Estou preparando uma série de palestras sobre o Islã para o curso de Relações Internacionais da ESPM. Este é um tema pelo qual tenho imenso interesse, sobretudo devido aos preconceitos que grassam no Ocidente a respeito da fé e da comunidade muçulmanas.
Tendo servido ao longo da minha carreira em seis países onde o Islã é presença maior – Índia (a 3ª. maior comunidade muçulmana do planeta), Paquistão, Afeganistão, Bangladesh, Cazaquistão e Jordânia – e convivido com vários dos seus matizes – da severidade fundamentalista no Paquistão e Afeganistão ao “liberalismo” no Cazaquistão – decidi aprofundar os meus estudos sobre o Islã e compartilhar com os amigos o que pude aprender…
E um dos temas que mais me fascinam nesse universo é o sufismo, a corrente mística que busca o contato direto com o Divino. Para atingir este estado, o fiel persegue vários passos e utiliza vários meios, tanto físicos – opiáceas – como psíquicos – o transe (como os “dervishes”). Este movimento de ascetismo radical tem raízes antigas:deriva da reação ao caráter mundano que a expansão do Islã, nos séculos VIII / IX estava disseminando no seio da “Umma”, a comunidade dos fiéis. Um dos seus elementos fundamentais é o abandono dos desejos “perversos”, como a ganância e a vaidade. Aliás, o sufismo é conhecido como “tasawwuf” em árabe (literalmente “vestido com lã”), que remete à indumentária frugal dos primeiros ascetas, conhecidos como “fuqara” (pobres), em árabe, e “dervish”, em urdu/persa.
Duas das “armas” de que os sufistas lançam mão nas suas manifestações são a música devocional – “Qawwali” – e a poesia. O grande poeta Maulana Jalaladim Maomé, também conhecido como Rumi, que viveu no século XIII – que muitos brasileiros conhecem – é um dos seus expoentes. Sua poesia afronta princípios ortodoxos do Islã e revela a heterogeneidade na interpretação do Alcorão que escapa à percepção preconceituosa dos ocidentais. A poesia abaixo, por exemplo, demonstra um elo com o conceito da metempsicose dos hindus:
“ Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo – um punhado de pó –
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
No que toca à música – Qaawali – os nomes dos cantores Fateh Ali Khan e Abida Parveen são os mais conhecidos internacionalmente. Escolhi uma interpretação da Abida Parveen, a quem tive o privilégio de assistir em Islamabad, para ilustrar o que mencionei acima:
Outro exemplo da poesia sufista é o poema (musicado por Henry Corbyn) de Abū Bakr Muhammad ibn ‘Alī ibn ‘Arabi, mais conhecido como Ibn Arabi, Abenarabi e Ben Arabi. Ibn Arabi foi um místico sufista, filósofo, poeta, viajante e sábio hispano-muçulmano que viveu no século XII.na Andaluzia.
Proponho aos amigos que se interessam por questões religiosas que assistam a estes dois vídeos:
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