ISSN 2674-8053

Energia Limpa

Artigo elaborado por Helena Francesconi e Maria Cerdeira

A transição para matrizes sustentáveis de energia é uma tendência mundial que, conforme a Agência Internacional de Energia Renovável, deve continuar. Os relatórios do Estado da União da Energia, compartilhados pela Comissão Europeia, mostram que em 2020 as fontes de energias renováveis se destacaram na União Europeia ao se tornarem protagonistas frente aos combustíveis fósseis. Esse movimento de preocupação com o meio ambiente na Europa só tende a se ampliar, através das políticas e investimentos nesse tipo de energia, para atingirem seus objetivos e caminharem em direção a um desenvolvimento consciente.

Energia limpa é a produção de energia sem proporcionar malefícios ao meio ambiente, sem emitir gases para a atmosfera que podem intensificar o efeito estufa e sem emitir resíduos de forma geral. São consideradas energias limpas a energia solar, eólica, geotérmica, maremotriz e hidráulica. Ademais, Energia limpa e acessível é um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, o qual visa substituir a dependência mundial de combustíveis fósseis por um suprimento de energias sustentáveis baratas. Por isso, a meta para 2030 é expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para que todos os países em desenvolvimento possam ter acesso a tais energias.

Conforme é possível analisar no gráfico abaixo intitulado “Consumo global de energia primária por fonte”, até 1950 o consumo de energia era baseado apenas em matrizes não sustentáveis, predominantemente combustíveis biomassas tradicionais, carvão e óleo. Nesse período, começou a surgir um pequeno consumo de energia hidráulica, e mais tarde eólica, solar, geotérmica e maremotriz, embora as duas últimas não possuam tanto destaque. Porém, mesmo em 2019, é possível analisar que a maioria do consumo mundial ainda não advém de formas limpas de produção de energia, apesar de, de forma geral, estar crescendo cada vez mais com o passar dos anos.

Gráfico 1: Consumo de energia primária mundial por fonte energética

Fonte: Our World in Date

Visando diminuir ainda mais o consumo de energia advindo de fontes não limpas de energia, no final de 2019 a Comissão Europeia apresentou o Acordo Verde Europeu, que é uma iniciativa composta por orientações para fazer com que a Europa atinja a neutralidade climática até o ano de 2050. Dentro deste pacote, a União Europeia possui a Diretiva das Energias Renováveis (RED II), que oferece determinações comuns para fortalecer a esfera das energias renováveis. Em julho de 2021 foi realizada uma revisão nessa diretiva, a fim de amplificar a inserção das energias limpas, com o objetivo de que até 2030 pelo menos 40% das fontes de energias sejam renováveis, alterando a antiga estipulação de 32%. Nota-se que em 2019 a União Europeia alcançou 19,7% de consumo da energia renovável, em concordância com seus objetivos de chegarem a 20% em 2020.

Apesar da boa performance europeia, alguns setores ainda estão afastados dessa participação, então, para atingir outras áreas, a revisão buscou estimular a energia limpa para indústrias e transportes, por exemplo. Para este último, um dos objetivos introduzidos foi a redução até 2030 da intensidade de gases de efeito estufa dos combustíveis para transportes em 13%, visando a integração das energias renováveis. Conforme a Comissária da União Europeia para a Energia, a estoniana Kadri Simson: “Ao elevar nossa meta para 2030 de energias renováveis ​​para 40%, não estamos apenas promovendo uma produção de energia mais limpa e mais barata, mas também impulsionando um setor econômico com notável potencial de criação de empregos, crescimento e comércio”. Simson também defende que o planejamento é essencial para implementar e melhorar essa revolução energética. Essa revisão foi transmitida para a Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia do Parlamento Europeu.

Além disso, a União Europeia possui um fundo chamado LIFE com um orçamento próximo a 1 bilhão de euros, que busca apoiar a transição para energia renovável no período de 2021 à 2027. Sendo que o principal objetivo desse fundo é aumentar a entrega de energia renovável e eficiente pela Europa.

Um país a ser destacado é a Suécia, que entre os Estados-membros da União Europeia, é o maior consumidor de energia renovável (com aproximadamente 56, 4%), pois os recursos naturais do país nórdico contribuem para fomentar esse tipo de energia. As principais fontes renováveis do país são a bioenergia e a energia hidrelétrica. A Agência Sueca de Energia está operando para incluir mais energia solar e, à vista disso, atingir a meta de 100% da produção de eletricidade renovável até 2040, e alcançar a neutralidade de carbono em 2045. O país possui o segundo mais elevado consumo de eletricidade per capita da União Europeia e, apesar disso, as consequências negativas são praticamente nulas, em razão da base em fontes de energia limpa.

A Agência Internacional de Energia Renovável compartilhou que “o sistema de energia do país já está quase totalmente descarbonizado, com base em extensos recursos hidrelétricos e energia nuclear, bem como aquecimento distrital movido a biomassa”. Os preços da eletricidade na Suécia também estão entre os mais baixos da Europa, pois o mercado de energia é livre, e dessa maneira os cidadãos têm a oportunidade de elegerem de quem vai adquirir sua energia. O governo sueco também possui práticas para garantir o uso dessa energia sustentável, um exemplo é o Sistema de Certificação de Eletricidade, que faz com que quem vende energia deva adquirir uma parte de eletricidade renovável para providenciarem e, quem produz essa energia receba essa certificação.

Já no âmbito empresarial, outro país do norte da Europa também aparece, a Dinamarca, com a companhia Ørsted, uma das maiores mundialmente em energia renovável. A companhia, que era chamada Danish Oil and Natural Gas, foi reformulada de combustíveis fósseis para a energia verde para se adequar a um contexto mais consciente, assim desbravando os parques eólicos, com foco em possibilitar sistemas de energia que atuem na direção contrária ao aquecimento global. A Ørsted é uma das empresas de energia mais valiosas da Europa e apareceu na lista da revista TIME como uma das empresas que estão causando um impacto extraordinário no mundo. A adoção das energias renováveis pelas soluções verdes oferecidas deslocam os combustíveis fósseis da matriz energética, e, em 2020, essas ações evitaram 13,1 milhões de toneladas de emissões de carbono.

Ørsted é líder em energia eólica offshore, com de fazendas offshore na Europa e na Ásia e em desenvolvimento nos Estados Unidos. Em 2025, a empresa expôs que vai gerar energia verde suficiente para abastecer 30 milhões de pessoas, quase o dobro dos números atuais. O presidente-executivo da empresa, Mads Nipper, alegou que buscam se tornarem líderes em energia verde, por isso apresentaram investimentos em energias renováveis 57 bilhões de dólares até 2027.

Entretanto, o cenário da concorrência está cada vez mais acirrado com empresas se voltando para esse lado renovável. A Iberdrola, maior geradora de energia eólica da Europa, prometeu gastar 182 bilhões de dólares até 2030. Nota-se que a Ørsted busca expandir sua capacidade de energia limpa para 50 gigawatts e agir mais nas áreas eólica onshore e de hidrogênio verde (essencial para substituir combustíveis fósseis para transportes e indústrias). A empresa dinamarquesa também deseja se tornar neutra em carbono até 2025 e está no caminho para atingir emissões líquidas zero. Conforme Nipper: “Cada empresa deve fazer a transição para um modelo de negócios sustentável para contribuir com a luta contra as mudanças climáticas – e para se manter no mercado”.

REFERÊNCIAS

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Núcleo de Estudos e Negócios Europeus
O Núcleo de Estudos e Negócios Europeus (NENE) está ligado ao Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI) da ESPM-SP. Foi criado considerando a necessidade de estimular a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana a compreender melhor suas relações com os europeus, buscando compreender e aprofundar a Parceria Estratégica Brasil – União Europeia.