As sanções internacionais são um instrumento de política externa extremo, geralmente adotados quando as vias diplomáticas não funcionam como esperado. As sanções comerciais têm como objetivo isolar o país dos fluxos comerciais internacionais, levando a um estrangulamento de sua economia. Com isso, espera-se que a população local sinta as limitações e passe a pressionar seus governantes para alterar a situação que levou à sanção internacional. Em termos lógicos parece ser uma boa política, mas não é.
Ainda que a sanção seja direcionada para um determinado governo, na prática seus principais impactos são sobre a população, pessoas que têm poucas, quando alguma, condição de inflenciar no comportamento governamental. A limitação do acesso a mercadorias internacionais, bem como o impacto negativo do empobrecimento coletivo resultante de uma economia mais fraca recai sobre pessoas.
Outra questão é que as sanções econômicas são “normalizadas” depois de um certo tempo. A agenda política que levou à decretação das sanções são logo generalizadas e o processo se torna muito mais ideológico do que efetivamente focado numa questão. Basta vermos a questão dos embargos econômicos impostos pelos Estados Unidos à Cuba, em 1962. O contexto no qual foram criados são diferentes em todas as dimensões que queiramos analisar, ainda assim, a proposta continua. O resultado é claramente fracassado e a agenda por trás da manutenção destes embargos é mais político-eleitoral dos EUA do que propriamente uma política externa. Estima-se que o impacto sobre a economia cubana ao longo do período dos embargos atinge o montante de 89 bilhões de dólares.
No caso venezuelano, as sanções norte-americanas foram iniciadas em 2013 com o objetivo de estrangular o governo de Maduro. O resultado, segundo o Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica é um impacto de 350 bilhões de dólares para a economia venezuelana, além do fechamento de 3 milhões de postos de trabalho (ver Las consecuencias económicas del boicot a Venezuela).
Estes são apenas algumas das sanções atuais e que mostram seu fracasso como proposta de atuação internacional. Muitas outras mundo afora poderiam ser citadas, como Congo, Coreia do Norte, Líbano, Rússia e Somália. Somente dos Estados Unidos para outros países hoje são 19 os atingidos (ver a lista aqui).
Ainda que até aqui tenha focado nas sanções econômicas dos Estados Unidos contra outros países, eles não são os únicos. A União Europeia também tem implementado esse mesmo tipo de estratégia, com os mesmos limites de eficácia.
Ao olharmos para a condição brasileira, não é nada confortável em termos de potencial de sanções e embargos. Potencialmente enfrentaremos grandes problemas numa possível eleição de Joe Biden nos EUA, basta olhar suas declarações sobre as políticas brasileiras e o comportamento de outros governos democratas ao longo das últimas décadas.
Ao mesmo tempo, ao olharmos recentes declarações vindas da União Europeia e de países europeus, vemos que o cenário também é bem desconfortável. Nossa atual política ambiental é um dos grandes focos de críticas e ameaças de sanções, mas não só, já tivemos problemas por conta de direitos humanos.
Não se trata aqui de defender a nossa política ambiental (que, em minha opinião, atualmente é desastrosa), mas de sinalizar que sanções comerciais e embargos não devem ser considerados como possibilidades. Ao final os governos pouco alterarão de suas políticas e que sofrerá as consequências, são os cidadãos.