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Os Países Nórdicos e a igualdade de gênero: como as políticas públicas de Islândia e Suécia garantem influência no cenário global

O objetivo geral deste artigo é investigar o impacto global das políticas de igualdade de gênero da Islândia e da Suécia, avaliando como essas iniciativas influenciaram reformas em outros países e estabeleceram novos paradigmas internacionais em termos de equidade de gênero.

Enquanto isso, os objetivos específicos do artigo incluem: Analisar as principais políticas públicas de igualdade de gênero adotadas pela Islândia e pela Suécia, bem como avaliar como essas políticas influenciaram outros países, especialmente em termos de igualdade salarial e licença parental. Além disso, esse artigo explora a influência da política externa feminista da Suécia em fóruns internacionais e sua contribuição para discussões globais sobre segurança, paz e direitos humanos. Por fim, o texto deve investigar o impacto dessas políticas no desenvolvimento socioeconômico global, utilizando exemplos de países que adotaram práticas inspiradas na Islândia e na Suécia.

A fim de atingir esses objetivos, a fundamentação teórica do estudo baseia-se em teorias de políticas públicas e estudos de gênero que destacam a relação entre igualdade de gênero, desenvolvimento social e crescimento econômico. Entre as principais referências estão os relatórios do Fórum Econômico Mundial, que consistentemente destacam a Islândia e a Suécia como líderes globais em equidade de gênero, e a Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU, que orienta a inclusão de mulheres em processos de paz e segurança.

A revisão de literatura contempla autores que exploram a relação entre equidade de gênero e desenvolvimento sustentável, como Amartya Sen e Nancy Fraser, além de estudos que abordam a implementação de políticas de igualdade salarial e licença parental na Europa. Também são abordadas as contribuições da política externa feminista sueca, como discutido por teóricos da diplomacia feminista e seus impactos nas relações internacionais.

Quanto à metodologia, a pesquisa adota uma abordagem qualitativa, baseada em análise documental de políticas públicas implementadas pela Islândia e Suécia, bem como uma revisão comparativa de legislações internacionais influenciadas por essas nações. Relatórios internacionais, como o Global Gender Gap Report e documentos da OCDE e ONU, são utilizados como principais fontes de dados. A análise também envolve o estudo de casos de países que adotaram políticas semelhantes, como Nova Zelândia e Canadá, utilizando uma combinação de revisão bibliográfica e análise de conteúdo de documentos governamentais e artigos acadêmicos.

A Islândia tem sido um líder global em igualdade de gênero, frequentemente classificada no topo do Global Gender Gap Report do Fórum Econômico Mundial, que já elegeu a Islândia como o “Melhor País para Mulheres Viverem” por mais de nove vezes. Desde 2009, o país ocupa a primeira posição nesse ranking, em grande parte devido à sua abordagem exemplar em áreas como participação econômica, educação, saúde e, especialmente, representação política. A exemplo disso, a política de igualdade salarial implementada pela Islândia é uma das mais influentes no cenário global (WORLD ECONOMIC FORUM, 2024). Em 2018, o país se tornou a primeira nação a exigir legalmente que empresas comprovem igualdade salarial entre homens e mulheres para funções semelhantes, o que tem sido crucial para reduzir uma das maiores barreiras para a equidade de gênero em todo o mundo (UN WOMEN, 2023). Países como Nova Zelândia e Canadá adotaram políticas semelhantes à legislação de igualdade salarial da Islândia após observarem seu sucesso. A exemplo disso, a Nova Zelândia implementou a Equal Pay Amendment Bill em 2020, fortalecendo a transparência salarial e permitindo reivindicações coletivas de igualdade de pagamento. Similarmente, o Canadá introduziu a Pay Equity Act em 2018, exigindo que empregadores garantam a igualdade de remuneração para trabalhos de igual valor. Com isso, podemos notar que práticas bem-sucedidas da Islândia têm liderado a implementação de verificações legais de equidade salarial ao redor do mundo (HBR, 2021).

Ainda assim, a influência islandesa também se estende ao campo político. Em 1975, o país ganhou atenção mundial com a greve feminista, conhecida como o “Dia de Folga das Mulheres”, quando 90% das mulheres do país pararam de trabalhar para demonstrar a importância da sua contribuição para a sociedade. Cinco anos depois, a Islândia foi o primeiro país do mundo a eleger uma mulher como chefe de Estado, Vigdis Finnbogadottir. Este evento histórico abriu caminho para o aumento da participação feminina em cargos de liderança, não só na Islândia, mas também inspirou movimentos feministas em outras partes do mundo (El País, 2018).

Os esforços contínuos da Islândia em prol da igualdade de gênero são reconhecidos mundialmente, influenciando diretamente o modo como outros países desenvolvem políticas de equidade de gênero. Portanto, hoje entendemos que a Islândia continua a ser um modelo global de inclusão e igualdade, refletindo suas conquistas e mostrando o impacto profundo que políticas eficazes podem ter em outros países  (OCDE, 2024).

Semelhantemente à Islândia, a Suécia tem sido igualmente uma líder global quando o assunto é igualdade de gênero, adotando uma abordagem única ao implementar, em 2014, uma política de “feminismo estatal”  (OCDE, 2024). Essa política integrou a igualdade de gênero em todas as esferas da governança, influenciando áreas que vão desde o mercado de trabalho até o planejamento urbano. Mais importante, a Suécia também se destacou pela sua política externa feminista, que tem gerado influência em fóruns internacionais e serviu de modelo para outros países.

A política externa feminista sueca, lançada sob a liderança da ex-chanceler Margot Wallström, promoveu uma nova visão sobre o papel das mulheres em conflitos armados e em processos de paz, baseada na Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU. Nesse contexto, a Suécia utilizou sua posição nas Nações Unidas e na União Europeia para defender a inclusão das mulheres em negociações de paz e em processos de reconstrução pós-conflito. Essa abordagem tem influenciado países em todo o mundo, especialmente na Europa e nas Américas, que têm revisado suas próprias políticas para incluir uma perspectiva de gênero mais robusta em questões de segurança e defesa (PassBlue, 2022).

Internamente, a Suécia consolidou sua reputação de pioneira em políticas de licença parental com um sistema que permite que pais e mães compartilhem 480 dias de licença parental, sendo 90 dias obrigatórios para cada progenitor, equilibrando as responsabilidades de cuidado entre homens e mulheres. Este modelo foi amplamente replicado em outras partes da Europa, com países como Alemanha e França adotando políticas similares para promover a participação masculina na criação dos filhos (BBC, 2024).

Basicamente, a forte representatividade sueca em fóruns globais têm contribuído para sua influência internacional. A Suécia desempenha um papel fundamental na OCDE e na ONU, defendendo ativamente políticas de inclusão de gênero e utilizando sua experiência doméstica como um exemplo a ser seguido. Além disso, o país tem exercido uma influência significativa na União Europeia, influenciando políticas sobre equidade salarial, direitos das mulheres e inclusão social.

Desse modo, os países nórdicos são exemplos vivos de como políticas públicas eficazes podem transcender fronteiras nacionais e influenciar mudanças globais. As legislações pioneiras de igualdade salarial da Islândia, por exemplo, serviram como base para reformas em países como Canadá e Nova Zelândia. Da mesma forma, a política externa feminista da Suécia tem sido amplamente reconhecida e replicada em discussões internacionais sobre segurança, paz e direitos humanos.

O impacto dessas duas nações no cenário global também se reflete em seus altos índices de desenvolvimento humano e no reconhecimento de que a equidade de gênero é essencial para o progresso econômico e social. Segundo a OCDE, países que promovem igualdade de gênero, como Islândia e Suécia, apresentam melhores índices de crescimento econômico, inovação e bem-estar social (OCDE, 2008). Essas políticas tornam-se não apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para o desenvolvimento sustentável. Considerando a relevância dessa tendência no cenário global atual, elas também se mostram fundamentais para fortalecer o posicionamento dessas nações na arena internacional.

Em suma, movimentos feministas em várias partes do mundo continuam a se inspirar nos avanços da Islândia e Suécia, utilizando suas práticas como um padrão para pressionar por reformas em suas próprias nações. Por exemplo, o movimento pelos direitos das mulheres na América Latina e na Ásia frequentemente cita os países nórdicos como referência para a implementação de políticas de licença parental, creches acessíveis e igualdade salarial.

Assim, Islândia e Suécia não apenas moldaram suas próprias sociedades em termos de equidade de gênero, mas também estabeleceram novos padrões globais, inspirando e influenciando políticas ao redor do mundo. Através de abordagens inovadoras como igualdade salarial, licença parental compartilhada e políticas externas feministas, esses dois países se tornaram faróis de progresso no movimento por igualdade de gênero. O impacto global dessas políticas prova que a equidade de gênero é uma estratégia essencial para o desenvolvimento humano, econômico e social, é um exemplo poderoso de como as nações podem promover a justiça e a inclusão para todos.

Este estudo analisou como as políticas públicas de igualdade de gênero da Islândia e Suécia influenciaram o cenário internacional, estabelecendo novos paradigmas globais. Ao longo do artigo, foi demonstrado que essas duas nações nórdicas não apenas promoveram avanços significativos em suas próprias sociedades, mas também impulsionaram mudanças em diversos países, seja por meio da implementação de igualdade salarial, de políticas de licença parental ou da promoção da participação feminina em processos de paz e segurança.

A Islândia se destacou pela liderança contínua no Global Gender Gap Report e por legislações pioneiras, como a lei de igualdade salarial, que impactou diretamente políticas semelhantes em países como Nova Zelândia e Canadá. A Suécia, por sua vez, adotou uma política externa feminista que influenciou debates internacionais sobre segurança, direitos humanos e inclusão de gênero, além de sua política interna de licença parental, que tem servido de modelo para outras nações europeias.

Ambos os países, ao priorizarem a igualdade de gênero, mostraram que essas políticas não são apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para o desenvolvimento sustentável e para o fortalecimento de sua influência no cenário global. O impacto dessas iniciativas reforça a ideia de que a promoção da equidade de gênero está diretamente associada a ganhos econômicos e sociais, contribuindo para a inovação, bem-estar e progresso humano.

Por fim, Islândia e Suécia continuam a inspirar movimentos e reformas em diversas partes do mundo, reafirmando seu papel como líderes globais na promoção da igualdade de gênero e consolidando sua posição como referências internacionais na luta por uma sociedade global mais justa e inclusiva.

Referências:

A greve geral de mulheres que tornou Islândia o país “mais feminista do mundo”. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151102_islandia_feminismo_hb>

Acesso em: 5 out. 2024.

EUROPEANWAY. Islândia é o melhor país para as mulheres viverem, diz Fórum Econômico Mundial. Disponível em: <https://europeanway.com.br/islandia-e-o-melhor-pais-para-as-mulheres-viverem-diz-forum-economico-mundial>. Acesso em: 5 out. 2024.

Iceland, OECD, disponível em: <https://www.oecd.org/en/countries/iceland.html>. Acesso em: 5 out. 2024.

Licença-paternidade: o país onde o tabu é não aderir ao direito, BBC News Brasil, disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2j9v79l3eo>. Acesso em: 5 out. 2024.

LIECHTENSTEIN, Stephanie. Margot Wallstrom, the Original Feminist Foreign Policy Advocate, Says Countries Need It Now “More Than Ever”. PassBlue. Disponível em: <https://www.passblue.com/2022/10/01/margot-wallstrom-the-first-feminist-foreign-policy-advocate-says-countries-need-it-now-more-than-ever/>. Acesso em: 5 out. 2024.

OCDE, Sustainable Development Report. Disponível em: <https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/9789264055742-sum-pt.pdf?expires=1728564219&id=id&accname=ocid53024226&checksum=8024678C3937EBF21861E3123A12DB8B>. Acesso em: 5 out. 2024.

Progress on the Sustainable Development Goals: The Gender Snapshot 2024, UN Women – Headquarters, disponível em: <https://www.unwomen.org/en/resources/gender-snapshot?gad_source=1&gclid=CjwKCAjw9p24BhB_EiwA8ID5Br4s4PRyZvsJiLNfYePQQOTE_yHfoym08_o02Jnjrb8lgAIF26PvBhoCBjgQAvD_BwE>. Acesso em: 4 out. 2024.

SAHUQUILLO, María R. O dia em que as mulheres paralisaram a Islândia para pedir igualdade. El País Brasil. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/06/internacional/1520367481_905531.html>.  Acesso em: 4 out. 2024.

Sweden, OECD, disponível em: <https://www.oecd.org/en/countries/sweden.html>. Acesso em 7 out. 2024.

Sweden Ranks Among the World’s Best Countries. Disponível em: <https://www.usnews.com/news/best-countries/sweden>. Acesso em: 3 out. 2024.

The world’s first Feminist Government. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.unwomen.org/sites/default/files/Headquarters/Attachments/Initiatives/StepItUp/Commitments-Speeches/Sweden-StepItUp-CommitmentText-201509-en.pdf>. Acesso em: 2 out. 2024.

WAGNER, Ines, How Iceland Is Closing the Gender Wage Gap, Harvard Business Review, disponível em: <https://hbr.org/2021/01/how-iceland-is-closing-the-gender-wage-gap>. Acesso em: 2 out. 2024.

Artigo elaborado por: Daniel Pires Campardo e Mariana Fagundes Esposito

Núcleo de Estudos e Negócios Europeus

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