ISSN 2674-8053

Crise Energética na Espanha

Por Helena Francesconi e Maria Toffano

Preço da energia elétrica bate recordes na Espanha e chega a ultrapassar 180 euros por megawatt hora. A crise energética é uma realidade presente em todo o mundo, e não é diferente na Europa. Diante deste cenário, a Espanha está envolvida em uma tendência global de busca por energias renováveis perante a taxação de fontes energéticas fósseis emissoras de dióxido de carbono. Porém, o consumo energético continua alto demais para ser suprido apenas por energias limpas, o que fez com que o país buscasse outras matrizes, resultando em um aumento de 34,9% do preço da energia em relação ao ano anterior, amplificando também as tensões políticas.

A Espanha praticamente não produz gás natural e suas reservas são insignificantes, por isso depende da importação para atender sua demanda, além de ser um dos países na Europa que mais depende do gás natural para produzir eletricidade. Conforme o The World Factbook – CIA, em 2017 a Espanha consumiu aproximadamente 31,27 bilhões de metros cúbicos, estando logo atrás do Brasil com 34,35 bilhões de metros cúbicos, ao comparar a extensão e população dos dois países é possível entender como o gás tem protagonismo no território espanhol. Estando em uma posição de sensibilidade devido a sua pobreza energética, a Espanha chegou até a requisitar alterações nas regras que fixam os preços de energia na União Europeia, as quais não foram atendidas. As principais fornecedoras para a região espanhola são a Endesa, Iberdrola e Naturgys, as quais fornecem energia, principalmente, derivada de fontes renováveis, nucleares e fósseis. Entretanto, quando a demanda é muito alta, elas utilizam o gás para complementar, resultando em um preço mais elevado, uma vez que a Espanha praticamente não produz gás e importa principalmente da Argélia (52% das importações), do Qatar e da Nigéria.

Este cenário crítico financeiro gerou tensões políticas, já que o atual primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi acusado de não agir para evitar a alta nas contas, fazendo com que indivíduos de sua coalizão, como a ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, pedissem maior intervenção governamental sobre a economia. Diante desta conjuntura, há um grande movimento por parte dos espanhóis contra o aumento dos preços da energia.

Para solucionar o polêmico disparo do preço da energia e desacelerar os problemas ambientais, o governo espanhol age com a meta de aumentar a inclusão de energia solar e eólica, para não depender do crescente custo do gás natural e de licenças que a União Europeia exige para a queima de carbono, os conhecidos “Certificados de Carbono”. Esses certificados, que buscam desestimular as emissões de gases ligados ao efeito estufa, dão o direito de liberar o dióxido desde que se pague por tonelada emitida, o que agrava cada vez mais a situação dos preços. Conforme uma pesquisa da Bloomberg NEF, é mais proveitoso para a Espanha realizar a troca para fontes de energia limpas do que insistir nos combustíveis fósseis.

Enquanto isso, o governo espanhol continua com novas medidas para atravessar esta crise. Sánchez compartilhou que o Conselho de Ministros vai aprovar a redução do imposto especial sobre a eletricidade de 5,1% para 0,5%. Também para atenuar as consequências negativas, o imposto sobre valor acrescentado (IVA) sobre a eletricidade foi diminuído de 21% para 10%. O primeiro-ministro ainda alegou que a Espanha deve continuar protegendo os consumidores vulneráveis e que é preciso uma modernização do mercado da energia. Assim, levando em consideração as mudanças climáticas e as novas leis ecológicas, a Espanha continua lidando com sua instabilidade energética enquanto busca implementar uma matriz renovável.

Referências

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