ISSN 2674-8053

O impacto da Guerra na Ucrânia na OTAN e na União Europeia

Por Karen Laura Feliciano e Laura Cariolin

A Guerra da Ucrânia causou profundas mudanças na relação dos países com as organizações e blocos econômicos internacionais. Nesse contexto, duas situações se destacam: a da OTAN e da União Europeia. A entrada de novos países gerou um debate intenso, e desestabilizou as interações entre os Estados, tendo como um dos protagonistas, em ambos os casos, a Turquia. No contexto da OTAN, a entrada da Suécia e da Finlândia na organização foi freada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, enquanto a entrada da Ucrânia na União Europeia foi criticada pela Turquia, que busca entrar no bloco desde 1999 (DEUTSCHE WELLE, [s.d.]). Desse modo, percebe-se que a Guerra da Ucrânia impactou a expansão da UE e da OTAN.

Com o que diz respeito à OTAN, a Suécia e a Finlândia submeteram oficialmente, no mês de maio de 2022, os pedidos de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e com isso mostraram o intuito de reforçar a segurança diante de um conflito com a Rússia. Um exemplo dessa motivação foi expressa na fala da primeira-ministra da Suécia, Magdalena Andersson, que afirmou que a decisão colabora para fortalecer a segurança sueca e para criar independência perante a Rússia (G1, 2022). Ademais, à medida que mais países tomam partido a favor dos Estados Unidos e da União Europeia, a Rússia se posiciona de forma mais agressiva, prometendo não se manter neutra diante da entrada dos países na OTAN (CNN Brasil, 2022), que requer o cumprimento de algumas regras e a aprovação de todos os membros.

Além disso, o presidente turco, Tayyip Erdogan, se opôs à adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN. Segundo a CNN (KAURANEN, 2022), isso ocorreu devido ao fato de que a Turquia acredita que a Suécia e a Finlândia abrigam pessoas ligadas ao grupo militante do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Assim, a posição da Turquia barra as novas adesões, que, por sua vez, outros membros da aliança como Estados Unidos e Alemanha apoiam. Isso acontece porque a entrada de um novo membro da OTAN precisa da aprovação unânime dos integrantes do grupo. Portanto, para que a adesão ocorra, a Turquia impôs condições aos países, exigindo, principalmente, que a Finlândia e a Suécia repatriem cidadãos turcos considerados terroristas pelo governo turco.

Devido à guerra, foram fomentadas também discussões sobre a entrada da Ucrânia na União Europeia. Entre as principais motivações para essa entrada, existe a afirmação de que a Ucrânia é também parte da Europa, levando em conta suas características culturais, e tal ideia é reiterada tanto pelos países membros da União Europeia quanto pela Ucrânia. O processo para adesão da Ucrânia pode levar até 20 anos, segundo a UE, o que é criticado pela Ucrânia, que insiste em um início imediato do processo de adesão. Apesar da entrada imediata parecer improvável, a criação de uma comunidade política europeia para incluir temporariamente o país foi proposta e é mais provável, apesar da ideia sofrer críticas pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Uma reação à adesão da Ucrânia à União Europeia veio por parte da Turquia, que tenta entrar no bloco há mais de 20 anos. Ela questiona os motivos pelos quais a União Europeia nega a sua entrada, ao mesmo passo que aceita e apoia a Ucrânia em um período muito menor (SASSOUNIAN, 2022). No caso turco, a adesão à UE não é possível, pelo menos com o governo de Erdogan. Isso se deve ao fato de que a Turquia não obedece aos Critérios de Copenhagen — lista de regras que estabelecem como os novos países membros da UE devem ser. A Turquia desobedece ao critério que diz respeito aos Direitos Humanos devido ao seu governo autoritário, impedindo sua entrada no bloco. Portanto, a Turquia deve rever suas políticas para ter chances de entrar na União Europeia.

Sendo assim, conclui-se que a Guerra na Ucrânia interferiu diretamente na expansão da União Europeia e da OTAN. Também é possível notar a participação expressiva da Turquia em ambas as situações, sempre se colocando em situação de embate com os outros Estados com a finalidade de garantir a própria segurança. Além disso, é perceptível que a Guerra na Ucrânia fomentou o debate sobre a entrada da Ucrânia tanto na OTAN quanto na UE de modo favorável para o país, porém de modo negativo quando se analisa as consequências desse debate, como uma intensificação das tensões com a Rússia.

Referências:

BRAUN, Julia. Qual o papel da Otan no confronto entre Rússia e Ucrânia? BBC News Brasil, São Paulo: 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60580704>. Acesso em 16 jun. 2022.

ENTENDA por que Finlândia e Suécia mantinham neutralidade e agora querem entrar na Otan. G1, [S.l]: 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/05/12/entenda-por-que-finlandia-e-suecia-mantinham-neutralidade-e-agora-querem-entrar-na-otan.ghtml>. Acesso em 17 jun. 2022.

KAURANEN, Anne. Finlândia e Suécia discutirão propostas da Otan na Turquia, diz ministro finlandês. CNN Brasil, [S.l]: 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/finlandia-e-suecia-discutirao-propostas-da-otan-na-turquia-diz-ministro-finlandes/>. Acesso em 16 jun. 2022.

RÚSSIA: Adesão de Finlândia e Suécia à Otan é um “erro com consequências abrangentes”. CNN Brasil, [S.l]: 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-adesao-de-finlandia-e-suecia-a-otan-e-um-erro-com-consquencias-abrangentes/>. Acesso em 17 jun. 2022.

SASSOUNIAN, Harut. Erdogan exploits war in Ukraine to push for Turkey’s membership in European Union. The Armenian Weekly, [S.l]: 2022. Disponível em: <https://armenianweekly.com/2022/03/15/erdogan-exploits-war-in-ukraine-to-push-for-turkeys-membership-in-european-union/>. Acesso em 16 jun. 2022.

TURKEY-EU relations: Which countries are for or against Turkish accession? Deutsche Welle, [S.l]: [s.d.]. Disponível em: <https://www.dw.com/en/turkey-eu-relations-which-countries-are-for-or-against-turkish-accession/a-40381533>. Acesso em 16 jun. 2022.

Núcleo de Estudos e Negócios Europeus
O Núcleo de Estudos e Negócios Europeus (NENE) está ligado ao Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI) da ESPM-SP. Foi criado considerando a necessidade de estimular a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana a compreender melhor suas relações com os europeus, buscando compreender e aprofundar a Parceria Estratégica Brasil – União Europeia.