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Até tu, Índia… ou cruzada de D. T.

O jornal indiano Hindustan Times publicou hoje que o governo americano anunciou dois dias atrás, formalmente, a exclusão da Índia da lista dos países em desenvolvimento que se beneficiam do “Sistema Geral de Preferências”/”Generalized System of Preferences (GSP), para suas exportações dirigidas aos EUA. A Índia tem sido um dos maiores beneficiados por este programa, que autoriza a entrada sob tarifa zero de produtos provenientes de 120 países em desenvolvimento no mercado norte-americano. Fruto disto, os indianos exportaram cerca de US$ 6.3 bilhões de bens aos Estados Unidos em 2018.

No entender de Washington, Delhi não tem reciprocado sua “boa vontade” e oferecido garantias de acesso (“equitable and reasonable”) ao mercado indiano. O alto funcionário americano que anunciou a decisão qualificou-a de um “done deal”, e acrescentou que é chegado o tempo de os dois países buscarem resolver suas pendências (“irritants”) comerciais. Na mesma ocasião, ele deixou aberta a possibilidade de se rever a decisão “se e quando a Índia atender aos pleitos das empresas farmacêuticas e de laticínios americanas”, dois dos principais setores interessados em maior acesso ao mercado indiano. A medida tomará efeito a partir do dia 05 de junho que vem.

D.T. amplia, pelo que se sente, sua “guerra comercial” para além da China e inclui um outro “gigante” internacional na sua lista de “antagonistas”. Embora seja compreensível a preocupação do Presidente americano com relação à perda de competitividade das empresas do seu país no cenário global, a recíproca é igualmente verdadeira: será que o processo de introversão em curso dos Estados Unidos – tanto na esfera política quanto econômico-comercial – e o acirramento dessas disputas já não é de certa forma anacrônico, frente ao evidente deslocamento da geoeconomia para outras regiões do planeta, sobretudo para a Ásia? Difícil dilema…

Por outro lado, conforme se sabe, o comércio dos países asiáticos se efetua sobretudo entre eles próprios, e não com o Ocidente, como se imagina por aqui. Em outras palavras, não estaria o caçador entregando a caça à guarda do lobo, abrindo espaço para que os obstáculos criados na sua rota para o Ocidente entregue o Oriente cada vez mais aos seus próprios destinos?

Complexo…muito complexo…

Sugiro aos maigos que leiam a matéria do “Hindustan Times”:

HINDUSTANTIMES.COM

US to end trade privileges for India on June 5, says Donald Trump

Fausto Godoy
Doutor em Direito Internacional Público em Paris. Ingressou na carreira diplomática em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli, Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.