Por Gabriela Lombardi e Thomas Corsaro
Desde a última eleição presidencial na França, em 2017, as pesquisas eleitorais indicavam, em sua totalidade, que a votação de 2022 seria novamente muito disputada, assim como em 2017, entre Emmanuel Macron do partido La République En Marche (A República em Marcha) e Marine Le Pen, do partido de extrema-direita Rassemblement National (Reunião Nacional). Porém, com a ascensão de um novo candidato a seis meses do pleito, as expectativas podem ser invertidas.
Este novo candidato, Éric Zemmour, é um jornalista francês, também de extrema-direita, novato na política. A possível candidatura de Zemmour vem embaralhando a disputa eleitoral para a próxima Presidência. Conhecido por diversas polêmicas, como de ser acusado de proferir discursos de ódio em vários de suas aparições na TV francesa e de ser um negacionista quanto ao Holocausto Judeu da Segunda Guerra, o candidato segue subindo rapidamente nas pesquisas de opinião, enfraquecendo a candidatura de Marie le Pen. Diante o exposto, torna-se nítido uma certa preocupação por parte de Macron e seu partido sobre as consequências que podem ocorrer ao longo dos próximos meses.
Zemmour tem como ambição usurpar a posição de direita-extrema no campo da presidência eleitoral francesa, atualmente ocupada por Marie Le Pen. O jornalista proclama representar a “verdadeira” direita conservadora e disse que Le Pen tem se tornado “moderada demasiadamente” ao longo de sua carreira política, perante tentativas da candidata do RN de atrair mais votos. Ele considera que a imigração crescente de refugiados e não-refugiados estrangeiros, especialmente aqueles provindos de países islâmicos, irá destruir a França por meio da “substituição” de sua população europeia branca e prevê que conflitos raciais irão se escalar até que aconteça uma “Guerra Racial”, expondo estas ideias em seu livro mais recente: La France N’a Pas Dit Son Dernier Mot (A França Não Há Dito Sua Última Palavra). Ademais, ele afirma que minorias étnicas “tomaram” vários bairros na França e que os valores tradicionais de mulheres e homens brancos heterossexuais estão sob ameaça da “Ideologia Gay”.
O candidato se disse admirador de “certos aspectos” dos governos de Donald Trump e do acordo Brexit, principalmente quanto a assuntos relacionados a imigração. Zemmour diz que deseja criar um bloco político que conectaria a centro-direita com grupos mais extremistas, o que conquistaria um maior número de votos, tanto da classe baixa quanto a da classe que chama de “burguesia patriótica”.
Conforme as últimas previsões de opinião eleitorais da Harris Interactive para a revista Challenges, Zemmour chegaria ao segundo turno com 17% dos votos, deixando pela primeira vez Le Pen para trás, com 15%, e Macron se mantendo na liderança com 24%. Em menos de um mês, Zemmour dobrou seus resultados nas pesquisas, passando de 7% a 17% das intenções de votos. Em outra pesquisa, esta do instituto Ifop, Bertrand da direita republicana, e Le Pen estão empatados com 16%, enquanto Zemmour registra 14%. Embora com menos intenções de votos do que os rivais diretos e ainda dentro da margem de erro, o jornalista continua sua ascensão, com dois pontos percentuais a mais do que na pesquisa anterior, enquanto Le Pen perde dois pontos. Com base no seu posicionamento radical, os grupos de votantes franceses atraídos a Zemmour não são dissimilares aos grupos de votantes americanos atraídos a Donald Trump em 2016, grupos conservadores e reacionários, geralmente mais presentes em áreas rurais do país, além daqueles desiludidos pelo atual sistema político que não tendem a votar por não se sentirem representados por nenhum candidato. Entre estes, destaca-se o próprio Jean-Marie Le Pen, fundador do Fronte Nacional, declarou que votará no “polemista” se ele tiver mais chances do que sua filha na disputa eleitoral.
Entretanto, não é certo que Zemmour consiga se candidatar, algo que nem anunciou oficialmente ainda, além do fato que precisa conseguir 500 assinaturas de políticos do país, geralmente prefeitos, para apresentar uma candidatura oficial. Porém, não deixa de ser uma preocupação, já que as mudanças no cenário da eleição presidencial podem representar um problema para Macron, que teria sua presença assegurada no segundo turno, segundo todas as pesquisas. Contudo, pode ser uma vantagem para a LREM, caso a candidatura de Zemmour divida o voto de esquerda entre ele e Le Pen.
Nesse sentido, com foco na reeleição, Macron anunciou no dia 12 de outubro de 2021, um plano de investimentos de 30 bilhões de euros para estimular a indústria na França até 2030, tendo investimentos maciços em setores como energia nuclear, hidrogênio e agricultura limpos, além de biomedicamentos e corrida espacial. O objetivo é reposicionar o país como uma liderança na inovação e na tecnologia de ponta e, simultaneamente, combater as mudanças climáticas. A ambição do pacote “França 2030” é descarbonizar a economia francesa, apostando em uma reindustrialização com menor emissão de gás carbônico. Impulsionado pela recuperação econômica após a Covid-19, o atual presidente lança tarefa para fazer frente aos rivais e tentar se manter no Palácio do Eliseu até 2027.
Referências:
BASSETS, Marc. De olho na reeleição, Macron anuncia plano de 30 bilhões de euros para revitalizar indústria na França. O Globo, 13 de outubro de 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/de-olho-na-reeleicao-macron-anuncia-plano-de-30-bilhoes-de-euros-para-revitalizar-industria-na-franca-25234653. Acesso em: 14/10/2021.
CHRISAFIS, Angelique. French far right’s new face: the meteoric rise of Éric Zemmour. The Guardian International, 8 de outubro de 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2021/oct/08/same-old-french-far-right-the-meteoric-rise-of-eric-zemmour. Acesso em: 14/10/2021.
Em busca de reeleição, Macron lança plano de 30 bilhões de euros para descarbonizar economia francesa. UOL Internacional, 12 de outubro de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/10/12/em-busca-de-reeleicao-macron-lanca-plano-de–30-bilhoes-para-descarbonizar-economia-francesa.htm. Acesso em: 14/10/2021.
FERNANDES, Daniela. Jornalista de extrema-direita tem ascensão meteórica em pesquisas e ameaça reeleição de Macron na França. BBC News Brasil, 12 de outubro de 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58878881. Acesso em: 14/10/2021.