Por Beatriz Albino dos Santos e Cristina Sesso
As transformações socioeconômicas decorrentes da Primeira Guerra Mundial, fizeram com que movimentos políticos de caráter nacionalista chegassem ao poder na Itália do século XX. Um contexto em que se firmavam profundas crises econômicas em território alemão e italiano, decorrente dos entraves da Grande Guerra, fez com que fosse estabelecida uma rede de oportunidades políticas, culturais e sociais, sendo rapidamente preenchidas pelo movimento fascista. Assim, os acordos de paz consolidados em Versalhes foram vistos, para muitos nacionalistas italianos, como indevidos, em decorrência da ideia de que seus esforços como nação durante a guerra não foram compreendidos, em uma perspectiva de seu triunfo ao lado da Tríplice Entente.
Em vista disso, fora estabelecido o ressentimento da “crise na vitória”, que possibilitou através da crescente crise socioeconômica, a ascensão do Partido Nacional Fascista ao poder, e, consequentemente, de Benito Mussolini. Sob esse viés, após ser considerado ilegal, o fascismo histórico deixou de ser amplamente abordado em assuntos internacionais, através da implementação de um sistema político de democracia representativa e pluralista na Itália, país em que ocorreu o triunfo do liberalismo, em uma definitiva ascensão do modelo capitalista. Deste modo, no século XXI, o neofascismo passa a ser abordado e temido, perante sua semelhança com partidos de extrema-direita.
Nesse contexto, com as raízes fascistas ainda presentes em cenários atuais, , o resultado das eleições italianas mostrou a ascensão de um partido de extrema direita chamado Fratelli d’Italia, ou seja, Irmãos da Itália, que fez com que ocorresse a coalização da direita chegar a 50% na Câmara e no Senado. . Esse partido nasceu no vácuo de uma esquerda sem disposição, distante do povo e dividida. Os Irmãos da Itália trazem uma ideia de neoliberalismo, apoio à OTAN, culto à guerra e repúdio ao Iluminismo. Mesmo negando qualquer tipo de relação com o fascismo presente no país no século passado, os membros do partido não se opõem à continuidade da direita neofascista do pós-guerra, com o intuito de inseri-la em uma corrente mais ampla e de maior legitimidade para governar um Estado da Europa Ocidental. Alguns aspectos fascistas, que dificilmente poderiam ser repetidos no presente, como por exemplo desprezo aos direitos humanos, são condenados pelos Irmãos da Itália, contudo, outras referências ideológicas básicas permanecem. Assim, através do triunfo da extrema-direita nas eleições italianas, a aliança ultraconservadora deve formar um novo governo no país, com Giorgia Meloni, possivelmente, se tornando a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Itália, bem como a primeira representante da extrema-direita a liderar o Executivo desde a Segunda Guerra Mundial.
Portanto, sendo o partido Nacionalista Irmãos da Itália o mais votado, pode acabar gerando um receio de empresas ao se instalarem futuramente no país. A adesão do Fratelli d’Italia ao paradigma neoliberal anda de mãos dadas com seu apoio ao equilíbrio orçamentário como limitação da ação governamental. Além disso, o partido apresenta-se como um membro hostil ao desenvolvimento federalista da UE, comparando muitas vezes o bloco com a URSS, uma jaula que “oprime” seus membros. Essa postura do partido de extrema direita aumenta a desconfiança e incerteza no governo e no futuro do mercado do país, afastando possíveis novos entrantes no mercado italiano.
Referências
FERRARI, F. Quem são os fascistas que podem dirigir a Itália. Outras Palavras.Disponível em: https://outraspalavras.net/direita-assanhada/quem-sao-os-fascistas-que-podem-dirigir-a-italia/ Acesso em 22 de setembro de 2022.
SANÇÕES DA EU CONTRA A RÚSSIA EXPLICADAS. (n.d.). Europa.Eu. Diponível em: https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/sanctions/restrictive-measures-against-russia-over-u kraine/sanctions-against-russia-explained/ . Acesso em 19 de setembro de 2022.