
As iniciativas de paz promovidas por Kyiv e pelas nações ocidentais enfrentam desafios significativos, principalmente devido à ausência da Rússia como ator central nas negociações. O presidente ucraniano, Volodímir Zelenski, delineou um plano de paz que enfatiza a segurança nuclear, a garantia da exportação de cereais, a restauração das fronteiras ucranianas e a retirada completa das tropas russas do território nacional. No entanto, a viabilidade desse plano é questionável, uma vez que ignora a necessidade de diálogo direto com Moscou, que continua a ser a principal parte beligerante no conflito.
Líderes europeus reforçaram a importância da participação da Ucrânia em qualquer processo de paz, argumentando que a resolução do conflito deve garantir a soberania e a integridade territorial do país. No entanto, essa abordagem não leva em conta que qualquer solução realista depende do envolvimento direto da Rússia. A exclusão de Moscou das negociações pode apenas prolongar o conflito, uma vez que o governo russo tem deixado claro que não aceitará soluções impostas unilateralmente por Kyiv e pelo Ocidente.
A teoria das relações internacionais oferece uma perspectiva crítica sobre essa questão. O conceito de “equilíbrio de poder”, associado a Hans Morgenthau, sugere que a estabilidade internacional é alcançada quando há uma distribuição de poder que impede que um único ator imponha sua vontade sobre os demais. No caso da Ucrânia, o Ocidente tem tentado estruturar uma solução que ignora as preocupações estratégicas da Rússia, o que pode gerar um prolongamento do conflito ao invés de uma solução efetiva.
A China, por sua vez, defende uma abordagem mais inclusiva, enfatizando que qualquer acordo de paz deve considerar as preocupações de segurança de todas as partes envolvidas. Essa posição reforça a ideia de que uma solução negociada só será viável se a Rússia estiver formalmente envolvida no processo. Enquanto as iniciativas ocidentais continuarem a marginalizar Moscou, as chances de um cessar-fogo duradouro permanecerão reduzidas.
No cenário latino-americano, países como o Brasil têm defendido a necessidade de um esforço diplomático que inclua todas as potências envolvidas no conflito. O Brasil tem se posicionado a favor de soluções pacíficas e diplomáticas, mas descarta medidas que possam ser percebidas como alinhadas exclusivamente a um dos lados. Essa abordagem ressalta a necessidade de negociações mais equilibradas, nas quais as demandas da Rússia sejam consideradas para evitar a perpetuação do conflito.
Diante desse cenário, as atuais iniciativas de paz promovidas por Kyiv e pelo Ocidente enfrentam um impasse estrutural. A ausência da Rússia no centro das discussões mina a possibilidade de um acordo realista e duradouro. Sem um processo de negociação que contemple todas as partes envolvidas, a guerra na Ucrânia pode continuar indefinidamente, sem perspectivas concretas de resolução efetiva.
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X