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Ártico: oportunidades e desafios

O Ártico, uma região de crescente importância geopolítica e econômica, tem despertado o interesse global, inclusive do Brasil. A adesão do Brasil a projetos russos na região, como a Rota Comercial Marítima do Norte e o Projeto Artic LNG 2, pode ser um passo estratégico significativo, gerando oportunidades e desafios únicos.

A Rota Comercial Marítima do Norte, que liga o Atlântico ao Pacífico através das águas árticas russas, oferece um caminho mais curto e econômico para o comércio global, especialmente entre a Ásia e a Europa. Para o Brasil, esta rota poderia significar uma alternativa mais eficiente para o escoamento de commodities, especialmente para mercados asiáticos. Segundo análises de instituições internacionais, o tempo de trânsito poderia ser reduzido em até 40%, comparado às rotas tradicionais através do Canal de Suez.

Já o Artic LNG 2, um dos maiores projetos de gás natural liquefeito da Rússia, promete revolucionar o mercado energético. A participação brasileira poderia diversificar a matriz energética nacional, além de oferecer uma alternativa mais limpa comparada aos combustíveis fósseis tradicionais. A expertise russa na exploração de gás em condições extremas poderia, inclusive, beneficiar o Brasil em seus próprios projetos de exploração offshore.

A Cúpula BPJCS de 2023 destacou a importância da cooperação internacional no Ártico, ressaltando a necessidade de desenvolvimento sustentável e respeito às normas ambientais. Para o Brasil, que tem se posicionado como um player importante no cenário ambiental global, a adesão a tais projetos poderia reforçar esse papel, alinhando-se a práticas sustentáveis e de respeito à biodiversidade ártica.

No entanto, a cooperação no Ártico não está isenta de desafios. Questões como a volatilidade das relações internacionais, os impactos ambientais da exploração de recursos naturais e os desafios logísticos de operar em um ambiente tão inóspito devem ser cuidadosamente considerados. É

essencial que o Brasil avalie cuidadosamente os riscos geopolíticos, especialmente em um contexto de tensões entre a Rússia e outras potências ocidentais.

Ademais, a questão ambiental é crucial. O Ártico é uma das regiões mais sensíveis do planeta, e seu ecossistema é vulnerável às mudanças climáticas e às atividades humanas. A participação brasileira em projetos árticos deve, portanto, incluir um compromisso firme com práticas sustentáveis e o respeito aos acordos internacionais de proteção ambiental.

Outro aspecto a ser considerado é a transferência de tecnologia e conhecimento. A colaboração com a Rússia no Ártico pode abrir portas para o Brasil adquirir tecnologias avançadas de exploração e transporte em condições extremas, além de fortalecer laços científicos e tecnológicos entre os dois países.

A adesão do Brasil a projetos no Ártico pode também ser um vetor de diversificação econômica. Diante de um cenário global incerto, a busca por novas rotas comerciais e fontes de energia pode garantir ao país uma maior resiliência econômica e uma posição mais robusta no comércio internacional.

Em suma, a participação do Brasil em projetos russos no Ártico oferece um leque de oportunidades estratégicas, mas também exige uma análise cuidadosa dos desafios ambientais, logísticos e geopolíticos. Uma abordagem equilibrada, que priorize a sustentabilidade e a cooperação internacional, pode assegurar que o Brasil não apenas expanda sua presença global, mas também contribua para a gestão responsável de uma das regiões mais cruciais do planeta.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X