ISSN 2674-8053

A necessidade de expansão dos acordos multilaterais brasileiros

A economia brasileira é a nona maior do mundo em termos de produto interno bruto (PIB) e, apesar de ter passado por momentos de crescimento econômico significativo nas últimas décadas, ainda enfrenta uma série de desafios estruturais. A diversificação das relações econômicas internacionais é uma das principais estratégias para enfrentar esses desafios e garantir um crescimento econômico sustentável e equilibrado no longo prazo.

Uma das principais razões pelas quais a diversificação das relações econômicas internacionais é importante para o Brasil é a vulnerabilidade do país às flutuações dos preços das commodities. O Brasil é um dos principais produtores mundiais de commodities, como soja, açúcar, café e minério de ferro. Embora esses produtos tenham sido responsáveis por grande parte do crescimento econômico do país nas últimas décadas, a dependência excessiva dessas exportações pode deixar a economia vulnerável a choques externos, como mudanças na demanda ou na oferta de commodities no mercado internacional.

Além disso, o Brasil enfrenta desafios estruturais em sua economia, como uma infraestrutura deficiente, um sistema tributário complexo e uma burocracia excessiva. Para superar esses obstáculos, o país precisa atrair investimentos estrangeiros e tecnologias avançadas, bem como aumentar a competitividade de seus produtos nos mercados internacionais. A diversificação das relações econômicas internacionais é uma forma de alcançar esses objetivos, permitindo ao Brasil ampliar seus laços comerciais com novos parceiros e regiões do mundo.

Uma das maneiras pelas quais o Brasil pode diversificar suas relações econômicas internacionais é expandindo o comércio com países da Ásia, como a China, Índia, Japão e Coreia do Sul. Esses países estão entre os maiores e mais dinâmicos mercados do mundo, e o Brasil pode se beneficiar de sua demanda crescente por commodities e produtos manufaturados. Além disso, esses países têm investido fortemente em tecnologias de ponta, como inteligência artificial, robótica e biotecnologia, e o Brasil pode aproveitar essas oportunidades para atrair investimentos em setores de alta tecnologia.

Outra forma de diversificar as relações econômicas internacionais do Brasil é fortalecendo os laços com a União Europeia (UE) e outras regiões do mundo. A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, e a assinatura do acordo de livre comércio entre os dois blocos pode abrir novas oportunidades para os exportadores brasileiros. Além disso, o Brasil pode se beneficiar da experiência e conhecimento tecnológico da UE em áreas como energias renováveis, biotecnologia e infraestrutura.

Ao pensarmos na Eurásia, outras opções que surgem são a ASEAN e a Eurasian Economic Union. O Brasil também pode buscar expandir seus laços comerciais com países da América Latina e do Caribe. Esses países são importantes parceiros comerciais do Brasil, e a integração regional pode levar a ganhos de eficiência e economias de escala. Além disso, a cooperação regional pode ajudar a resolver desafios comuns, como a falta de infraestrutura e a pobreza.

É importante destacar que também é possível que o Brasil siga uma estratégia de celebração de acordos bilaterais, mas esse seria um caminho menos interessante.Os acordos multilaterais são geralmente considerados melhores do que os acordos bilaterais por várias razões:

1. Inclusão de mais países: Os acordos multilaterais incluem vários países, o que significa que os benefícios comerciais e econômicos se estendem a um maior número de nações. Isso cria uma rede mais ampla de comércio e aumenta a interdependência econômica entre os países, reduzindo a possibilidade de conflitos comerciais.

2. Redução de barreiras comerciais: Os acordos multilaterais podem ajudar a reduzir barreiras comerciais em várias frentes, incluindo tarifas, quotas e regulamentações técnicas. Quando mais países estão envolvidos em um acordo, há mais oportunidades para reduzir essas barreiras, o que pode melhorar a eficiência do comércio e aumentar o acesso aos mercados.

3. Equilíbrio de poder: Em um acordo bilateral, pode haver um desequilíbrio de poder entre os países envolvidos, o que pode levar a um resultado desfavorável para o país mais fraco. Em um acordo multilateral, no entanto, há um maior equilíbrio de poder entre os países, o que pode levar a resultados mais equitativos.

4. Padronização de regulamentações: Os acordos multilaterais também podem ajudar a padronizar as regulamentações e práticas comerciais em todo o mundo. Isso pode ajudar a reduzir a confusão e o atrito entre os países, tornando o comércio mais fácil e eficiente.

5. Aumento da estabilidade: Os acordos multilaterais podem ajudar a aumentar a estabilidade e a previsibilidade no comércio global. Isso pode reduzir a incerteza e a volatilidade nos mercados, o que pode ser benéfico para todas as partes envolvidas.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X