ISSN 2674-8053

A fraca participação brasileira nos BRICS

Líderes dos BRICS na 13ª Cúpula (foto Alamy)

O início de setembro marcou o aniversário de 15 anos dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o que foi registrado na 13ª Cúpula dos BRICS. O evento passou desapercebido pela maior parte da imprensa brasileira, o que demonstra a pouca relevância que o bloco tem recebido por parte do governo brasileiro. Esse baixo interesse leva a uma grande perda de potencial para a política externa brasileira.

Alguns números para ilustrar a relevância dos BRICS para o mundo: os países que formam o bloco representam mais de 40% da população mundial e quase 25% do PIB global . Além destes números, também chama a atenção a diversidade geográfica dos países-membros, com presença em todos os continentes.

O bloco tem uma agenda importante, com cooperação setorial em mais de 30 áreas, com destaque para promoção comercial, energia, inovação, saúde, educação e tecnologia. Também conta com um banco próprio para financiamento de projetos, o Novo Banco de Desenvolvimento. Para se ter uma ideia, o Banco já disponibilizou mais de 8 bilhões de dólares para projetos de infraestrutura.

Ao longa da história dos BRICS as exportações brasileiras cresceram mais de 125% nesse período. Quando consideradas as exportações intra-bloco (entre os países membros), o crescimento foi de 293%,significando um valor acumulado de 355 bilhões de dólares.

Esses números seriam suficientemente legítimos para demandar uma maior atenção do governo brasileiro em relação ao bloco e seu futuro. O potencial econômico, sobretudo considerando o perfil dos demais membros do bloco e a pauta exportadora brasileira, é imenso. Mas não deveríamos dar uma atenção especial ao bloco apenas por isso.

Há também razões políticas importantes que justificariam uma maior atenção do governo brasileiro em relação ao bloco. Claramente o mundo está passando por um movimento de rearranjo da ordem internacional. O sistema dominado pelos Estados Unidos e pela União Europeia já mostra limites importantes.

A China busca um posicionamento cada vez mais protagonista no sistema internacional (aliás, busca um reposicionamento, já que foi muito importante em outros momentos históricos). A Índia ainda não chama a atenção de muitos analistas, mas não demorará a também buscar um lugar mais proeminente do cenário internacional. A Rússia é um país que está sendo pressionado nos últimos anos, mas que guarda relevância estratégica. A África do Sul é um dos mais importantes Estados do continente africano, com potencial influenciador sobre os destinos da região.

Com isso, vemos que o Brasil tem o privilégio de estar sentado em uma mesa com outros países com grande potencial de influência nas relações internacionais. Lembremos que é mais do que uma mesa de diálogo, é um espaço de construção de projetos e de busca por moldagem do sistema internacional. Perder esse espaço é algo que não podemos continuar a fazer.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X