Karen Alves Andersson & Laura Rana Rossi
A Dinamarca e sua política anti-imigração, que busca “ser um país sem sociedades paralelas e sem guetos até 2030”, vem sofrendo muitas críticas por parte de organizações de direitos humanos e pela própria ONU por suas duras políticas sobre os refugiados e a xenofobia ao lidar com imigrantes no país, principalmente com os muçulmanos.
Apesar da Dinamarca ser conhecida como um país que oferece à sua população princípios básicos de uma sociedade bem desenvolvida e progressista – como baixa desigualdade social, segurança, educação e saúde de qualidade, estes são discursos vindos do próprio governo que se dizem estar determinados a atingir a marca de “zero refugiados” e serão uma população “limitada a ocidentais”. Estas são falas de um plano nacional, anunciado oficialmente em 2020, que visa extinguir os bairros de baixa renda, nos quais moram principalmente refugiados e imigrantes muçulmanos. Segundo Özlem Cekic, ex-deputada curda do Parlamento Europeu e uma das primeiras mulheres muçulmanas a entrarem no Parlamento Dinamarquês, este projeto de lei é “contraproducente”, já que os imigrantes e muçulmanos residentes do bairro também são parte da classe trabalhadora.
Como exemplo de que as políticas imigratórias dinamarquesas têm se tornado cada vez mais rigorosas com o passar dos anos, em 2020, apenas 600 pessoas receberam asilo no país. Portanto, esse dado mostra que as políticas de imigração e o discurso de “não ocidentais” aumentaram, já que em 2015 durante a crise de refugiados na Europa, mais de 10.000 pessoas foram acolhidas no país. Entre os anos de 2015 e 2016, cerca de 2,5 milhões de refugiados, principalmente da Síria e países africanos, cruzaram as fronteiras e fizeram o pedido de refúgio à UE. A Turquia e o Paquistão também receberam grande parte dos refugiados sírios, mas o bloco europeu acaba sendo mais abordado e priorizado pela mídia global.
Atualmente, há mais de 1.200 imigrantes sírios sob risco de deportação pelas autoridades dinamarquesas. No entanto, estas alegam que a Síria já não oferece mais riscos aos seus cidadãos, ao contrário do que afirma a União Europeia, que reitera a importância de cessar o envio de pessoas de volta a países em conflito. Esta fricção de interesses entre a Dinamarca e a EU pode se agravar, caso a mencionada política com o objetivo de atingir “zero refugiados” seja mantida. Josep Borrell, chefe de políticas externas da União Europeia (señor PESC), afirmou que os “sírios deportados podem enfrentar recrutamento forçado, detenção indiscriminada, desaparecimentos, tortura, violência física e sexual”, o que pode ser interpretado como uma fala direcionada ao país escandinavo.
Assim, ao considerarmos o crescente movimento xenófobo na Dinamarca, desde 2015 e as restritivas políticas de imigração implementadas pela mesma, observa-se uma nítida disparidade de condutas e posicionamentos em relação a seus países vizinhos, a Alemanha e a Suécia, que recebem cerca de dez vezes mais refugiados que os dinamarqueses. Portanto, se essas políticas direcionadas a uma atuação mais individualista e divergente no cenário europeu forem mantidas pela Dinamarca, pode se argumentar que conflitos entre o país com a União Europeia estão propícios a acontecer. Para termos noção mais claramente do tamanho (em população) desses países: a Dinamarca possui cerca de 5,4 milhões de habitantes, a Alemanha (que é o país mais populoso e que mais recebeu refugiados na Europa) tem aproximadamente 83 milhões de pessoas e a Suécia possui um pouco mais de 10 milhões de residentes.
Referências
• “Dinamarca aprova lei que lhe permite pagar terceiros países para ficarem com refugiados”. O globo, 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/sob-criticas-dinamarca-aprova-lei-que-lhe-permite-pagar-terceiros-paises-para-ficarem-com-refugiados-25046179
• Péchy, Amanda. “Primeiro mundo? Como a Dinamarca vai desmantelar comunidades de imigrantes” Veja, 2020. Disponível em https://veja.abril.com.br/mundo/primeiro-mundo-como-a-dinamarca-vai-desmantelar-comunidades-de-imigrantes/
• Truc, Olivier. “Extrema direita dinamarquesa cultiva uma xenofobia deliberada”. Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0902200604.htm
• Nielsen, Nikolaj. “Denmark threatens Syria deportations amid EU concerns”. Eu Observer. Disponível em: https://euobserver.com/migration/151528
• Murray, Adrienne. “Denmark asylum: The Syrian refugees no longer welcome to stay”. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-europe-57156835
• McKernan, Bethan; Swash, Rosie; Kelly, Annie. “Denmark could face legal action over attempts to return Syrian refugees”. The Guardian, 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/global-development/2021/jul/29/denmark-faces-legal-action-over-attempts-to-return-syrian-refugees
• Burnett, Stephanie. “Dinamarca Quer Menos Moradores ‘Não Ocidentais’ Em Bairros Pobres” | DW | 29.03.2021.” Deutsche Welle. Disponível em: www.dw.com/pt-br/dinamarca-quer-menos-moradores-n%C3%A3o-ocidentais-em-bairros-pobres/a-57039616