Recentemente, o atual presidente dos EUA, Joe Biden, reconheceu o genocídio armênio, o que desencadeou alguns desentendimentos entre o presidente norte-americano e o turco. Afinal, ambos países são membros da OTAN (Tratado do Atlântico do Norte), isto é, têm uma relação no que diz respeito a questão militar e, o reconhecimento não foi visto com bons olhos pela Turquia, chegando a ser taxada como ato capaz de “ferir” e “danificar” as relações no que tange a organização militar.
Outro fator que corroborou para o clima ter ficado um pouco mais quente foi o conflito ocorrido nos meses de setembro e outubro de 2020 entre a Armênia e o Azerbaijão, na região de Nagorno-Karabakh, onde a Turquia apoiou o governo do Azerbaijão com discursos favoráveis, oferecendo até ajuda militar e serviços militares, segundo o jornalista turco, Hamza Tekin. Portanto, naquela ocasião, caso tivesse acontecido uma guerra, o auxílio turco poderia, em algum momento, ter a participação da OTAN. Todavia, dada a atitude de Biden, pode ser observado que, talvez, além da mensagem de solidariedade com o povo armênio, o chefe de governo americano também esteja passando uma mensagem para a política externa de Erdogan.
No início do século XX, durante a primeira guerra mundial, entre os anos de 1915 a 1918, ocorreu o genocídio armênio, que foi um massacre étnico ocasionado pelo Império Otomano, um Estado localizado onde, atualmente, se encontra a Turquia. Existe uma grande discordância quanto ao número de mortes, algumas estimativas sugerem de 300 mil a 2 milhões de mortes. Porém, a maior parte das estimativas feitas falam de 600 mil até 1,5 milhões de mortes.
Tendo em vista que o Império Otomano entrou na primeira guerra mundial para lutar ao lado da Tríplice Aliança, formada por Alemanha e Império Austro-Húngaro. Portanto, havia um certo temor por parte dos líderes otomanos de que os armênios, localizados em território otomano, se aliassem aos russos, que faziam parte da Tríplice Entente.
Sendo assim, um debate muito fervoroso existe a respeito desse acontecimento, principalmente se o massacre praticado contra o povo armênio pode ser considerado um genocídio. Isso acontece pois, na época ainda não havia sido inventado o termo genocídio, criado esse somente em 1944 pelo polonês Raphael Lemkin, após os crimes cometidos pelos nazistas na segunda guerra mundial contra o povo judeu.
Além da própria Armênia, alguns outros países reconheceram que houve um genocídio, como a Alemanha, Rússia, França, Vaticano e até mesmo o Parlamento Europeu. Um dos países que nega veementemente o genocídio é a Turquia, que reconhece as mortes, mas diz não ter ocorrido um crime propriamente dito. Sendo isso reforçado em uma fala do atual presidente turco, Recep Erdogan, afirmando que o ocorrido foi desumano, mas apesar de prestar respeito as vítimas, não reconheceu que houve um genocídio. Uma das principais consequências desse ato de Biden, é a deterioração das relações entre Estados Unidos e Turquia, o que pode significar a perda de um aliado dos americanos na política externa, já que a Turquia é um dos membros da OTAN.
Fontes:
A Dalloul Motasem. Nagorno-Karabakh, vitória estratégica para a Turquia. Monitor do oriente. 13 de novembro de 2020. Disponível em: https://www.monitordooriente.com/20201113-nagorno-karabakh-vitoria-estrategica-para-a-turquia/. Acesso em 11 de maio de 2021.
G1. Biden reconhece como genocídio o massacre de armênios no século XX; entenda o que foi e quais as repercussões. 24 de abr de 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/04/24/biden-reconhece-como-genocidio-o-massacre-de-armenios-no-seculo-xx-entenda-o-que-foi-e-quais-as-repercussoes.ghtml . Acesso em: 10 de maio de 2021.
Corrêa Alessandra. O que foi o massacre de armênios que Biden definiu como “genocídio”. BBC NWES. 24 de abr de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56875237. Acesso em: 10 maio de 2021.
Roache Madeline. What Biden’s Recognition of Armenian Genocide Means to Armenian-Americans. TIME. 27 de abr de 2021. Disponível em: https://time.com/5959135/biden-armenia-genocide/ . Acesso em: 11 de maio de 2021.
Autores: Gustavo Cunha e Matheus Colucci