ISSN 2674-8053

Navroz Mubarak

Hoje é o dia em que a comunidade zoroastrista comemora, na Índia e em vários países da Ásia Central, o Ano Novo. Corresponde, seguindo o calendário persa de mais de três mil anos, ao primeiro dia da primavera, e celebra a renovação da natureza.

Esta celebração está profundamente enraizada nos rituais e nas tradições do Zoroastrismo, religião fundada por Zoroastro (ou Zaratustra, em persa antigo), e tem lugar, atualmente, em muitos países que foram parte dos antigos impérios iranianos, ou sofreram a sua influência. Fora do Irã, Navroz (Noruz, para os iranianos) é comemorado na Índia, no Curdistão, Afeganistão, Albânia, nas antigas repúblicas soviéticas, Turquia, e também por várias comunidades de origem iraniana no Ocidente e em todo o Oriente Médio; até mesmo na África (Fred Mercury, sul-africano de origem indiana, era parsi, remember?…).

O zoroastrismo é a mais antiga religião monoteísta do planeta, embora existam debates acadêmicos sobre o assunto. Influenciou todas as demais monoteístas que se seguiram: o judaísmo, o cristianismo, e finalmente o islã. Sua origem cultural está ligada aos arianos, povo nômade que se tornou sedentário por volta de 1.500 AEC, e se estabeleceu no norte da península do hindustão e no planalto persa.

Nasceu das revelações de Zoroastro (ou Zaratustra), em Sogdiana, no reino da Báctria, região que corresponde atualmente ao leste do Irã, Afeganistão e Turcomenistão. Pouco se sabe, relativamente, sobre a história de Zoroastro. A maior parte vem do Avestá, uma coletânea de escrituras religiosas. Acredita-se que ele tenha nascido onde hoje é o nordeste do Irã ou sudoeste do Afeganistão, e viveu na Ásia Central. Tampouco está claro exatamente quando ele poderá ter vivido. Alguns estudiosos acreditam que foi contemporâneo de Ciro, o Grande, o fundador do Império Aquemênida, da Pérsia, no século VI a.C.

O Zoroastrismo tem como principais características o messianismo (a ideia da vinda de um Messias Redentor); a crença no Paraíso e no Inferno; no livre arbítrio e no julgamento após a morte. Estes conceitos podem ter influenciado outros sistemas religiosos e filosóficos, inclusive o judaísmo, o gnosticismo, a filosofia grega, o cristianismo, o islamismo e até o budismo, segundo os estudiosos. Alguns deles tornaram-se parte integrante de outros credos, como a crença no Paraíso, na Ressurreição e no Juízo Final. A religião está centrada na cosmologia dualista do Bem e do Mal e na escatologia, que prevê a conquista final do Bem sobre o Mal. Exalta Ahura Mazda, divindade não criada e benevolente, como o Ser Supremo. Segundo Zoroastro, Ahura Mazda é a força criativa e sustentadora de todo o universo, através de Asha Vahishta, a “Verdade Perfeita“. Ahura Mazda está personificado no Fogo Sagrado.

Os seus fundamentos, tal como definidos no Avestá, pregam a existência de duas divindades, que personificam o Bem (Ahura Mazda) e o Mal (Ahriman). Ahura Mazda, ou Ormuz – o princípio do Bem – vive em luta constante contra seu irmão gêmeo, Ahriman – o princípio do mal -, Senhor das Trevas e do Caos, ambos filhos do deus criador, Zurvan, o Tempo. Ahriman, responsável pelas enfermidades, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo o que é negativo, não deve ser entendido como uma divindade propriamente dita: ele é a energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura-Mazda. Da luta entre estas forças divinas, sairia vencedor o Bem. Os seres humanos têm o direito de escolha entre apoiar, ou não, Ahura Mazda, e são responsáveis por esta escolha.

O Ano Novo zoroastrista é comemorado com foco na Renovação, e tudo o que este sentimento significa. Formalmente ele se manifesta na limpeza de casa, uso de roupas novas, doação de presentes e ações de caridade. . O dia 21 de março foi proclamado como o “Dia Internacional do Noruz” (Navroz) pela Assembleia Geral da ONU, em 2010, por iniciativa de vários países que compartilham este feriado. Foi também inscrito, em 2009, como “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”, como uma tradição cultural observada por numerosos povos que promove valores de paz e solidariedade entre gerações e dentro das famílias, bem como a reconciliação, a aproximação e a amizade entre diferentes povos (algo muito necessário nos dias de hoje…).

NAVROZ MUBARAK TO ALL MY PARSI FRIENDS IN INDIA!!!!!

Fausto Godoy
Doutor em Direito Internacional Público em Paris. Ingressou na carreira diplomática em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli, Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.