ISSN 2674-8053

Rússia e Ucrânia: tentativas de estabelecer um plano de paz

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A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem sido um conflito prolongado e devastador, com consequências humanitárias e geopolíticas significativas. Em meio a esse cenário caótico, diversos esforços foram feitos para buscar uma solução pacífica e estabelecer um plano de paz entre as duas nações. No entanto, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky tem demonstrado uma recusa em avançar com as propostas apresentadas até o momento.

Ainda que o atual conflito tenha pouco mais de um ano, as tensões entre os dois países é bem mais antiga e já foram objeto de tentativas de estabelecimento de acordos pacificadores. Entre as tentativas que mais se destacaram estão:

  1. Acordos de Minsk: Os Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015, foram os principais esforços internacionais para resolver a crise no leste da Ucrânia. Esses acordos previam um cessar-fogo, a retirada de tropas estrangeiras e a restauração da integridade territorial ucraniana. No entanto, esses acordos não foram totalmente implementados e os combates continuaram.
  2. Iniciativa Normandia: A iniciativa Normandia, liderada pela Alemanha e pela França, buscava uma solução política para o conflito na Ucrânia. Ela envolveu reuniões entre os líderes da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França, com o objetivo de encontrar uma solução diplomática. No entanto, até agora, os resultados dessas negociações têm sido limitados.
  3. Cessar-fogo unilateral: Em diversas ocasiões, a Ucrânia anunciou cessar-fogo unilaterais como um gesto de boa vontade para promover o diálogo e buscar uma solução pacífica. No entanto, essas tréguas não foram duradouras, e os combates recomeçaram em várias ocasiões.

Ao considerarmos o conflito atual, também é possível ver que não parecem surgir propostas que efetivamente levem à pacificação. De um lado as demandas da Rússia se mostram muito profundas.

Uma das principais propostas da Rússia é que a Ucrânia se comprometa a nunca se juntar à OTAN. A Ucrânia, por sua vez, rejeita esta exigência, pois vê a OTAN como uma garantia de sua segurança.

Outra proposta da Rússia é que a Ucrânia reconheça a independência das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk. A Ucrânia também rejeita esta exigência, pois vê isto como um reconhecimento da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia.

A Rússia também exigiu que a Ucrânia desmilitarize e desnazifique. A Ucrânia nega que seja um país nazista e diz que não vai desmilitarizar, pois isso a deixaria vulnerável a um novo ataque russo.

De outro lado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem se recusado a avançar com qualquer uma das propostas de paz russas, dizendo que não vai ceder a nenhuma exigência que ameace a soberania ou a integridade territorial da Ucrânia.

Uma das mais recentes tentativas de buscar um plano de paz foi proposta pelo Papa Francisco. O plano de paz foi recebido com cautela e ceticismo por ambas as partes em conflito. A Rússia disse que está aberta a discutir o plano, mas que não vai ceder a nenhuma exigência que ameace sua segurança nacional. A Ucrânia, por sua vez, disse que está disposta a discutir o plano, mas que não vai aceitar nenhum acordo que não reconheça sua soberania e integridade territorial.

O plano de paz do Papa Francisco inclui uma série de propostas, incluindo:

  • Um cessar-fogo imediato;
  • A retirada das tropas russas da Ucrânia;
  • A garantia da integridade territorial e da soberania da Ucrânia;
  • A garantia da segurança da Ucrânia contra futuros ataques;
  • O estabelecimento de uma comissão de verdade e reconciliação;
  • O fornecimento de ajuda humanitária às vítimas da guerra.

O plano do Papa Francisco é um passo importante no sentido de encontrar uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia. No entanto, é importante notar que o plano é apenas uma proposta, e que ambas as partes em conflito precisam estar dispostas a fazer concessões para que um acordo seja alcançado.

Enquanto do lado russo as movimentações são no sentido de buscar uma solução que considere uma realidade diferente daquela em que se iniciou o conflito, do lado ucraniano há uma baixa disponibilidade para conversas em âmbito multilateral. Durante o encontro, o presidente ucraniano chegou a declarar que “não precisamos de mediadores” para o conflito, o que explica sua posição mais incisiva em continuar a guerra para conseguir uma vitória total.

Indepentemente da posição ideológica ou geopolítica que cada um possa adotar, é preciso que os esforços sejam direcionados para a construção de uma proposta que acabe com a guerra e não que leve à vitória de um ou de outro lado. As sociedades civis dos dois países estão sofrendo, bem como o restante do mundo, com as consequências desta guerra.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X