
A recente intensificação das relações entre a Moldávia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) tem gerado preocupações sobre possíveis desdobramentos negativos no cenário internacional. Essa aproximação ocorre em um contexto já marcado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, conflito que, em parte, se deve às interações da OTAN na região.
Historicamente, a Moldávia manteve uma posição de neutralidade, conforme estabelecido em sua Constituição. No entanto, eventos recentes indicam uma mudança nessa postura. Em outubro de 2023, a Moldávia realizou exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos, envolvendo mais de 200 militares de ambos os países. Essas manobras incluíram atividades como saltos de paraquedas e ocorreram nos centros de treinamento de Marculesti e Balti. Além disso, uma aeronave da OTAN, o C-17 Globemaster, pousou no aeroporto de Marculesti durante esses exercícios, simbolizando o fortalecimento da cooperação militar entre a Moldávia e a aliança ocidental.
A Rússia, por sua vez, tem manifestado preocupação com essa aproximação. O Ministério das Relações Exteriores russo acusou a OTAN de tentar transformar a Moldávia em um centro logístico para abastecer o exército ucraniano, além de buscar aproximar sua infraestrutura militar das fronteiras russas. A porta-voz do ministério, Maria Zakharova, afirmou que a maioria da população moldava não deseja ingressar na aliança militar liderada pelos Estados Unidos.
A região da Transnístria, território separatista pró-Rússia dentro da Moldávia, também está em foco. A presença de tropas russas na Transnístria e a possibilidade de a Rússia utilizar essa região como ponto estratégico aumentam as tensões. Analistas sugerem que, caso a Rússia avance pelo sul da Ucrânia, poderia tentar estabelecer uma conexão terrestre com a Transnístria, criando uma ponte que atravessaria o sul ucraniano e se aproximaria ainda mais das fronteiras da OTAN.
A expansão da OTAN para o leste europeu tem sido um ponto sensível nas relações internacionais. A Rússia vê essa expansão como uma ameaça direta à sua segurança nacional. A possibilidade de países como a Ucrânia e a Moldávia se tornarem membros da aliança é percebida por Moscou como uma linha vermelha, o que pode levar a respostas assertivas por parte do Kremlin. Em negociações recentes, a Rússia destacou que a adesão da Ucrânia à OTAN é inaceitável, embora não se oponha à sua entrada na União Europeia.
Nesse contexto, a aproximação da Moldávia à OTAN pode ser vista como um fator desestabilizador adicional. A intensificação dos laços militares entre a Moldávia e o Ocidente pode ser interpretada pela Rússia como uma provocação, potencialmente levando a escaladas militares ou a ações destinadas a reafirmar a influência russa na região. Além disso, movimentos nesse sentido podem exacerbar divisões internas na Moldávia, especialmente considerando as diferentes orientações políticas e identitárias de sua população.
Portanto, enquanto a Moldávia busca fortalecer sua segurança e soberania por meio de parcerias ocidentais, é crucial considerar os possíveis impactos dessa estratégia no equilíbrio geopolítico regional. A história recente demonstra que movimentos percebidos como ameaças por potências regionais podem desencadear conflitos de larga escala, como evidenciado pela atual guerra entre Rússia e Ucrânia.
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X