O sistema político-econômico mundial está sofrendo mudanças significativas, à medida que novos atores emergentes, além de antigos que estão retomando a sua presença política no cenário internacional, estão redesenhando mais uma vez a estrutura deste sistema, criando outros polos de poder. No início do século XXI, a China, depois de algumas décadas de reformas econômicas internas, apoiada em sua estabilidade política doméstica, tornou-se o foco dessa importante mudança e parece estar objetivamente inclinada a promover um novo centro econômico mundial alternativo na Ásia. Para alcançar este objetivo principal uma iniciativa diplomática, política e econômica é extremamente importante para financiar a Nova Rota da Seda, além de fomentar uma ampla colaboração entre os países que compõe a Organização para Cooperação de Xangai, estabelecendo parcerias estratégicas com países como a Federação Russa.
A “alternativa” chinesa abriu inúmeras possibilidades aos russos que passaram a enfrentar, durante todos os governos de Putin e Medvedev, uma significativa oposição de europeus e os Estados Unidos. À exemplo estão as últimas sanções econômicas que ocorreram nos últimos anos e as ingerências nos assuntos domésticos de países estratégicos e que estão próximo, ou fazem fronteira com o território russo como Ucrânia, Turquia, Uzbequistão e Geórgia, em uma clara tentativa de expansão da OTAN. A China, por sua vez, também sofre ameaças na península coreana, onde um conflito traria consequências diretas para a sua estabilidade política regional, assim como a competição com os Estados Unidos no mar do Sul, a questão de Taiwan e regiões que ainda possuem forte apelo separatista como o Tibet e Xingjiang. Estas questões promovem uma aproximação estratégica entre chineses e russos, que visam juntos equilibrar a atuação dos americanos, em especial em locais do Globo importantes para seus interesses.
Desta forma, a China também acabou por tornar-se uma alternativa de curto prazo à economia russa com exportações, importações e investimentos. É importante relembrar que a Rússia ainda está em um processo de reconstrução da situação caótica deixada pela Perestroika / Glasnost de Gorbatchiov, e a terapia de choque neoliberal de Ieltsin, grandes aliados dos EUA e Europa ocidental, na época, que no decorrer da transformação para a economia de mercado, durante os anos 1980 e 1990, fizeram o país regredir em -50% a sua economia, quase resultando em um total desmantelamento do Estado Russo. Por este motivo, a Rússia teve de enfrentar guerras separatistas e uma intensa depressão social.
A economia russa ficou reduzida praticamente a exportação de petróleo, gás, tecnologia espacial e bélica, pontos fortes do país, remanescentes do período soviético. Atualmente a diversificação econômica é um dos objetivos crucias, já que país produz muito pouco e é altamente dependente de importações. Por conseguinte, uma cooperação estratégica a longo prazo com a China poderia trazer investimentos financeiros, assim como iniciativas de joint venture, especificamente em campos tecnológicos, científicos e de produção. Mesmo a União Econômica Eurasiática da Rússia (EEU), depende muito da China, já que o próprio Vladimir Putin disse que a EEU poderia servir como uma integração econômica capaz de alinhar Berlim, Moscou e Pequim, criando uma nova rota comercial.
Todas essas iniciativas também visam diminuir a influência dos Estados Unidos na Europa, Oriente Médio, Ásia central e na Ásia em si, regiões geopolíticas e econômicas de extrema importância para ambos os países, que os EUA conseguiram expandir sua esfera de influência, favorecendo e controlando direta e indiretamente governos contrários aos interesses de russos e chineses. Assim, sendo a Rússia é a única capaz de incitar um equilíbrio de poder com os Estados Unidos, no que diz respeito ao campo militar, e a China atuando como um concorrente econômico que ameaça diretamente o poder de barganha americano, eles, juntos, podem e almejam colocar um fim no mundo unipolar que foi criado após o fim da União Soviética, cujo centro de poder está em Washington.
Não é uma coincidência que China e Rússia, estejam buscando uma aproximação da América do Sul, uma esfera de influência direta dos EUA. A China já se tornou o principal parceiro econômico da região, e a Rússia tenta persuadir os parceiros sul-americanos de que pode ser uma fonte militar e política alternativa para eles. No Brasil, a China já substituiu os Estados Unidos como principal parceiro comercial e de investimento, sendo o maior importador de bens, commodities e mercadorias brasileiras. Os chineses, para além da parceria econômica, buscam encontrar novos aliados, em uma cooperação multilateral, em organizações internacionais e fóruns. Essa é uma das razões por trás da existência do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
A construção de um novo centro econômico na Ásia pode ser atraente para muitos países e regiões como América do Sul. O Brasil pode ver nesta aliança estratégica sino-russa uma grande alternativa à sua rota comercial do Atlântico Sul, o que significa mais negócios e mais cooperação, mesmo na esfera política. Mesmo que russos e chineses busquem em sua parceria soluções para problemas de curto prazo, eles podem, ao longo das décadas, impulsionar a alternativa de um segundo e novo centro de poder político e econômico, equilibrando forças com o Ocidente pela primeira vez, desde o colapso soviético.