estados Unidos e União Soviética).

Agora o olhar deve ser mais para a dimensão econômica.

Os Estados Unidos mantêm grande parte de sua influência via comércio e finanças, sendo um grande consumidor internacional (o que faz com que muitos países e cadeias produtivas dependam do consumo norte-americano para sobreviverem), além de se esforçar para garantir que o dólar continue a ser a principal moeda internacional.

Já a China tem uma atuação mais focada nas finanças em sua dimensão de investimentos. Ela tem investido em obras de infraestrutura de muitos países (com especial destaque para aqueles dos continentes africano e latino-americano, mas também tem crescido sua importância na Ásia do oeste). Isso também cria uma grande dependência destes países já que parte de seu desenvolvimento econômico passa a depender de decisões chinesas.

É justamente neste cenário que o Brasil precisa entrar. Como se vê, não se trata de uma questão ideológica, mas sim de um posicionamento no qual o país precisa defender seus interesses mais perenes. Esse posicionamento tem sido mais visto com o atual ministro de Relações Exteriores Carlos França, do que do anterior Ernesto Araujo.

É importante reconhecer que o Brasil não é uma potência global, ou seja, que nossos interesses devem ser mais concentrados na medida em que não temos recursos disponíveis para atuar globalmente. Assim, temos que saber aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas, de modo a maximizar nossos retornos.

Em termos gerais, o Brasil precisa buscar uma posição de equidistância entre China e Estados Unidos. Mais do que evitar alinhamentos automáticos, o momento é de buscar uma atuação internacional em que se mostre com mais neutralidade.

Dentre os vários espaços nos quais o Brasil pode desempenhar um papel mais solto está os BRICS. Aqui, em especial, dentro do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). O Banco tem se mostrado um espaço de influência econômica muito importante, como bem mostra a recente declaração do Ministro da Economia Paulo Guedes sobre o convite que fez para que a Argentina passe a fazer parte.

Quanto mais ativo o Brasil se mostrar no âmbito dos BRICS, maiores são as oportunidades que teremos em defender nossos interesses nacionais.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X