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Inteligência Artificial e a queda da popularidade da monarquia britânica

Artigo elaborado pelas pesquisadoras Luiza Preisner, Maria Clara Liguori Martins e Nicole Guazzelli Consentini

A Revolução Gloriosa, a última fase da Revolução Inglesa no século XVII e a ascensão de Guilherme de Orange ao poder da Inglaterra, mudaram a política do Estado. Essa revolução resultou no fim do poder absolutista e implementou uma monarquia constitucional na qual o rei permanecia no trono inglês como chefe de Estado, mas com poderes reduzidos, enquanto um sistema parlamentarista entrou em vigor transformando a função da monarquia real em grande parte simbólica. No entanto, a família real britânica continuou sendo extremamente relevante devido à sua tradição, imagem carismática e caridosa, usufruto de suas estratégias de comunicação, para com seus súditos, influenciando o comércio, economia e gerando turismo na região. É de suma importância, então, a conservação de sua popularidade.

Com o passar do tempo, os meios de comunicação e as estratégias para a conexão com o povo evoluíram. Um exemplo claro disso é o uso de redes sociais e o marketing digital por parte da equipe midiática dos monarcas, que simulam uma falsa proximidade entre a família real e aqueles considerados “meros mortais”. Em séculos passados, no entanto, isso seria impossível de ser feito e não seria bem visto, já que afetaria a imagem de divindade que a monarquia tinha (mais um pilar para a manutenção de seu poder), enquanto, hoje, os torna mais humanos, característica buscada pela maioria da população em seus líderes.

Entretanto, apesar de todas as tentativas da monarquia britânica, a sua popularidade tem caído relativamente entre os jovens principalmente. Segundo uma pesquisa recente da CNN Brasil, 41% dos jovens entre 18 e 24 anos querem um chefe de estado eleito em seu país e defendem o fim da monarquia. Isso se deve a fatores diversos, como o crescente anseio da sociedade por democracia nos dias atuais, e, é claro, o falecimento da Rainha Elizabeth II, que além de reinar por 70 anos era o membro mais conhecido e prestigiado da família real. Assim como o uso de ferramentas digitais de edição usadas em fotos oficiais, que deveriam servir para aproximar a realeza de seus súditos, mas tem o efeito contrário quando a tentativa de manipulação é percebida.  

FIGURA 1: Pesquisa realizada pelo “YouGov” para a BBC, em abril de 2023. https://www.bbc.com/news/uk-65326467

FIGURA 2: Imagem liberada pelo Palácio de Kensington em março de 2024. https://www.dpreview.com/opinion/6670302971/kate-middleton-s-photoshop-manipulation-is-a-wake-up-call-to-the-threat-of-misinformation

Não obstante dá vontade de um poder legítimo, substituindo o tradicional, e da perda de uma das monarcas mais famosas do mundo, o uso de Photoshop e inteligências artificiais (IA) para manipular as imagens oficiais liberadas pelos Palácios de Buckingham e Kensington afetam diretamente a credibilidade e confiança que o povo tem na família real, a qual depende de sua popularidade para se manter relevante.

            Nos últimos meses, diversas teorias vieram à tona após o sumiço da Princesa de Gales, Kate Middleton, que foi afastada em dezembro de 2023 para uma cirurgia abdominal programada e “reapareceu” em 10 de março de 2024, dia das mães no Reino Unido, em imagem publicada pela realeza, porém, essa foi altamente criticada ao exibir sinais de modificações, ou até mesmo indícios do uso de IA nas mãos, cabelos, roupas e sorrisos das crianças, também comparando as expressões faciais delas a imagens anteriormente publicadas.

        Entretanto, em notícias mais recentes, tudo mudou quando, no dia 22 de março de 2024, o Instagram oficial do Príncipe e Princesa de Gales postou um vídeo de Kate trazendo ao público o que realmente aconteceu no período de sua ausência. O verdadeiro motivo de sua cirurgia abdominal, realizada em janeiro do mesmo ano, foi a retirada de um tumor que, então, foi diagnosticado como não cancerígeno porém, em exames posteriores, foram encontrados sinais de que o tumor era, sim, cancerígeno. Consequentemente, a princesa está passando por tratamento preventivo seguindo a retirada do tumor. Kate diz, também, durante o esclarecimento que irá manter-se afastada até que seu tratamento seja concluído.

A notícia surpreendeu a todos, aproximando alguns daqueles que se distanciaram, mas o fato de que a popularidade da família real tem diminuído ao longo do século continua verdadeiro. Nota-se que a evidente perda de popularidade da monarquia está e continuará influenciando contextos importantes no país, principalmente no que se refere a sua relevância no cenário político atual.

Bibliografia:

DULAI, SHAMINDER. Kate Middleton’s Photoshop manipulation is a wake up call to the threat of misinformation. 15 mar 2024. Disponível em: https://www.dpreview.com/opinion/6670302971/kate-middleton-s-photoshop-manipulation-is-a-wake-up-call-to-the-threat-of-misinformation.

CORBIN, J.; COUGHLAN, S. Coronation: How popular is the monarchy under King Charles? BBC News, 23 abr. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/news/uk-65326467

CNN Brasil. Jovens britânicos apoiam cada vez menos a monarquia, diz pesquisa. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/jovens-britanicos-apoiam-cada-vez-menos-a-monarquia-diz-pesquisa/>. Acesso em: 27 mar. 2024.

‌HIGA, Carlos César. “Revolução Gloriosa”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-gloriosa.htm. Acesso em 27 de março de 2024.

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