Por Karen Laura e Luísa Ambrósio
Desde os primeiros momentos conflitantes entre Rússia e Ucrânia, já era de senso comum que uma possível guerra causaria um tremor na ordem geopolítica contemporânea. Com o estourar da conflagração foi possível notar os impactos que começaram a surgir nas dimensões econômicas, políticas e sociais de todo o mundo, em especial nos países Balcãs.
As consequências são muitas, mas existe um ponto específico que impacta diretamente os rumos do conflito: a questão energética. Os países europeus estão entre os maiores importadores de combustíveis fósseis russos, fundamental para a geração de eletricidade e funcionamento das fábricas, principalmente durante o inverno severo que os países enfrentam. Isto posto, com o decorrer da guerra, os Estados se depararam com uma forte crise energética oriunda das sanções aplicadas aos russos. Os países dos Balcãs ocidentais se encontram em uma situação crítica, buscando fortalecer os laços econômicos regionais e recorrendo à ajuda à UE, devido ao potencial de escassez de alimentos e energia.
Nesse sentido, é imprescindível compreendermos a influência da crise energética no cenário europeu. Segundo Samir Bazzi, professor de Administração Financeira no UniCuritiba, a energia representa cerca de 26% dos custos da indústria metalúrgica, 19% da produção química básica, 18% da fabricação de vidro, 17% da produção de papel e 15% de uma indústria de materiais de construção e que os fechamentos de grandes empresas podem trazer danos a longo prazo para a base industrial da Europa. O professor também afirma que os economistas preveem que o continente está prestes a entrar em uma profunda recessão.
Já no que se refere à Sérvia e Kosovo, a Rússia está sendo um ator influente para que um plausível embate ocorra, vendo Kosovo como um viável alvo, ao mesmo passo que a Guerra da Ucrânia vem reacendendo brasas adormecidas nos sérvios, que foram alvos de bombardeios da Otan no final dos anos 1990 durante a Guerra do Kosovo. A população, dividida entre o eurocentrismo e a influência russa, tem se manifestado em grande parte pró-Rússia uma vez que a defesa russa as repúblicas independentes na Ucrânia e o combate dos fundamentos neonazistas do governo ucraniano é relacionado ao interesse dos sérvios de exigir o retorno de Kosovo ao seu controle. Apesar do esforço do presidente Aleksandar Vučić de unir a Sérvia à União Europeia e melhorar sua relação com os EUA, o país ainda é um grande aliado da Rússia, na medida em que negou a aderir às sanções ocidentais contra Moscou.
Tendo em vista o âmbito dos negócios, a guerra da Ucrânia vem trazendo novas oportunidades para alguns países, como a Grécia. O país helênico e a Rússia compartilham profundos laços históricos, econômicos e culturais centrados na religião ortodoxa, comum entre os dois países. Os gregos estão entre os poucos europeus que pretendem manter laços econômicos com a Rússia, entretanto, o adormecido Porto de Alexandrópolis que assumiu um papel central no aumento da presença militar dos EUA no Leste Europeu para conter a agressão russa à Ucrânia, vem enfurecendo o Estado russo.
Nesse contexto, é importante destacar o crescimento econômico na Grécia que, após 12 anos de vigilância reforçada das suas contas públicas pela União Europeia, vem apresentando um aumento impressionante na previsão de crescimento econômico. Segundo o ministro das Finanças grego, Khristos Staikuras, a economia da Grécia crescerá 5,9% do PIB, este ano, mais do que os 3,6% estimados para 2021. Esse fator é significativo, visto que desde 2010, o país pressionado pelo mercado pela sua dívida pública, tem providenciado diversas tentativas e planos para resgatar sua economia, que até então não apresentaram sucesso.
Lato sensu, a Guerra da Ucrânia está tendo um papel de extrema visibilidade na geopolítica contemporânea, apresentando desafios sociais, econômicos e políticos para os Balcãs, intensificando determinados embates internos. Entretanto, no decurso do conflito alguns Estados, como a Grécia, estão procurando oportunidades, diante dessa calamidade, para ascenderem seu poder econômico, em setores que até então não estavam em suas soberanas circunstâncias.
Referências:
“Como a Guerra Na Ucrânia Fez Um Porto Na Grécia Renascer E Enfureceu a Turquia E a Rússia.” Estadão, 12 Sept. 2022, www.estadao.com.br/internacional/como-a-guerra-na-ucrania-fez-um-porto-na-grecia-renascer-e-enfureceu-a-turquia-e-a-russia/. Accessed 24 Sept. 2022.
“Kosovo Pode Ser a Próxima Guerra Da Europa.” O Antagonista, 1 Aug. 2022, oantagonista.uol.com.br/mundo/kosovo-pode-ser-a-proxima-guerra-da-europa/. Accessed 24 Sept. 2022.
Pędłowski, Marcos. Guerra Na Ucrânia Reacende Brasas Adormecidas Na Sérvia, No Que Pode Ser O Prenúncio de Novas Chamas Nos Balcãs. 6 Mar. 2022, blogdopedlowski.com/2022/03/06/guerra-na-ucrania-reacende-brasas-adormecidas-na-servia-no-que-pode-ser-o-prenuncio-de-novas-chamas-nos-balcas/. Accessed 24 Sept. 2022.
Redação. “3 Países Dos Balcãs Vão Trabalhar Para Evitar Escassez de Alimentos E Energia.” G7 News, 2 Sept. 2022, g7.news/noticias/2022/09/02/3-paises-dos-balcas-vao-trabalhar-para-evitar-escassez-de-alimentos-e-energia. Accessed 24 Sept. 2022.
Renascença. “Putin Encontrou-Se Com Líder Bósnio-Sérvio Que Apoia a Guerra Na Ucrânia – Renascença.” Rádio Renascença, 20 Sept. 2022, rr.sapo.pt/noticia/mundo/2022/09/20/putin-encontrou-se-com-lider-bosnio-servio-que-apoia-a-guerra-na-ucrania/300509/. Accessed 24 Sept. 2022.
Taylor, Alice. “Open Balkan Leaders Call for EU Help with Looming Energy Crisis.” Www.euractiv.com, 2 Sept. 2022, www.euractiv.com/section/enlargement/news/open-balkan-leaders-call-for-eu-help-with-looming-energy-crisis/. Accessed 24 Sept. 2022.
“Visão | Grécia Sobe Previsão de Crescimento Económico Para 5,3% Em 2022.” Visão, 12 Sept. 2022, visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2022-09-12-grecia-sobe-previsao-de-crescimento-economico-para-53-em-2022/. Accessed 24 Sept. 2022.