Artigo elaborado por Karen Andersson e Laura Rossi
Os avanços da nação russa desde o dia 24 de fevereiro deste ano contra o território e povo ucraniano abalaram o planeta e principalmente os países próximos ao conflito. Desde o início da invasão, países vizinhos à Ucrânia como Polônia, Eslováquia e Romênia têm recebido um fortíssimo fluxo de refugiados e prestado ajuda humanitária. No entanto, é mais ao norte entre os países escandinavos onde vêm se consolidando ainda mais intensas preocupações a respeito das intenções futuras de Vladimir Putin após o mesmo ter feito inúmeras ameaças à Suécia e Finlândia e ter se mostrado intransigente perante às exigências das grandes potências e organizações internacionais. Os países nórdicos temem que possa vir a acontecer com eles o mesmo que vem acontecendo com os ucranianos.
Essa preocupação é ainda mais imediata para os finlandeses, pois diferentemente da Suécia, possuem fronteira direta com o território russo e não fazem parte da OTAN como a vizinha Noruega. Portanto, ao longo dos últimos dois meses o país vem se preparando para a possibilidade de que uma defesa ativa seja necessária contra os avanços de Putin.
De acordo com o que a ministra finlandesa de Assuntos Europeus, Tytti Tuppurainen, disse em entrevista ao Financial Times, a Finlândia com seus 1,3 mil quilômetros de divisa compartilhada com a Rússia já se prepara para um possível embate com a gigantesca nação vizinha desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda, segundo ela, o país não seria “pego de surpresa” pois tem preparado sua sociedade com treinamentos para situações como essa.
O país conta com uma vasta rede de túneis e “cidades subterrâneas” capazes de abrigar sua população, caso necessário. Só a capital Helsinki conta com 10 milhões de quilômetros quadrados de túneis, graças a um projeto de urbanização da década de 1980. Atualmente, os túneis são usados para passagem ou como shoppings, reservatórios e sistema de metrô, mas podem ser transformados em abrigos antibombas dentro de apenas 72 horas, segundo o governo finlandês. Além disso, o país ainda possui mais de 54 mil bunkers construídos ao longo dos anos e espalhados por seu território, dispositivos antibombas nos edifícios mais modernos, estoque de mantimentos (como alimentos não perecíveis e combustíveis) suficiente para seis meses e uma lei onde as empresas farmacêuticas do país são obrigadas a armazenar remédios e substâncias importadas para garantir pelo menos 10 meses de provisão.
Além de todo seu preparo em função de infraestrutura, um terço da população finlandesa (composta por 5,5 milhões de pessoas) é reservista das Forças Armadas. Com isso, e proporcionalmente a seu tamanho, a Finlândia possui uma das maiores tropas de toda a Europa. Ademais, o povo finlandês carrega consigo um forte sentimento de orgulho e identidade nacional proveniente de suas raízes históricas e realizações em guerras do passado. Portanto, caso haja de fato um conflito iniciado pelas tropas de Putin, pode se inferir que os russos enfrentariam uma intensa resistência por parte da população finlandesa, determinada a defender sua nação assim como ocorre atualmente na Ucrânia.
O outro país que compartilha desse sentimento apesar de não fazer fronteira terrestre com a Rússia, é a Suécia que também foi ameaçada e a partir de então se preocupa com o futuro da segurança e estabilidade da região. Com isso, uma vez que os países vizinhos têm fortes laços históricos e uma estreita cooperação militar, incluindo exercícios conjuntos e compartilhamento de informações, caso decidam se candidatar à adesão na OTAN poderiam se juntar “muito rapidamente”, segundo o secretário-geral Jens Stoltenberg. É importante ressaltar que os dois são países soberanos perante ao sistema internacional e podem escolher aderir à OTAN mesmo após as ameaças. Finlândia e Suécia são “sócios” da organização desde o ano de 1990 com o fim da Guerra Fria, quando escolheram não entrar na organização devido a sua neutralidade como forma de posicionamento às questões internacionais.
As ameaças vindas do Kremlin a mando do presidente russo e direcionadas aos dois países nórdicos terão como consequência, em primeiro momento, o fortalecimento da cooperação de segurança entre eles, como já dito pela primeira-ministra finlandesa Sanna Marin em entrevista coletiva conjunta na capital Helsinque com a primeira-ministra sueca, Madalena Anderson: “A guerra da Rússia contra uma nação europeia soberana coloca em risco a ordem de segurança europeia. Neste ambiente de segurança, em mudança, Finlândia e Suécia fortalecerão ainda mais sua cooperação”.
Desse modo, o que mais pode-se destacar ao analisar esta situação é que a cooperação que já era existente entre os dois países, se intensificará a partir da ameaça russa e se tornará ainda mais focada em manter a segurança de seus territórios e populações.
A população finlandesa do eleito “país mais feliz do mundo”, se prepara para defender seu país, caso seja necessário, com a ajuda dos vizinhos suecos e apoio de quase todos os outros países do mundo que repudiam a guerra provocada por Vladimir Putin.
Referências
BRAUN, Julia. “Que países ajudam a Ucrânia durante invasão russa?” BBC, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60627039
“Ministra diz que a Finlândia está preparada para uma eventual guerra com a Rússia”. UOL, 2022. Disponível em: https://cultura.uol.com.br/noticias/47600_ministra-diz-que-a-finlandia-esta-preparada-para-uma-eventual-guerra-com-a-russia.html
LESNAU, Artur. “Finlândia se prepara contra a Rússia desde a Segunda Guerra”. Metrópoles, 2022. Disponível em: https://www.metropoles.com/mundo/finlandia-se-prepara-contra-a-russia-desde-a-segunda-guerra
MANZANO, Fabio. “País mais feliz do mundo, Finlândia está de prontidão para eventual guerra com a Rússia”. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/03/30/pais-mais-feliz-do-mundo-finlandia-esta-de-prontidao-para-eventual-guerra-com-a-russia-veja-preparativos.ghtml
“Manual de costumes finlandeses”. This is Finland, 2010. Disponível em: https://finland.fi/pt/vida-amp-sociedade/manual-de-costumes-finlandeses-um-guia-de-comportamento/
KAURANEN, Anne e AHLANDER, Johan. “Suécia e Finlândia vão fortalecer cooperação, mas não se comprometem a entrar na OTAN”. Reuters, 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/suecia-e-finlandia-vao-fortalecer-ainda-mais-cooperacao-em-seguranca/