A Alemanha ocupa uma posição de destaque na União Europeia, desempenhando um papel fundamental na definição das políticas do bloco. No entanto, essa influência crescente levanta questões sobre a natureza de sua liderança e se ela se configura como uma liderança benevolente ou se se aproxima de uma forma de dominação sobre os demais Estados-membros. Este artigo explora essas questões, avaliando se a atuação alemã representa uma liderança legítima ou uma imposição sobre os interesses dos outros países da UE. O objetivo do estudo é examinar as diferentes facetas da atuação da Alemanha na UE, com o intuito de compreender as tensões internas do bloco e os desafios de equilibrar o poder entre os Estados-membros. A pesquisa se justifica pela relevância de entender como essa dinâmica pode afetar o futuro da integração europeia. A metodologia utilizada é qualitativa, baseada em uma revisão de literatura, análise de dados econômicos e políticos e na aplicação de teorias das Relações Internacionais, como a hegemonia liberal, para interpretar a atuação alemã no contexto europeu.
Historicamente, após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental se reconstruiu econômica e politicamente, tornando-se uma das economias mais influentes da Europa. A integração europeia foi considerada uma forma de garantir a paz e a prosperidade no continente, com a Alemanha exercendo papel central na criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1957, embrião da atual União Europeia. A reunificação alemã em 1990 e a expansão da UE para o Leste Europeu nos anos 2000 consolidaram ainda mais a posição de liderança da Alemanha, especialmente com a integração dos países do antigo bloco soviético.
No aspecto econômico, a Alemanha, como a maior economia da UE, responde por aproximadamente 25% do PIB do bloco. Seu modelo econômico, sustentado pela indústria de alta tecnologia e exportação de produtos manufaturados, é essencial para a economia europeia, o que coloca o país em uma posição de influência significativa na formulação de políticas econômicas da UE. Essa liderança econômica foi ainda mais evidente durante a crise da dívida soberana (2009-2014), quando a Alemanha defendeu políticas de austeridade para os pacotes de resgate dos países mais afetados, como Grécia, Portugal e Irlanda, o que gerou críticas sobre o aprofundamento das desigualdades econômicas no bloco.
Politicamente, a Alemanha exerce grande influência nas instituições europeias, como o Conselho Europeu, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia. Sua capacidade de negociação permite a Berlim protagonizar debates sobre temas sensíveis, como reformas institucionais e respostas a crises internacionais. Durante os 16 anos de Angela Merkel como chanceler, a Alemanha mediou crises complexas, como a crise migratória de 2015 e o Brexit, adotando uma postura conciliadora, mas frequentemente alinhada aos interesses nacionais alemães.
A questão sobre se a Alemanha atua como líder ou dominadora também se reflete na percepção dos demais Estados-membros. França, Itália e Grécia criticam o que consideram uma imposição da agenda alemã, especialmente em questões econômicas, enquanto países do Norte e do Leste Europeu, como Polônia e Países Baixos, valorizam a estabilidade que a liderança alemã proporciona. A teoria da hegemonia liberal sugere que uma liderança hegemônica pode estabilizar uma ordem regional, mas corre o risco de ser vista como dominadora, algo que se aplica ao caso alemão.
Em conclusão, o papel da Alemanha na UE é marcado por uma liderança complexa e essencial para a coesão do bloco, mas também vista com desconfiança em momentos de crise. A linha entre liderança e dominação é tênue, e a percepção negativa da atuação alemã é exacerbada nessas ocasiões. O futuro da UE depende de um equilíbrio delicado entre os interesses nacionais e a necessidade de uma liderança forte para promover a coesão e a integração. A Alemanha deve ajustar sua abordagem para evitar ser vista como uma potência dominadora e, assim, reforçar sua legitimidade como líder do projeto europeu.
Referências bibliográficas:
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Artigo elaborado por Luana Moreira e Maria Clara Liguori