Artigo elaborado por Giulia Ornellas e Vitor Saatkamp
No dia 4 de maio de 2022, foram convocadas eleições gerais na Bósnia Herzegovina para o dia 2 de outubro, causando desavenças por parte dos croatas bósnios, habitantes da região, que vem se mostrando insatisfeitos com a eleição dos seus representantes e denunciam “ameaça para a paz”. Atualmente, a Bósnia compartilha de uma presidência colegial tripartida entre bósnios (muçulmanos), que representam cerca de 46% dos 3,5 milhões de habitantes; sérvios (ortodoxos), perto de 35% da população; e croatas (católicos), cerca de 15%. Esse sistema sempre apresentou grandes dificuldades devido a divergências internas. Nesse sentido, com a comunidade croata representando a menor parte dos habitantes, fica clara a sua insatisfação com o governo.
Com suporte da União Europeia e dos Estados Unidos, foram iniciados protestos no país a favor de uma reforma eleitoral pelos partidos políticos dos croatas-bósnios, mas sem sucesso. Enquanto os croatas bósnios desejam um sistema em que possam eleger um representante legítimo de presidência, os bósnios lutam contra o reforço das divisões e contra a segregação política dos grupos. Dessa forma, as eleições convocadas no dia 4 buscam eleger novamente os três membros da tripartição, bem como os parlamentares, o presidente da entidade sérvia bosníaca e os deputados que formam a federação, divididos entre bósnios e croatas.
Em uma carta feita à comunidade internacional, o chefe político representante dos croatas bósnios, Dragan Covic, menciona que “a paridade e igualdade dos direitos” são essenciais e condicionais para a estabilidade na política bosníaca e para selar um possível “acordo de paz” entre os grupos políticos, já que atualmente, além de existir essa divergência política dentro do parlamento, há também uma restrição nos direitos de certas comunidades da Bósnia que são proibidas de participarem da política no país, a exemplo de ciganos e negros. Essas restrições que ocorrem a essa parcela da população foram tomadas por conta do agravamento das tensões étnicas entre as comunidades do país, a mais grave desde a guerra civil ocorrida em 1992.
Assim como Covic, o líder nacionalista sérvio bósnio Milorad Dodik também se demonstrou insatisfeito com a decisão tomada, e durante o último verão, ameaçou retirar os representantes oficiais da Sérvia de instituições centrais, além de demonstrar a intenção de promover diversas leis que permitam a desvinculação de diversos setores do governo, como o exército, poder judicial e o sistema fiscal central, que passariam a estar sob controle inteiramente da Sérvia.
Por fim, a instabilidade acerca das eleições na Bósnia Herzegovina vem causando ainda mais tumulto nas relações com os croatas bósnios, que defendem que a convocação das eleições sem reforma prévia é uma “ameaça direta à paz e a estabilidade política da Bósnia”, de acordo com Dragan Covic. Considerando que ainda faltam 4 meses para as futuras eleições, é possível prever um aumento nas tensões na região balcânica e uma crise política que pode impactar também na sociedade, não só dos bósnios e croatas, mas também dos sérvios, que também manifestaram insatisfação com as decisões e ações tomadas pelo governo bósnio.
Referências
CROATAS da Bósnia-Herzegovina denunciam “ameaça para a paz” após convocação de eleições gerais. RTP Notícias, [S. l.], p. 1-3, 4 maio de 2022. Disponível em: https://www.rtp.pt/noticias/mundo/croatas-da-bosnia-herzegovina-denunciam-ameaca-para-a-paz-apos-convocacao-de-eleicoes-gerais_n1402782 . Acesso em: 11 maio 2022[DCP1] .
BAKER, Grayson. Croatas da Bósnia-Herzegovina denunciam ameaça para a paz após convocação de eleições gerais. The World News, [s. l.], 4 maio 2022. Disponível em: https://theworldnews.net/pt-news/croatas-da-bosnia-herzegovina-denunciam-ameaca-para-a-paz-apos-convocacao-de-eleicoes-gerais . Acesso em: 23 maio 2022.
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