
Introdução: o colapso silencioso
Por muito tempo, a arquitetura institucional criada no pós-guerra foi celebrada como um dos maiores triunfos da razão política moderna. Organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e, mais tarde, a Organização Mundial do Comércio (OMC), foram concebidas como alicerces de uma ordem internacional liberal baseada na cooperação, na regulação multilateral dos conflitos e na promoção da paz e do desenvolvimento. Essa ordem, embora marcada por assimetrias e exclusões, sustentou por décadas uma relativa estabilidade entre Estados, uma expansão do comércio internacional e a consolidação de uma narrativa normativa global: direitos humanos, democracia liberal e economia de mercado como horizonte civilizatório.
No entanto, há algum tempo essas mesmas instituições vêm sendo confrontadas por sinais claros de exaustão. Crises de legitimidade, ineficácia frente a conflitos emergentes, desrespeito às suas decisões e o surgimento de novas coalizões fora de sua órbita tradicional revelam um esvaziamento progressivo do centro de gravidade que sustentava a ordem liberal. A sensação de paralisia institucional tornou-se recorrente, e a confiança no multilateralismo foi sendo substituída por uma retomada de políticas unilaterais, nacionalistas e, em alguns casos, abertamente hostis ao espírito cooperativo que marcou a segunda metade do século XX.
É comum que se atribua o início desse colapso à ascensão de lideranças como Donald Trump, cuja retórica “America First” simbolizou um corte abrupto com os compromissos multilaterais dos Estados Unidos. No entanto, essa leitura linear ignora o acúmulo histórico de frustrações, omissões e contradições que já corroíam o edifício institucional liberal. Trump, ao invés de criador da crise, é mais bem compreendido como um de seus produtos — expressão política de uma desconfiança mais ampla, presente tanto em países centrais quanto periféricos, com relação à utilidade, legitimidade e equidade do sistema multilateral.
Este artigo propõe, portanto, uma análise das raízes profundas da crise das instituições multilaterais, examinando sua trajetória desde o pós-guerra, seus momentos de inflexão, seus dilemas estruturais e os impasses que hoje desafiam sua renovação. A pergunta central que guia esta reflexão é simples, mas urgente: ainda é possível confiar na governança global como a conhecemos, ou estamos diante do fim de um ciclo histórico?
As promessas do pós-guerra
A Segunda Guerra Mundial deixou como legado não apenas destruição material e perdas humanas incalculáveis, mas também a percepção aguda de que o sistema internacional precisava ser reestruturado para evitar novos colapsos civilizatórios. Daquele trauma coletivo emergiu o impulso de criar uma ordem capaz de garantir a paz duradoura, promover o desenvolvimento econômico e articular mecanismos de diálogo e cooperação entre os Estados. Era necessário domesticar a anarquia do sistema internacional e conter os impulsos destrutivos do nacionalismo extremado e do isolacionismo. A solução proposta pelos vitoriosos do conflito foi a criação de um conjunto de instituições multilaterais que expressassem uma nova racionalidade política baseada em normas, regras e governança compartilhada.
A Organização das Nações Unidas, criada em 1945, simbolizou o núcleo dessa nova ordem. Com sede em Nova York, a ONU foi desenhada para ser o fórum global por excelência, capaz de mediar disputas, promover os direitos humanos e articular respostas coordenadas a crises. O Conselho de Segurança, com seus cinco membros permanentes dotados de poder de veto, refletia uma tentativa de acomodar o realismo das grandes potências dentro de um arcabouço institucional de cooperação. A Assembleia Geral, por sua vez, oferecia um espaço de expressão para os demais países, ainda que sem poder decisório vinculante.
Ao lado da ONU, formaram-se outras instituições igualmente estratégicas. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, fundados em Bretton Woods, buscavam assegurar a estabilidade financeira e fomentar a reconstrução econômica dos países devastados pela guerra. A lógica era simples: estabilidade e prosperidade econômica reduziriam o risco de radicalização política e de novos conflitos. A partir dos anos 1990, após o fim da Guerra Fria, essa arquitetura foi ampliada com a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), herdeira do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), com a missão de regular o comércio global e resolver disputas comerciais de maneira imparcial e previsível.
Essas instituições tornaram-se, ao longo do século XX, o que muitos chamaram de “a espinha dorsal da ordem liberal internacional”. Elas permitiram, ainda que de maneira desigual e seletiva, o avanço de agendas comuns em áreas como saúde pública, meio ambiente, direitos humanos e segurança internacional. Foram também fundamentais na consolidação da globalização econômica, promovendo a liberalização dos mercados, a mobilidade de capitais e o aprofundamento das interdependências entre países.
Para muitos, especialmente nos países do Norte global, essa ordem parecia representar um avanço civilizatório irreversível. Havia uma confiança generalizada de que o mundo caminhava, ainda que lentamente, para um horizonte de paz, prosperidade e governança compartilhada. O multilateralismo não era apenas uma técnica de negociação: era uma ideologia, uma crença na racionalidade do diálogo institucional como antídoto contra os horrores do passado.
Contudo, essa visão não era igualmente compartilhada em todo o mundo. Para muitos países do Sul global, a ordem multilateral reproduzia dinâmicas hierárquicas herdadas do colonialismo, e as instituições que supostamente promoviam equidade global muitas vezes serviam aos interesses das potências centrais. Apesar disso, mesmo os países críticos reconheciam o valor da institucionalidade multilateral como espaço de visibilidade, negociação e construção de legitimidade internacional. Havia, portanto, uma tensão latente entre o ideal universalista do sistema e sua prática seletiva — uma tensão que, como veremos, se aprofundaria nas décadas seguintes.
O desgaste progressivo
À medida que as décadas avançaram, a promessa de uma ordem internacional estável, regulada e cooperativa começou a se desgastar. O multilateralismo, que em teoria deveria operar como mediador imparcial e espaço de construção de consensos, passou a ser percebido como moroso, ineficaz e, em muitos casos, enviesado. Em vez de prevenir conflitos e reduzir desigualdades, as instituições multilaterais foram vistas, por muitos, como agentes da manutenção do status quo. Esse desgaste não se deu de forma súbita, mas foi resultado de uma série de episódios que revelaram as limitações estruturais e os impasses políticos do sistema.
A primeira grande fratura simbólica do multilateralismo ocorreu nos anos 1990, quando o mundo testemunhou a paralisia da ONU diante de tragédias humanitárias de proporções devastadoras. Em Ruanda, em 1994, a incapacidade das Nações Unidas de agir para impedir um genocídio anunciado — que resultou em mais de 800 mil mortes — expôs a fragilidade de seu aparato de resposta rápida e a lentidão do processo de tomada de decisão no Conselho de Segurança. Pouco antes, em 1993, a intervenção fracassada na Somália e, mais tarde, a lentidão na reação aos massacres na Bósnia e a omissão diante do cerco de Sarajevo minaram a ideia de que o sistema internacional seria capaz de agir em defesa da vida humana diante de crimes atrozes.
O início do século XXI aprofundou essa percepção com eventos ainda mais marcantes. Em 2003, os Estados Unidos e o Reino Unido decidiram invadir o Iraque sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, alegando a existência de armas de destruição em massa — posteriormente não comprovadas. A ação unilateral não apenas violou o princípio da legalidade internacional como esvaziou simbolicamente o papel das Nações Unidas como árbitro legítimo de decisões sobre paz e segurança. Esse episódio tornou evidente que, mesmo em uma ordem fundada em normas multilaterais, o poder militar continuava sendo o fator decisivo na política internacional.
No campo do comércio, a crise da Organização Mundial do Comércio também se acentuou ao longo dos anos 2000. O fracasso da Rodada de Doha, lançada em 2001 com o objetivo de promover um comércio mais justo e inclusivo, revelou o impasse entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. As negociações emperraram, e a OMC passou a perder relevância como espaço efetivo de construção de acordos. Mais recentemente, o bloqueio por parte dos Estados Unidos à nomeação de juízes para o Órgão de Apelação da OMC comprometeu sua capacidade de resolver disputas comerciais, enfraquecendo ainda mais a credibilidade da instituição.
O próprio sistema financeiro internacional, articulado em torno do FMI e do Banco Mundial, foi alvo de críticas crescentes, especialmente após a crise financeira de 2008. O colapso do sistema bancário nos Estados Unidos e na Europa teve efeitos devastadores em escala global, mas as respostas institucionais priorizaram a salvação de grandes bancos em detrimento das populações afetadas. Muitos países do Sul global perceberam essas instituições como promotoras de uma agenda neoliberal que aprofundava desigualdades e restringia a soberania econômica. As condicionalidades impostas pelo FMI, em especial, passaram a ser vistas como formas de ingerência política e econômica que pouco respeitavam as realidades locais.
Por fim, mesmo áreas tradicionalmente vistas como consensuais, como a saúde global ou a proteção ambiental, começaram a refletir os limites do multilateralismo. A pandemia de COVID-19 escancarou a fragilidade da cooperação internacional: diante de uma crise sanitária planetária, os Estados voltaram-se para soluções nacionais, disputaram insumos, ignoraram recomendações da Organização Mundial da Saúde e priorizaram seus próprios interesses. Já as negociações climáticas, embora mais contínuas, têm se mostrado lentas e insuficientes, com promessas reiteradas de redução de emissões que raramente se concretizam em ações proporcionais à gravidade do problema.
O desgaste, portanto, não se resume à inação diante de crises pontuais. Ele resulta de uma soma de frustrações, contradições e falhas estruturais que corroeram a confiança na capacidade das instituições multilaterais de cumprir sua função normativa e protetiva. A ideia de que essas instituições representavam um “bem público global” passou a ser substituída por uma visão mais cínica e instrumental, na qual sua relevância depende exclusivamente da conveniência dos interesses nacionais das grandes potências.
Diagnóstico e consequências
A crise das instituições multilaterais não é apenas funcional — ela é também simbólica e estrutural. Não se trata apenas de uma redução da eficácia operacional, mas de uma ruptura mais profunda com a legitimidade dos princípios que sustentaram a ordem liberal desde o pós-guerra. A confiança nas regras, nos fóruns de deliberação coletiva e na autoridade imparcial das instituições internacionais foi progressivamente substituída por uma visão utilitária e desconfiada. Países antes comprometidos com a governança multilateral passaram a subverter suas normas quando estas se mostraram inconvenientes a seus objetivos estratégicos. O diagnóstico que se impõe, portanto, é de um sistema que entrou em colapso de dentro para fora, corroído tanto por sua arquitetura desigual quanto pela erosão do compromisso político de seus principais atores.
Entre as causas centrais desse colapso está a assimetria de poder no interior das instituições. O sistema multilateral foi concebido com um viés favorável às grandes potências — o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU é o exemplo mais evidente — e essa desigualdade, que poderia ter sido mitigada com o tempo por reformas inclusivas, acabou cristalizada. Os países emergentes, especialmente aqueles do Sul global, passaram a ver essas instituições como espaços onde suas vozes são sistematicamente marginalizadas. A frustração com a lentidão ou inércia das reformas na ONU, no FMI e na OMC levou muitos desses Estados a buscar fóruns alternativos, como os BRICS, a União Africana ou a CELAC.
Outra dimensão do problema reside no esvaziamento da autoridade normativa dessas organizações. Quando países como os Estados Unidos ignoram decisões da ONU, bloqueiam o funcionamento da OMC ou abandonam tratados internacionais — como ocorreu com o Acordo de Paris e o Acordo Nuclear com o Irã —, enviam ao mundo a mensagem de que o multilateralismo é opcional. Essa atitude estimula outros países a fazerem o mesmo, corroendo ainda mais a força vinculante das normas internacionais. O resultado é uma espécie de anarquia seletiva: as regras valem para alguns, mas não para todos, e sua aplicação depende do peso geopolítico de cada ator.
Além disso, o próprio contexto da globalização contribuiu para o descrédito das instituições multilaterais. Ao mesmo tempo em que expandiu o comércio, a circulação de capitais e o fluxo de informações, a globalização aprofundou desigualdades internas e fragilizou redes de proteção social em muitos países. As instituições multilaterais, ao promoverem políticas de austeridade, abertura de mercados e desregulamentação, foram percebidas como agentes desse processo. Em vez de proteção, segurança e justiça, passaram a ser associadas à precarização, à submissão e à perda de autonomia.
Como consequência, assistimos à emergência de duas tendências que se retroalimentam. De um lado, a proliferação de fóruns paralelos e arranjos regionais que tentam contornar a paralisia das instituições tradicionais. De outro, a retomada do unilateralismo como estratégia legítima de ação no cenário global. Países recorrem a acordos bilaterais, à diplomacia direta e até ao uso da força para defender seus interesses, sem recorrer ou submeter-se a instituições multilaterais. O sistema que prometia governança global se fragmenta em múltiplos tabuleiros, onde o poder de fato substitui a autoridade institucional.
Essa desordem, porém, não significa ausência de normas — mas sim um regime de normas frágeis, disputadas e cada vez mais particularistas. A noção de “comunidade internacional” perde densidade, e os mecanismos de cooperação se tornam voláteis, sujeitos a rupturas repentinas. Em um cenário assim, crises humanitárias, conflitos armados, pandemias e mudanças climáticas tornam-se ainda mais difíceis de enfrentar, justamente por carecerem de respostas coordenadas e legitimadas globalmente.
A consequência mais grave desse quadro talvez seja a perda da confiança pública no multilateralismo como horizonte ético-político. Se as instituições não são capazes de proteger os mais vulneráveis, garantir justiça nas relações entre Estados ou mediar conflitos com legitimidade, por que defendê-las? Essa pergunta, que antes circulava em círculos críticos ou acadêmicos, passou a ser feita por líderes políticos, empresários e setores da sociedade civil. O multilateralismo, que já foi símbolo de esperança e civilidade, corre o risco de se tornar um anacronismo — ou, pior, um instrumento desacreditado a serviço dos fortes.
Conclusão: reconstrução ou ruína?
A crise das instituições multilaterais é, antes de tudo, um espelho das transformações mais amplas do sistema internacional. Ela reflete a erosão de um projeto político inaugurado no pós-guerra, baseado na ideia de que a convivência entre os povos poderia ser regulada por normas compartilhadas, mediada por fóruns neutros e orientada por princípios universais. Hoje, essa narrativa encontra-se ameaçada não apenas pela ascensão de potências revisionistas ou pelo enfraquecimento da autoridade institucional, mas também pela mudança profunda nos valores e nas expectativas que moldam a política global.
O cenário atual não é de colapso repentino, mas de decomposição progressiva. As instituições ainda existem, seus rituais ainda são mantidos, seus fóruns ainda funcionam. Mas sua influência real, sua capacidade de produzir consensos efetivos e sua legitimidade diante da opinião pública estão em declínio. O multilateralismo tornou-se, em muitos casos, uma linguagem formal que encobre disputas assimétricas, um teatro político que repete promessas enquanto foge dos conflitos mais incômodos.
Nesse contexto, a reconstrução da ordem internacional liberal exige mais do que reformas técnicas ou ajustes administrativos. Trata-se de uma tarefa política profunda, que passa pela redefinição do propósito das instituições multilaterais, pela ampliação efetiva da representatividade nos fóruns globais e pela reconstrução do pacto ético que as sustenta. Isso implica reconhecer os erros e limitações do passado, abandonar a retórica universalista vazia e escutar com seriedade as demandas dos atores historicamente marginalizados.
É possível, ainda, vislumbrar sinais de reinvenção. A criação de fóruns regionais mais inclusivos, o fortalecimento de redes de cooperação transnacional em temas como saúde, clima e segurança alimentar, e a pressão da sociedade civil por maior transparência e accountability são elementos que podem contribuir para um novo ciclo de legitimidade institucional. No entanto, sem um compromisso político claro das grandes potências e sem uma revisão crítica do modelo de governança global, esses esforços correm o risco de permanecer periféricos.
Ao final, a questão que se impõe não é apenas se as instituições multilaterais sobreviverão, mas se elas conseguirão recuperar sua relevância. O mundo do século XXI é mais complexo, mais multipolar e mais contestado do que aquele em que essas instituições foram concebidas. Adaptá-las a essa nova realidade requer coragem política, humildade histórica e uma disposição genuína para construir uma ordem internacional mais justa, plural e eficaz.
Caso contrário, o que restará será uma ordem global fragmentada, onde a força substituirá a norma, o interesse nacional substituirá o bem comum, e o multilateralismo não passará de uma lembrança nostálgica de um tempo em que o mundo acreditou que era possível governar o caos com base na razão.
Apresentação da série
A presente série de artigos busca compreender o colapso da ordem internacional liberal a partir de uma perspectiva crítica, histórica e multidimensional. Ao invés de se limitar à análise pontual de eventos contemporâneos, os textos propõem uma leitura estrutural dos processos que levaram à crise do multilateralismo, à ascensão de lideranças populistas e à emergência de novas configurações de poder global. Através de seis ensaios interligados, abordam-se as principais fraturas que desestabilizam o modelo liberal: a perda de legitimidade das instituições internacionais, as contradições internas das democracias liberais, o retorno do nacionalismo e da desglobalização, a disputa por hegemonia entre potências emergentes, a crise do discurso universalista e, por fim, a figura de Donald Trump como expressão simbólica desse esgotamento histórico. O conjunto dos textos fornece um panorama abrangente dos desafios contemporâneos à ordem internacional, contribuindo para um debate mais profundo sobre os rumos possíveis da política global no século XXI.
Títulos dos artigos da série
- A crise das instituições multilaterais: erosão da confiança e perda de legitimidade
- As contradições internas das democracias liberais: quando a promessa vira ressentimento
- A desglobalização e o retorno do nacionalismo: o fim da era da abertura?
- A disputa por hegemonia e a emergência de ordens alternativas: o mundo já não é unipolar
- A crise de valores e do discurso universalista: quando o mundo rejeita a fala do centro
- Donald Trump como sintoma: o desmonte da ordem liberal e a reconfiguração do poder global
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X