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Os chineses vêm aí…

A visita presidencial à China, que acaba de acontecer, trouxe promessas de vultosos investimentos dos chineses no Brasil. Como demonstração do apreço deles pelo nosso país, o presidente Temer foi acolhido em uma “visita de Estado”, que é a maior honraria que Pequim concede a uma autoridade estrangeira visitante.

A maioria dos investimentos anunciados tem como parceiros, na China, as empresas estatais, ou seja, a “mão” (ou o braço), dos Governos central e provinciais, o que indica “monitoramento” do processo por Pequim e suas “filiais”. Mas, o que indica isto? Principalmente, que o governo de Xi Jinping ainda olha para o Brasil como um “parceiro estratégico global”, que foi, aliás, o patamar ao qual os dois governos decidiram, em julho de 2014, elevar as relações.E o que é isto?

Este termo tem valor próprio no jargão diplomático: ele significa um relacionamento privilegiado, tal como os chineses nos propuseram em 1993, e que naquele momento qualificamos como uma “parceria estratégica”. Esta se transformou, por sua vez, em “global”, em 2014.

Mas, com a China despontando como a primeira economia mundial dentro de alguns anos, segundo as previsões, será que é ainda bem isto?Ou seja, seríamos, ainda, um parceiro privilegiado para os chineses?

Para nós, esta parceria abarca áreas multifacéticas, a exemplo do nosso projeto bilateral na área de satélites, o “China-Brazil Earth Research Satellites”/CBERS, o primeiro deste formato desenvolvido por países em desenvolvimento, e que monitora a Amazônia. Mas,para os chineses, na verdade o Brasil é principalmente um provedor de “commodities”, entre alimentos (soja, principalmente) e minério de ferro, que vão alimentar a população e fornecer matéria-prima para a sua indústria. Exemplo disto é que a nossa pauta de exportações para a China, no ano passado, foi composta em 82,6% de produtos básicos. Em contrapartida, a das importações incluiu máquinas e materiais elétricos; instrumentos mecânicos; veículos; instrumentos de precisão; e vestuário. A rua 25 de Março, em São Paulo, é a constatação mais evidente disto.

A China pensa, e age, estrategicamente, e a longo prazo. Em termos práticos,ela dividiu o mundo entre provedores de matéria prima e “commodities” (o Brasil e a África são dois deles), a fim de liberar espaços e mão de obra cada vez mais qualificada para ela se concentrar na estratégia de política industrial – “Made in China in 2025” – que o governo aprovou em março deste ano para tornar o país autossuficiente em setores definidos como prioritários, todos eles de tecnologia de ponta. Por exemplo: informação; robótica; máquinas automatizadas; aeroespaço; equipamento naval e ferroviário; veículos e equipamentos elétricos; novos materiais; e biofármacos, entre outros. Ou seja, ela se despede do comércio “barato” e almeja tornar-se um polo de alta tecnologia. Os países altamente industrializados seriam o outro foco: por isto as empresas chinesas estão adquirindo companhias europeias, como a Pirelli, na Itália, e a Volvo, na Suécia.

Para amparar esta estratégia, os chineses investiram, aqui, em 2016, US$11.9 bilhões, em áreas como: aeroportos (Consórcio Rio Galeão); energia (linhas de transmissão de Montes Claros/MG, usinas de Jupiá e Ilha Solteira, Companhia Paulista de Força e Luz/CPFL); grãos (Fiagril); portos(porto de São Luiz); e transporte aéreo (a companhia Azul). Estes setores se encaixam no perfil de relacionamento que definiram para o Brasil dentro da sua política de desenvolvimento. E para assegurar financeiramente tais investimentos, assumiram também participação na área bancária, como é o caso do Banco BBM S.A (80% das ações) e da Rio Bravo Investimentos.

Na China, o Presidente Temer convidou os seus anfitriões a participarem dos leilões que o governo está promovendo no âmbito das privatizações que planeja lançar dentro em breve.

Certo, ou errado???? Bom, ou não, para o Brasil? Será que estaríamos nos “vendendo” para os chineses, que, aliás, já são os nossos principais parceiros comerciais?

Saberíamos lidar com uma cultura – e civilização – muito diferente da nossa? Estaríamos preparados para repensar uma percepção ultrapassada de mundo – Ocidente X Oriente? Não teríamos uma visão reducionista da História – esta tão importante para os chineses- e seus desdobramentos? Estaríamos preparados para conviver com o “Século do Pacífico” que, para muitos, já chegou? Estariam o empresariado, a academia e o próprio governo atentos para esta realidade? Quantas escolas superiores no Brasil formam profissionais que estudaram o Continente asiático como um todo (e não os “grandes” apenas)?

No final das contas, saberemos nos livrar dos “pré-conceitos” com relação à Ásia que alimentam os nossos preconceitos, nos “achatam”, e isolam? Perguntas pungentes…

A entrevista abaixo do Presidente da “Câmara do Comércio e Indústria Brasil-China”, Charles Tang, nos dá uma ideia do que os chineses pretendem nas nossas relações.

Para reflexão…


Chinese companies project investments of US$20 billion in Brazil in 2017

20 March 2017

Chinese companies intend to invest about US$20 billion in purchasing Brazilian assets in 2017, an increase of 68% compared to US$11.9 million invested in 2016, according to the Brazil-China Chamber of Commerce and Industry (CCIBC).

Charles Tang, president of the CCIBC, told daily newspaper Estado de Sao Paulo that there are dozens of Chinese companies now looking to Brazil as a place to invest and that have been analysing the Brazilian market for months.

The list of companies that intend to invest in Brazil, particularly in energy, transport and agribusiness, “there are names as yet unknown to Brazilians, including China Southern Power Grid (http://eng.csg.cn/h5.html), Huaneng (http://www.chng.com.cn/eng/), Huadian (http://eng.chd.com.cn/), Shanghai Electric (http://www.shanghai-electric.com/Pages/Index.aspx#), SPIC (http://eng.spic.com.cn/)and Guodian (http://www.cgdc.com.cn/home.jhtml).”

Although these companies have yet to arrive, others are expanding businesses they already own, most notably China State Grid which in 2016 acquired CPFL, China Three Gorges which hydroelectric plants at auction belonging to state company Companhia Energética de São Pauloand bought the assets of US group Duke Energy.

The China Communications Construction Company (http://en.ccccltd.cn/) acquired construction company Concremat Engenharia e Tecnologia (http://www.concremat.com.br/) andPengxin (http://www.peng-xin.com.cn/eng/) bought a stake in agricultural companies Fiagril (http://www.fiagril.com.br/) and Belagrícola (http://www.belagricola.com.br/).

China’s capital flow to Brazil has been so strong, Chang said, that Brazil has become the world’s second largest destination for Chinese investments in the infrastructure sector, surpassed only by the United States.

A survey carried out by consulting firms AT Kearney and Dealogic showed that Chinese companies spent US$21 billion buying 21 Brazilian companies since 2015.

In the coming months several deals are due to be concluded, including Shanghai Electric paying 3.3 billion reais for the power transmission projects of Eletrosul Centrais Eléctricas, as well as of SPIC, which plans to buy Hidroelectrica de Santo António and CCCC, which is eyeing several assets ranging from construction companies to railways. (macauhub)

Originalmente publicado em https://macauhub.com.mo/2017/03/20/chinese-companies-project-investments-of-us20-billion-in-brazil-in-2017/

Fausto Godoy
Doutor em Direito Internacional Público em Paris. Ingressou na carreira diplomática em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli, Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.