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Autor: Rodrigo Cintra

Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X
Canal do Panamá e a retórica de Trump revelam instabilidade dos Estados Unidos como parceiro internacional
Américas, Panamá

Canal do Panamá e a retórica de Trump revelam instabilidade dos Estados Unidos como parceiro internacional

O Canal do Panamá sempre foi mais do que uma simples obra de engenharia. Ele é, desde sua criação, um símbolo de disputas geopolíticas, interesses comerciais e hegemonia. Controlado pelos Estados Unidos ao longo do século XX, o canal foi, por décadas, uma peça estratégica para o poder norte-americano nas Américas e no mundo. Quando o Panamá assumiu seu controle pleno em 1999, após décadas de pressão diplomática e resistência popular, parecia que os tempos de intervenção direta haviam ficado para trás. Mas as falas recentes de Donald Trump indicam que essa página pode não estar totalmente virada. Em seus discursos de campanha e entrevistas, Trump voltou a levantar a possibilidade de retomar o controle do Canal do Panamá. Para alguns, pode ter soado como mais uma bravata do ex-presidente,...
Eleições no Equador revelam os limites da soberania regional diante da influência dos Estados Unidos
Américas, Equador

Eleições no Equador revelam os limites da soberania regional diante da influência dos Estados Unidos

O processo eleitoral de 2025 no Equador expôs, de forma inquietante, o quanto a política latino-americana ainda está sujeita a dinâmicas externas, especialmente à influência dos Estados Unidos. A vitória de Daniel Noboa, que buscava sua reeleição em meio a uma crise política e de segurança sem precedentes, foi acompanhada por denúncias, tensões e uma crescente percepção de que os rumos do país estavam sendo definidos não apenas nas urnas, mas também fora de suas fronteiras. Ainda que a vitória tenha sido confirmada pelas autoridades eleitorais, o ambiente que cercou o pleito esteve longe da normalidade democrática. A oposição, liderada por forças ligadas ao correísmo, denunciou mudanças bruscas em regras de votação, manipulações administrativas e tentativas de desmobilização de seus ele...
Ucrânia busca apoio latino-americano e pressiona o Brasil a rever sua neutralidade
Américas, Brasil, Europa, Ucrânia

Ucrânia busca apoio latino-americano e pressiona o Brasil a rever sua neutralidade

As movimentações diplomáticas entre Ucrânia e Brasil vêm ganhando intensidade. O governo ucraniano manifestou o desejo de estreitar laços com Brasília, e negociações estão em curso para viabilizar uma visita do presidente Volodymyr Zelensky ou do ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba. Embora ainda não haja data confirmada para a realização do encontro, os bastidores da diplomacia revelam que a Ucrânia vê o Brasil como um ator-chave para ampliar sua presença na América Latina e pressionar por maior apoio internacional em sua guerra contra a Rússia. Para o Brasil, o simples fato de ser cortejado em meio a um dos maiores conflitos do século exige extrema cautela. A posição de neutralidade adotada desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia não é apenas uma diretriz estratégic...
Brasil aposta nos Jogos dos BRICS e nos Jogos do Futuro para ampliar sua presença internacional
Temas Globais

Brasil aposta nos Jogos dos BRICS e nos Jogos do Futuro para ampliar sua presença internacional

Em 2025, o Brasil se movimenta em duas frentes que revelam um esforço claro de reposicionamento no cenário internacional. De um lado, o país sedia os Jogos dos BRICS, uma iniciativa que ultrapassa o esporte e se insere numa lógica de fortalecimento político entre países emergentes. De outro, o Brasil também participa dos Jogos do Futuro, que serão realizados nos Emirados Árabes Unidos, evento que busca articular inovação, tecnologia e diplomacia por meio do esporte. Mais do que competições, esses dois momentos representam oportunidades estratégicas para a diplomacia brasileira consolidar novos espaços de influência, especialmente fora dos circuitos tradicionais do poder global. Os Jogos dos BRICS, concebidos como um braço esportivo do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e Áfr...
A crise de valores e do discurso universalista: quando o mundo rejeita a fala do centro
Estudos

A crise de valores e do discurso universalista: quando o mundo rejeita a fala do centro

Introdução: o mundo pós-consenso Por décadas, a ordem internacional liberal foi sustentada por mais do que tratados, instituições e mercados — ela foi sustentada por uma ideia. A ideia de que certos valores eram universais: a liberdade individual, a democracia representativa, os direitos humanos, o livre mercado, o progresso científico, a razão crítica. Esses valores, profundamente enraizados na tradição ocidental, foram promovidos como referências morais globais, e não apenas como escolhas políticas locais. Sua universalização era vista como natural, desejável e, muitas vezes, inevitável. No entanto, essa universalidade começou a ser questionada. Ao longo das últimas duas décadas — e com mais intensidade após as crises financeiras, migratórias, sanitárias e climáticas —, diversos pa...
A disputa por hegemonia e a emergência de ordens alternativas: o mundo já não é unipolar
Estudos, Temas Globais

A disputa por hegemonia e a emergência de ordens alternativas: o mundo já não é unipolar

Introdução: a queda do império invisível Durante grande parte do pós-Guerra Fria, o mundo foi estruturado em torno de uma convicção silenciosa: os Estados Unidos eram, simultaneamente, a maior potência militar, econômica, tecnológica e cultural do planeta — e os guardiões da ordem internacional liberal. Sua liderança era vista não apenas como inevitável, mas como desejável, pois se imaginava que seus interesses coincidiram, em grande medida, com os valores universais da democracia, dos direitos humanos e do livre mercado. O multilateralismo funcionava sob uma lógica peculiar: era, muitas vezes, unilateralismo com legitimidade compartilhada. A unipolaridade americana não era apenas um fato geopolítico — era um estado mental. Esse arranjo, no entanto, começou a se dissolver. De forma d...
A desglobalização e o retorno do nacionalismo: o fim da era da abertura?
Estudos

A desglobalização e o retorno do nacionalismo: o fim da era da abertura?

Introdução: o mundo fechando as janelas Durante décadas, a globalização foi promovida como o caminho inevitável para o progresso. A redução de barreiras comerciais, a integração das cadeias produtivas, a mobilidade de capitais e a circulação de pessoas foram apresentadas como sinais de um novo tempo — mais conectado, mais eficiente, mais próspero. O consenso era quase total: mais globalização significava mais crescimento, mais oportunidades e, a longo prazo, mais estabilidade. Os Estados nacionais, diante dessa lógica, deveriam adaptar-se a um mundo em rede, cedendo parte de sua soberania em nome de uma governança compartilhada e de mercados mais amplos. Essa narrativa, no entanto, começou a ruir silenciosamente ao longo das últimas duas décadas. Os benefícios da globalização se reve...
As contradições internas das democracias liberais: quando a promessa vira ressentimento
Estudos

As contradições internas das democracias liberais: quando a promessa vira ressentimento

Introdução: o liberalismo ferido por dentro Durante décadas, as democracias liberais foram apresentadas como o ponto final da história política. Após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, a combinação entre eleições regulares, economia de mercado e garantias individuais parecia ter se consolidado como o modelo universal de organização social. A promessa era ambiciosa: liberdade política, prosperidade econômica e justiça social em equilíbrio dinâmico. O liberalismo político triunfava não apenas como sistema institucional, mas como narrativa moral — o único horizonte possível de civilização. Contudo, essa promessa não se cumpriu de forma equitativa. Nas últimas décadas, tornou-se evidente que a prosperidade gerada pelo modelo liberal foi distribuída de maneira profu...
A crise das instituições multilaterais: o colapso do centro de gravidade liberal
Estudos

A crise das instituições multilaterais: o colapso do centro de gravidade liberal

Introdução: o colapso silencioso Por muito tempo, a arquitetura institucional criada no pós-guerra foi celebrada como um dos maiores triunfos da razão política moderna. Organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e, mais tarde, a Organização Mundial do Comércio (OMC), foram concebidas como alicerces de uma ordem internacional liberal baseada na cooperação, na regulação multilateral dos conflitos e na promoção da paz e do desenvolvimento. Essa ordem, embora marcada por assimetrias e exclusões, sustentou por décadas uma relativa estabilidade entre Estados, uma expansão do comércio internacional e a consolidação de uma narrativa normativa global: direitos humanos, democracia liberal e economia de mercado como horizonte civ...
Trump e as forças profundas: um sintoma da história, não um homem de Estado
Estudos

Trump e as forças profundas: um sintoma da história, não um homem de Estado

Introdução: o erro de atribuir à personalidade o peso da história Donald Trump costuma ser apresentado como o grande arquiteto da ruptura com a ordem liberal internacional. Para seus detratores, ele é o responsável por desmontar décadas de cooperação multilateral, esvaziar instituições centrais do sistema global e fomentar uma onda de populismo autoritário que se espalhou pelo mundo. Para seus apoiadores, ele teria sido o único capaz de enfrentar o establishment, desafiar a hipocrisia globalista e recolocar os Estados Unidos no centro de seus próprios interesses. Em ambos os discursos, Trump aparece como protagonista absoluto da história recente — um agente transformador, alguém que teria, por força própria, alterado os rumos da política mundial. Mas essa leitura é historicamente mío...