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O obscuro passado da indústria alemã

Artigo elaborado por Bruna Marques e Raphael Krykorka

Revelações sobre um passado oculto de grandes empresas alemãs evidenciaram severos crimes que moldaram a história da indústria alemã. Após a ascensão de Adolf Hitler à chancelaria de Weimar em 1933, iniciou-se a consolidação da ideologia nacional-socialista no país. Era fato que o chanceler alemão influenciava a produção interna alemã por meio de pressão política, fiscal e regulatória, porém, transnacionais compartilhavam de seus ideais ocultamente. Relevantes empresas do terceiro setor alemão voluntariaram-se para auxiliar o regime hitlerista, ao iniciarem secretamente um processo de trabalho compulsório análogos à escravidão nas fábricas, restrito a judeus e eslavos.

Nesse contexto, corporações alemãs implementam as práticas idealizadas por Hitler, como a exploração de etnias consideradas inferiores. Dessa maneira, notórias empresas alemãs como a Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, de forma espontânea aderiram aos ideais nacional-socialistas, pois a utilização de tal mão de obra baratearia os custos de produção, além de fortalecer os laços com a autoridade central alemã. A Dinastia Quandt, família proprietária da BMW, admitiu o envolvimento da empresa com o governo nazista, ao assumir o controle de diversas empresas judaicas e utilizar mão de obra escrava. “Günther Quandt e o seu filho Herbert, que chefiaram a dinastia durante o Terceiro Reich, utilizaram cerca de 50.000 trabalhadores forçados nas suas fábricas de armas. Uma média de 80 trabalhadores escravos morriam por mês nas fábricas da Quandt e muitos foram executados.” (SCHOLTYSECK, Joachim). Além disso, foi evidenciado o ingresso do proprietário Günther Quandt ao Partido Nacional-Socialista Alemão após a nomeação de Adolf Hitler à chancelaria da nação, fortalecendo o laço ideológico voluntário entre os grandes empresários e o regime.

Simultaneamente, e da mesma forma empresas do setor têxtil foram influenciadas pelos ideais do Führer. Em virtude dessa preponderância nazista, corporações como a Hugo Boss aproximaram-se de Hitler, essa, se tornou a fornecedora dos uniformes das forças armadas alemãs. Há relatos sobre construções de campos de alojamento para trabalhos forçados realizados por mulheres e judeus nas indústrias da empresa. Após a queda do regime nazista, Hugo Ferdinand Boss foi julgado e multado devido a seu envolvimento comprovado na Segunda Guerra. Em contrapartida, nem todas as empresas aderiram às ideias do Führer, por exemplo, houveram conflitos ideológicos entre os irmãos Dassler, os quais acabaram por fragmentar sua empresa. Nessa questão, surge a Adidas de Adolf Dassler, em oposição a seu irmão Rudolf Dassler, fundador da Pumas e leal apoiador da ideologia nazista.

Evidentemente, o nacional-socialismo influenciou a maioria das empresas alemãs durante seu período de governo, atingindo todos os setores da indústria, inclusive o farmacêutico. Nessa área, por meio de contratos selados com o governo alemão, empresas farmacêuticas iniciaram a pesquisa e o desenvolvimento de um método conhecido posteriormente como “Solução Final”, Tal medida incluía abertamente a formulação de meios para a execução de judeus em territórios do Reich, como a utilização do gás Zyklon B nas câmaras de gás durante o período do Holocausto. Exemplificadamente, a IG Farben, originalmente uma empresa de fabricação de corantes sintéticos, tornou-se colaboradora do projeto nazista, e utilizou os prisioneiros dos campos de concentração para experimentos médicos desumanos. Após a resolução do conflito, a IG Farben foi julgada pelo Tribunal de Nuremberg, o qual proibiu os experimentos involuntários em humanos e puniu as ações da empresa. Consequentemente, houve a divisão do conglomerado IG Farben, que marcou o surgimento de importantes empresas como a Bayer, BASF e Hoechst.

A Bayer por si só, começou a conduzir pesquisas em uma de suas fábricas em Auschwitz-Birkenau, eram testados inúmeros medicamentos forçadamente em prisioneiros, que haviam sido deliberadamente infectados com tuberculose, difteria e outras doenças, assim como em outros 25.000 trabalhadores. Os médicos da Schutzstaffel, organização paramilitar do partido nacional-socialista, eram formalmente responsáveis pelo serviço médico dos prisioneiros, conduzindo os experimentos em nome de empresas farmacêuticas alemãs ou por seus próprios interesses privados,  assinando milhares de atestados de óbito de pacientes com causas fictícias de morte para camuflar tais medidas. Conduzindo essas atrocidades ao verdadeiro motivo dos interesses pelo lado alemão, que recorreu a situação de vulnerabilidade dos prisioneiros e da situação política aos países a sua volta, para investir em pesquisa e estudos em empresas que tinham potencial comercial, também proporcionando criações químicas inovadoras e destruidoras como a sua participação na criação das câmaras de gás, que serviram para tirar milhões vidas inocentes.( HENRY ELKINS, Thomas).

Após a Segunda Guerra, a Alemanha foi repartida entre os capitalistas comandados pelo Ocidente, e os socialistas chefiados pelos soviéticos. Deste modo, o lado ocidental estruturou sua economia ao molde capitalista, efetivando a divisão ideológica da nação e a criação da República Federal Alemã. Os ocidentais estavam abertos para negociações com o mundo exterior e para investimentos de potências capitalistas, enquanto a parte Oriental mantinha suas relações externas fechadas devido à influência socialista soviética. A Alemanha Ocidental adotou um modelo econômico voltado à exportação, concentrando-se na produção de bens de alta qualidade para o mercado internacional. A nação manteve seu crescimento após o conflito mundial, além de um grande impulso de desenvolvimento conquistado pelas experiências e testes realizados em trabalhadores forçados pelo regime passado, recebendo o investimento e pesquisa para serem usados pelo restante do século.(HISTORY COLLECTION).

 Com a queda do muro de Berlim, o governo havia assumido que a reconstrução da indústria da Alemanha Oriental daria-se essencialmente à aquisição de fábricas alemãs predominantemente ocidentais. O Plano Marshall, por outro lado, foi um programa liderado pelos Estados Unidos que forneceu auxílio financeiro aos países da Europa Ocidental, com o intuito de reconstruir as economias do continente no pós-guerra. O plano cooperou para o crescimento da Alemanha Ocidental,  a qual recebeu uma quantia substancial que modernizou suas indústrias e infraestrutura. A unificação da Alemanha, trouxe benefícios para ambos os lados, por exemplo, a transferência de tecnologia dos setores industrializados, como o automotivo e têxtil, além de alcançar novos mercados que antes eram submetidos a governança soviética, com a diminuição da disparidade social, trazendo empregos, desenvolvendo a infraestrutura, salários, fazendo da reunificação e a subsequentemente integração econômica que consolidou a Alemanha como uma das principais potências econômicas do mundo, com uma indústria forte, competitiva e inovadora.(MAKE IT IN GERMANY).

Atualmente, o retrato da indústria Alemã reflete figuras de seu passado, as políticas e o governo da época não favoreceram a Alemanha de uma forma responsável e ética, mas não deixaram de impulsionar e torná-las o que elas são atualmente, na economia alemã. O setor automobilístico permanece como líder, registrando lucros de 506 mil milhões de euros em 2022, a fabricação de veículos garante lucros para outros setores, pois há ligações estreitas entre empresas dos setores químico, de engenharia elétrica, siderúrgico, metalúrgico e têxtil.

Bibliografia:

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