O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou recentemente os nomes que comporão seu gabinete para o próximo mandato, destacando-se pela escolha de indivíduos leais e alinhados com sua visão política. A seguir, apresentamos os principais indicados, suas respectivas funções e posicionamentos em relação às novas responsabilidades:
- Scott Bessent – Secretário do Tesouro: Bilionário e gestor de fundos de hedge, Bessent é conhecido por seu conservadorismo fiscal e defesa da redução do déficit. Sua nomeação sinaliza uma política econômica focada em austeridade e controle de gastos públicos. The Times
- Marco Rubio – Secretário de Estado: Senador pela Flórida, Rubio tem histórico de posições firmes contra China, Cuba e Irã. Sua indicação sugere uma política externa assertiva, alinhada ao princípio “América Primeiro”. The Times
- Tulsi Gabbard – Diretora de Inteligência Nacional: Ex-deputada democrata pelo Havaí, Gabbard apoiou Trump em momentos cruciais. Sua nomeação indica uma possível reorientação das agências de inteligência, com foco em lealdade e alinhamento ideológico. The Times
- Pete Hegseth – Secretário de Defesa: Ex-apresentador da Fox News e veterano da Guarda Nacional do Exército, Hegseth é um defensor fervoroso de Trump. Sua falta de experiência administrativa levanta questões sobre sua capacidade de liderar o Pentágono. The Times
- Pam Bondi – Procuradora-Geral: Ex-procuradora-geral da Flórida e aliada próxima de Trump, Bondi é conhecida por sua postura firme contra a imigração ilegal e apoio a políticas conservadoras. The Times
- Linda McMahon – Secretária de Educação: Co-fundadora da WWE, McMahon tem pouca experiência no setor educacional. Sua nomeação sugere uma possível intenção de reformar ou até desmantelar o Departamento de Educação. The Times
- Robert F. Kennedy Jr. – Secretário de Saúde e Serviços Humanos: Conhecido por suas posições antivacina, Kennedy Jr. é uma escolha controversa para liderar a saúde pública, especialmente após a pandemia de COVID-19. The Times
- Elon Musk e Vivek Ramaswamy – Co-líderes do Departamento de Eficiência Governamental: Musk, CEO da Tesla, e Ramaswamy, empresário e ex-candidato presidencial, foram escolhidos para liderar um novo departamento focado em reduzir gastos federais e aumentar a eficiência governamental. The Times
- Howard Lutnick – Secretário de Comércio: CEO da Cantor Fitzgerald, Lutnick é um aliado próximo de Trump e defensor de políticas pró-negócios. Sua nomeação indica uma abordagem agressiva em relação ao comércio internacional, possivelmente intensificando disputas comerciais com países como a China. Reuters
- Kristi Noem – Secretária de Segurança Interna: Governadora da Dakota do Sul, Noem ganhou destaque por suas políticas durante a pandemia e por seu apoio incondicional a Trump. Sua nomeação sugere uma postura rígida em relação à imigração e segurança de fronteiras. El País
- Mehmet Oz – Administrador dos Centros de Medicare e Medicaid: Médico e personalidade televisiva, Oz é uma escolha inesperada para liderar programas de saúde pública, levantando preocupações sobre sua experiência administrativa e conhecimento das complexidades do sistema de saúde. The Times
- Doug Burgum – Secretário do Interior: Governador da Dakota do Norte e empresário do setor tecnológico, Burgum é conhecido por suas políticas pró-energia e desenvolvimento econômico. Sua nomeação indica uma possível expansão de projetos de energia e uso de terras federais. The Times
- John Ratcliffe – Diretor da CIA: Ex-diretor de Inteligência Nacional e ex-congressista, Ratcliffe é um aliado leal de Trump. Sua nomeação sugere continuidade nas políticas de inteligência da administração anterior. The Times
- Elise Stefanik – Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas: Congressista republicana por Nova York, Stefanik é uma defensora vocal de Trump. Sua nomeação indica uma postura assertiva dos EUA na ONU, possivelmente confrontando adversários tradicionais e promovendo políticas nacionalistas. The Times
- Susie Wiles – Chefe de Gabinete da Casa Branca: Co-presidente da campanha de Trump em 2024, Wiles é conhecida por sua habilidade política e lealdade ao presidente. Sua nomeação sugere uma gestão interna focada em implementar a agenda de Trump sem dissidências. The Times
A análise dessas nomeações revela uma tendência clara de Trump em priorizar a lealdade pessoal e o alinhamento ideológico sobre a experiência técnica ou administrativa. Essa abordagem pode resultar em desafios significativos na implementação de políticas públicas, dada a possível falta de experiência de alguns indicados nas áreas que irão liderar. Além disso, a escolha de figuras controversas, como Robert F. Kennedy Jr. para a Saúde e Mehmet Oz para os programas de Medicare e Medicaid, pode gerar debates intensos e resistência tanto no Congresso quanto na opinião pública. A ênfase em reduzir a burocracia e os gastos governamentais, exemplificada pela criação do Departamento de Eficiência Governamental liderado por Musk e Ramaswamy, indica uma possível reestruturação significativa do governo federal. No entanto, a eficácia dessas mudanças dependerá da capacidade dos nomeados em equilibrar a eficiência com a manutenção dos serviços essenciais à população. Em suma, as nomeações de Trump para seu próximo governo refletem uma administração que busca consolidar poder entre aliados leais, possivelmente à custa de expertise técnica, o que pode impactar a governança e a implementação de políticas nos próximos anos.
Trump e o papel dos EUA no mundo
No que se refere às expectativas globais quanto ao papel dos Estados Unidos em intervenções internacionais, ainda estão cercadas de incertezas. As nomeações de figuras ideologicamente alinhadas ao presidente indicam uma possível reafirmação do princípio “América Primeiro”, sugerindo uma abordagem mais assertiva e unilateralista na política externa. Essa postura poderá afetar não apenas aliados tradicionais, mas também adversários históricos dos EUA, alterando as dinâmicas globais de poder.
Uma das escolhas mais simbólicas é a de Marco Rubio como Secretário de Estado. Conhecido por seu posicionamento firme contra regimes autoritários como os da China, Cuba e Irã, Rubio representa uma visão intervencionista seletiva, focada em combater ameaças percebidas à hegemonia americana. É esperado que sua liderança intensifique sanções e amplie o isolamento de nações que desafiem a influência dos EUA. Essa estratégia, embora eficaz em consolidar a autoridade americana em alguns casos, pode agravar tensões com potências emergentes, como a China, sobretudo no Indo-Pacífico, e complicar ainda mais as relações comerciais e diplomáticas.
Por outro lado, a nomeação de Pete Hegseth como Secretário de Defesa sinaliza um possível aumento no papel militar em cenários globais, mas sob uma ótica nacionalista. A falta de experiência administrativa de Hegseth levanta preocupações sobre sua capacidade de gerenciar operações complexas em regiões como o Oriente Médio, onde os EUA mantêm presença estratégica. Ainda assim, sua lealdade a Trump pode resultar em ações militares rápidas e contundentes, sem o consenso habitual de aliados da OTAN, por exemplo. Esse tipo de postura pode ampliar divisões entre os Estados Unidos e parceiros históricos, como a França e a Alemanha, que defendem maior diálogo multilateral.
Outro ponto relevante é a presença de Tulsi Gabbard na chefia de Inteligência Nacional. Apesar de democrata, Gabbard tem um histórico de apoio a abordagens mais pragmáticas em relação a conflitos internacionais, incluindo um desejo de evitar guerras prolongadas. Sob sua liderança, é possível que os serviços de inteligência priorizem missões de contraterrorismo focadas em ameaças diretas à segurança americana, deixando de lado intervenções humanitárias ou esforços para estabilização de governos em crise.
Além disso, a escolha de Elise Stefanik como embaixadora na ONU reflete uma provável mudança de tom nas relações multilaterais. Stefanik, uma defensora vocal do nacionalismo americano, poderá adotar uma abordagem confrontadora em fóruns globais, pressionando por mudanças em instituições como a ONU para alinhar-se mais aos interesses dos EUA. Essa postura pode alienar aliados, mas reforça a visão de Trump de que os Estados Unidos devem assumir um papel dominante em vez de depender do consenso internacional.
No entanto, essas mudanças precisam ser analisadas em um contexto mais amplo. Com o aumento das tensões globais — incluindo os conflitos em Gaza, a guerra na Ucrânia e a competição no Indo-Pacífico —, a comunidade internacional esperará que os Estados Unidos continuem desempenhando o papel de árbitro global. Sob Trump, no entanto, é provável que esse papel seja redesenhado, com intervenções moldadas principalmente pelos interesses econômicos e estratégicos imediatos.
A escolha de Howard Lutnick para o Departamento de Comércio reforça essa abordagem pragmática, com a promoção de políticas que favoreçam empresas americanas em detrimento de acordos multilaterais. Um exemplo potencial seria a intensificação da guerra comercial com a China, o que, além de ampliar tensões econômicas, poderia afetar países em desenvolvimento dependentes de relações comerciais tanto com os EUA quanto com a China.
Esse cenário ressalta a necessidade de equilíbrio. Um governo Trump mais assertivo nas intervenções internacionais pode reforçar a influência americana em algumas regiões, mas também corre o risco de exacerbar instabilidades e consolidar blocos de oposição, como o fortalecimento da aliança entre Rússia e China. Resta ao mundo observar como a diplomacia de Marco Rubio, a visão estratégica de Hegseth e as operações conduzidas por Gabbard moldarão essa nova era de atuação dos EUA no cenário global.