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Energia e fracking: como a vitória de Trump renova o foco nos combustíveis fósseis e seus desafios ambientais

A produção de energia a partir de combustíveis fósseis continua sendo uma questão central nos Estados Unidos, especialmente com a ascensão de políticas pró-fósseis, impulsionadas pela vitória de Donald Trump. Em seu governo anterior, Trump defendeu uma expansão da produção de petróleo e gás natural por meio de tecnologias como a fraturação hidráulica, também conhecida como “fracking”, sob o argumento de que os EUA devem garantir independência energética e fortalecer sua economia interna. Embora essa política traga alguns benefícios econômicos, a fraturação hidráulica levanta preocupações ambientais, sobretudo pela contaminação de aquíferos, emissões de gases de efeito estufa e tremores de terra relacionados ao processo.

A fraturação hidráulica é uma técnica que permite a extração de gás natural e petróleo de rochas subterrâneas, especialmente do xisto, através da injeção de grandes volumes de água, areia e produtos químicos em alta pressão. Essa tecnologia, desenvolvida em meados do século XX, revolucionou a indústria energética norte-americana na última década, tornando os EUA um dos maiores produtores globais de gás natural. De acordo com a Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA), o país passou a produzir mais petróleo e gás natural do que qualquer outro desde 2018, o que reduziu a dependência de importações e impulsionou o crescimento econômico em regiões como Texas, Dakota do Norte e Pensilvânia.

No entanto, o fracking traz impactos ambientais e de saúde pública. O uso intensivo de água e produtos químicos pode levar à contaminação de aquíferos e rios. Estudos da Universidade de Duke, por exemplo, detectaram níveis elevados de metais pesados e radioatividade em águas próximas a locais de fraturação. Além disso, o processo libera metano, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento global muito superior ao do dióxido de carbono em curto prazo, exacerbando as mudanças climáticas. Também há relatos de aumento de tremores de terra em regiões com intensa atividade de fracking, algo que se tem observado em estados como Oklahoma.

Do ponto de vista econômico, porém, os Estados Unidos consideram essa prática essencial para sua segurança energética. A fraturação hidráulica permitiu não apenas a redução do preço da energia no mercado interno, mas também a geração de milhares de empregos diretos e indiretos, especialmente em áreas rurais e economicamente desfavorecidas. A economia norte-americana também se beneficia da exportação de gás natural liquefeito (GNL), fortalecendo sua posição geopolítica no mercado energético global e reduzindo a influência de grandes produtores como Rússia e Arábia Saudita. A retomada de políticas pró-fósseis com a vitória de Trump também responde a pressões de setores da economia dependentes de energia barata, como a indústria petroquímica e de manufatura.

Para a administração Trump, o argumento é que o crescimento econômico e a competitividade internacional dos EUA não devem ser sacrificados em nome de políticas ambientais restritivas. Ele argumenta que, enquanto o país desenvolve suas fontes renováveis, é crucial manter o uso de combustíveis fósseis para garantir energia acessível e segurança energética. No entanto, essas políticas, se ampliadas, podem trazer impactos significativos em metas de sustentabilidade e nas próprias políticas climáticas dos EUA. Os oponentes do fracking e das expansões em combustíveis fósseis argumentam que o país deveria investir mais agressivamente em tecnologias limpas, como solar e eólica, que têm avançado significativamente em eficiência e custo nos últimos anos.

A questão da produção de energia a partir de combustíveis fósseis nos EUA envolve um dilema: de um lado, a necessidade de manter uma economia forte e competitiva, que muitos acreditam passar pelo uso continuado de combustíveis fósseis; de outro, o impacto ambiental e as consequências climáticas de depender de tecnologias poluentes como a fraturação hidráulica. Essa discussão reflete uma escolha estratégica para o país, com implicações econômicas e ambientais de longo prazo, e levanta questionamentos sobre como os Estados Unidos equilibrarão crescimento econômico e sustentabilidade em um futuro próximo.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X

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