ISSN 2674-8053

Israel, entre o Sionismo e o Imperialismo

Desde o início do ano a Síria tem sido o país mais atingido pela escalada militar israelense, tendo várias cidades atingidas, assim como instalações militares e de infraestrutura sírias, causando a morte de centenas de pessoas e gerando grandes prejuízos econômicos. Essas ações militares israelenses coincidem com o avanço do exército sírio para retomar o controle do país, onde tem alcançado grandes vitórias. Os ataques israelenses em flagrante violação da soberania síria, têm a justificativa de Tel Aviv em estar combatendo bases iranianas em território sírio que ameaçam a sua segurança.

É obvio que essa simples justificativa não dá conta do que realmente está por trás dessas ações. Até porque não se tem conhecimento do estado de guerra entre Israel e Irã. O avanço dos assentamentos israelenses em território palestino, a fixação de Jerusalém (Al Quds) como capital e o assassinato de mais de 60 palestinos no último dia 14 de maio, revelam a verdadeira intensão israelense. Todas essas práticas, aliadas a negativa de Israel em voltar para as suas fronteiras de 1947/48 resultam em uma política imperialista. Não à toa, Israel é constantemente criticado pela comunidade internacional, incluso a ONU, pelo uso excessivo da força contra os palestinos e pela usurpação de terras estrangeiras.

Nos últimos anos Israel tem tido êxito em se impor no contexto conturbado do Oriente Médio, isso graças a parceria com a OTAN. A postura de “linha auxiliar” na luta ocidental pelo petróleo árabe, tem gerado para Israel o bônus de poder se expandir. A eliminação paulatina de seus inimigos históricos, Saddan Hussein e Muammar Al Gaddafi, e o enfraquecimento dos movimentos de resistência palestinos, proporcionou à Israel uma crescente na sua linha militar, embora o fortalecimento do Irã e do Hazbolah sejam contrapontos significativos. As últimas ações bélicas israelenses têm recebido um respaldo anglo-estadunidense há muito não visto. A administração Trump, a OTAN e até a Arábia Saudita, onde o príncipe herdeiro Mohamad Bin Salman, tem feito declarações elogiosas a Israel demonstra que Tel Aviv continuará a ser usada como uma “cabeça-de-ponte” do imperialismo ocidental na região.

As diferenças étnicas e religiosas que já pautaram o debate sobre a existência do Estado de Israel, hoje parecem superadas pela dinâmica geopolítica imposta pela OTAN no Oriente Médio em virtude do petróleo. Isto é, um Israel que respeitasse as fronteiras de 1947/48 e abandonasse o terrorismo de Estado, provavelmente seria bem aceito pelos seus vizinhos árabes. Podendo gozar de relações se não fraternas, pelo menos respeitosas, dentro de uma conjuntura de paz coletiva, já que o terrorismo global (Novo Califado) parece ter como inimigo principal os estados seculares árabes e não mais os judeus como em tempos remotos. A insistência israelense em ser um ente agressor no Oriente Médio impõe à sua sociedade restrições desnecessárias, que só alimentam a fração “política-militar-terrorista” dirigida pelos sionistas.

A agenda reacionária que o sionismo tem imposto ao Estado de Israel não tem sido positiva para que a concórdia se estabeleça na região, basta vermos que mesmo depois de anos de ações militares israelense no Líbano, o Hezbolah sagrou-se vencedor das eleições neste ano, sendo assim, o radicalismo está ganhando corpo como ação reversa ao intervencionismo israelense. O mesmo acontece junto aos palestinos, que cada vez estão mais descrentes com Israel, veem a linguagem militar como única saída. A constante repressão à Palestina não tem nada haver com ações de segurança preventiva, pelo contrário, faz parte da movimentação sionista para estabelecer a “Grande Israel”, plano de expansão territorial e de extinção de etnias, dentro do contexto racista.

O Plano Yinon tem por consigna o expansionismo sionista sobre o Oriente Médio, seguindo suas escrituras sagradas a fim de edificar a “Grande Israel”. Tal plano remete ao nome do ex-assessor de Ariel Sharon, o diplomata Odeb Yinon, autor dessa teoria no final da década de 1970. Para tanto, Israel tem apoiado cabalmente o plano de “balcanização” da Síria e do Iraque, assim como, ajudado as forças curdas na sua luta contra a Turquia, Síria e Iraque. Conforme as forças sírias avançam sobre as áreas controladas pelos terroristas, mais armas de origem israelense têm sido encontradas, principalmente ao sul de Damasco onde operava a Frente Al Nusra, evidenciando o apoio israelense ao projeto de destruição do Estado sírio.

Israel, por seus interesses políticos e econômicos, tem participado a muito tempo dessa espécie de “internacional do terror”, não à toa esteve livre dos ataques terroristas que vitimaram várias capitais europeias, asiáticas e os Estados Unidos nos últimos anos. Os ataques à Síria feitos por Israel, justamente quando o governo Bashar Al Assad parece encontrar o caminho da vitória podem ser encarados como parte desse apoio israelense aos terroristas, que tem dificultado o estabelecimento da paz na Síria e no Iraque. A aproximação de Israel e Arábia Saudita, também evidencia um cenário de “paz de compromisso”, onde o apoio aos movimentos terroristas necessariamente farão parte da base desse relacionamento.

O cenário de paz a curto e médio prazo no Oriente Médio é remoto, contudo, a estabilidade da Síria levará invariavelmente à estabilidade do Iraque e o surgimento de uma aliança importante envolvendo esses dois países. A Turquia que tenta se impor na região por fora do contexto da OTAN, pode ser um entrave para o expansionismo israelense, gerando um problema a mais para os Estados Unidos. No mesmo contexto, o Irã trabalha frontalmente para se tornar decisivo no Líbano e na Palestina. Israel se continuar com o seu expansionismo não alcançará a tão merecida paz, e nem tão pouco permitirá que o Oriente Médio a tenha.

Os movimentos terroristas que desestabilizam a região são artificiais, são fabricados em Washington e em Londres, por isso não serão um fator determinante por mais tempo. Israel precisa rever os seus conceitos, pois um pan-arabismo mais consequente pode ressurgir na região e se transformar de fato em uma ameaça à existência de seu Estado. As guerras do Afeganistão e Iêmen são os próximos desafios da OTAN, que cada vez mais é posto em xeque pela aliança de Rússia e China.

João Claudio Platenik Pitillo
João Claudio Platenik Pitillo é professor de História licenciado pela UERJ, mestre em História Comparada pela UFRJ e doutorando em História Social pela UNIRIO. Como membro do NUCLEAS-UERJ (Núcleo de Estudos das Américas) pesquisa os processos revolucionários latino-americanos do século XX a partir do conceito de "Nacionalismo Revolucionário". No âmbito das Relações Internacionais estuda o advento do “Terrorismo Global” e o surgimento do “Novo Califado”. Como especialista em Segunda Guerra Mundial pesquisa e escreve sobre o Exército Vermelho e a importância da Frente Leste para o contexto geral da Guerra.