ISSN 2674-8053 | Receba as atualizações dos artigos no Telegram: https://t.me/mapamundiorg

Tentativa de Dodik de criar um exército próprio sérvio traz questões do passado dos Balcãs à tona

Po: Gustavo Cunha, Matheus Colucci e Victor Ilic

Na última semana de setembro (27), um dos líderes da presidência da Bósnia, de origem sérvia, Milorad Dodik, disse que iria formar seu próprio exército. “Vamos retirar nosso acordo sobre o exército conjunto da Bósnia […] vamos propor, para uma tomada de decisão nos próximos dias […], a formação do exército da República Srpska”. Dado o exposto, é de se esperar que a tensão cresça entre os demais integrantes da liderança do país, composta por um croata e um bósnio muçulmano.

Vale ressaltar que a Bósnia foi palco de grande estabilidade após o fim da URSS e a dissolução da Iugoslávia. A região dos Balcãs, que concentrava diferentes etnias, sofreu com a Guerra da Bósnia, a qual terminou com o Acordo de Paz de Dayton, responsável por dividir o país em uma entidade croata-bósnia e uma sérvia, unidas por um governo central. Assim, o poder executivo na Bósnia Herzegovina é atualmente estabelecido por três pessoas, para que todas as três nacionalidades dos povos que compõem o país sintam-se representados. Por isso, além de Dodik, há também Sefik Dzaferovic, de origem Bósnia e Zeljko Komsic, um croata de centro esquerda, como chefes do executivo e comandantes das forças armadas comuns, estabelecidas em 2006 e consideradas essenciais para a preservação da estabilidade e integridade atual da região.

 Sendo assim, fica evidente o motivo dos outros líderes não terem ficado contentes, afinal, dadas as diferenças culturais e divisão política, é um motivo de preocupação quando um dos chefes do executivo alega a criação de um exército próprio, que pode causar grande instabilidade na nação, e que segundo as palavras de Komsic, “é um ato criminoso de rebelião”.

 E, para somar à frase de Dodik, vale ressaltar que os políticos sérvios boicotaram suas atividades legais em julho devido a introdução de uma lei sugerida pela ONU, que caracterizaria como crime aqueles que se demonstrarem contrários, ou considerarem inexistente, o genocídio na Bósnia. Fato esse que corroborou para uma discordância entre a população no meio deste ano de 2021.

Os boicotes e a decisão de Dodik de criar um exército próprio, vão contra a declaração deste, após assumir o cargo em 2018, quando disse que pediria à União Europeia (UE) a concessão de status de país candidato a entrar no bloco. Essas medidas atuais do governo sérvio podem ser grandes impasses para a negociação de adesão do país no bloco, deixando a Bósnia Herzegovina em uma posição desfavorável perante outros países dos balcãs que também buscam a adesão.

Portanto, é visível que o país, mesmo depois de muitos anos do fim dos conflitos após o desmembramento da Iugoslávia, ainda possui tensões internas entre as diferentes nacionalidades que ali convivem. Além disso, o sistema de governo vigente, no qual há representantes sérvios, bósnios e croatas, se demonstra desgastado, já que os líderes estão em constante desalinhamento sobre diversas questões, como o próprio massacre dos bósnios que aconteceu entre os anos de 1992 e 1995. Ademais, esses problemas internos podem dificultar a entrada da Bósnia na UE, um desejo antigo do país.

Fontes:

Novo governo da Bósnia toma posse com dois nacionalistas e um progressista. G1. Data da notícia: 21 de novembro de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/11/20/novo-governo-da-bosnia-toma-posse-com-2-nacionalistas-e-um-progressista.ghtml. Acesso em: 10 de outubro de 2021.

Partidos sérvios da Bósnia anunciam boicote às principais instituições. Estado de Minas. Data da notícia: 26 de julho de 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/07/26/interna_internacional,1290075/partidos-servios-da-bosnia-anunciam-boicote-as-principais-instituicoes.shtml. Acesso em: 10 de outubro de 2021.

Sérvios da Bósnia querem formar seu próprio exército. Estado de Minas. Data da notícia: 28 de setembro de 2021. Disponível em: 2021.https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/09/28/interna_internacional,1309593/servios-da-bosnia-querem-formar-seu-proprio-exercito.shtml. Acesso em: 10 de outubro de 2021.

Núcleo de Estudos e Negócios Europeus
O Núcleo de Estudos e Negócios Europeus (NENE) está ligado ao Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI) da ESPM-SP. Foi criado considerando a necessidade de estimular a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana a compreender melhor suas relações com os europeus, buscando compreender e aprofundar a Parceria Estratégica Brasil – União Europeia.