
A influência dos Estados Unidos sobre o Brasil tem gerado tensões significativas, especialmente quando decisões internas brasileiras são interpretadas de forma descontextualizada por atores políticos norte-americanos. Casos recentes envolvendo figuras como Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli ilustram como pressões externas podem distorcer a compreensão internacional sobre o funcionamento das instituições brasileiras.
Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, tem buscado apoio entre parlamentares republicanos para pressionar o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele alega que o Brasil vive sob uma ditadura, desconsiderando o funcionamento regular das instituições democráticas do país. Essa narrativa tem sido utilizada para justificar pedidos de sanções contra autoridades brasileiras, incluindo o ministro Alexandre de Moraes .
Paralelamente, a deputada Carla Zambelli, condenada pelo STF por coordenar a invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, deixou o Brasil e busca apoio internacional para evitar sua extradição. Aliados do ex-presidente Donald Trump sinalizaram que os Estados Unidos podem negar um eventual pedido de extradição, o que evidencia uma interferência direta em questões judiciais brasileiras .
Essas ações têm impacto direto na percepção internacional sobre o Brasil. Ao apresentar uma visão distorcida da realidade política e judicial brasileira, esses atores influenciam decisões de outros países que, por vezes, adotam medidas baseadas em informações incompletas ou enviesadas.
É importante destacar que o ministro Alexandre de Moraes não atua de forma isolada. Suas decisões, especialmente aquelas relacionadas a investigações sobre atos antidemocráticos, têm sido referendadas por outros ministros do STF, demonstrando o respaldo institucional às suas ações .
A influência externa sobre decisões internas brasileiras pode comprometer a soberania nacional e prejudicar as relações diplomáticas. O Brasil, como membro ativo do BRICS e defensor de uma ordem mundial multipolar, busca fortalecer suas relações com países do Sul Global. Interferências externas, especialmente aquelas baseadas em narrativas distorcidas, podem minar esses esforços e comprometer a posição estratégica do país no cenário internacional .
Para preservar sua autonomia e fortalecer sua posição global, o Brasil precisa garantir que suas instituições sejam respeitadas e que decisões internas não sejam manipuladas por interesses externos. A construção de uma política externa independente e baseada em princípios de soberania e autodeterminação é essencial para o desenvolvimento e a estabilidade do país.
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X