ISSN 2674-8053

O papel da energia renovável na crise energética

Por Ana Luisa Munhoz Mastromauro e Maíra Figueredo Gomes

“A crise energética pode ser um ponto de virada para acelerar as fontes limpas e para formar um sistema de energia sustentável e seguro”, afirmou Faith Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), em setembro de 2022. Faith também declarou que a capacidade e a instalação de energia renovável estão sendo aceleradas em muitos países da Europa, com a finalidade de diminuir o valor e cortar o licenciamento do gás russo, sendo essas consequências da guerra com a Ucrânia.

Primeiramente, vale ressaltar que esse confronto fez com que a segurança energética fosse uma pauta cada vez mais frequente, afinal, a Rússia, sendo a segunda maior exportadora mundial de gás natural, era responsável por metade das importações europeias deste insumo; portanto, incentivar a produção local servirá como uma maneira de evitar que os países europeus se encontrem submissos ao território russo.

Recentemente, a AIE realizou uma revisão em seu prognóstico e concluiu que o crescimento, em termos de capacidade, de energia renovável em 2022 deve sofrer um aumento de 20% em relação a 2021, e aproximadamente 400 gigawatts de capacidade renovável devem ser acrescentados neste ano.

Já Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, proclamou sobre a “reforma completa e profunda” que a União Europeia deverá fazer em relação à energia para enfrentar o aumento dos preços no bloco. No discurso, também em setembro de 2022, Ursula argumentou:”Além da crise imediata, devemos pensar no futuro. O modelo atual do mercado de eletricidade não faz mais justiça aos consumidores, que deveriam aproveitar os benefícios das energias renováveis de baixo custo”. Além disso, os ministros de energia aprovaram os principais preceitos de um plano de 140 bilhões de euros para refutar a Rússia de privar o continente de gás natural.

A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe inúmeras consequências para o ramo da energia renovável, tornando o continente europeu escasso, implementando, assim, a Noruega como a principal fornecedora da União Europeia atualmente. Grande parte dos países confiaram no combustível noruegues para o estoque dos próximos anos e para os meses de inverno. Sem dúvidas, a riqueza desse país  está aumentando, tornando ele uma grande porção na indústria de petróleo e gás. Ao todo, Oslo espera arrecadar cerca de US $109 bilhões, US $82 bilhões a mais do que em 2021 neste setor.

Outros países também estão tomando providências. O governo britânico, por exemplo, instaurou um teto, diminuindo 50% o custo de energia e gás natural para as indústrias. A Alemanha comunicou a nacionalização da Uniper (maior importadora de gás do país) para evitar a falência da companhia. Além de terem custos extremamente altos para a população e cofres públicos essas medidas emergenciais, a UE aumentou em 45% até 2030 a introdução de energia renováveis na matriz elétrica.

Outra solução encontrada foi o crescimento de novos projetos de energias e fontes renováveis, que trouxe uma economia de 11 bilhões de euros desde o começo de março do último ano, com a capacidade de geração eólica e solar aumentando entre os países da UE. De acordo com o site Clima Info, outro benefício foi a diminuição da pressão inflacionária. Além disso, de março a setembro de 2022, as fontes renováveis cobriram praticamente ¼ das necessidades energéticas do continente, segundo os think tanks E3G e Ember.

Aproveitando a integração entre os países da UE, os países ibéricos e França anunciaram, no fim de outubro, que firmaram um acordo para a construção de um gasoduto que conecte Barcelona a Marselha, que será responsável pelo transporte de hidrogênio verde e outros gases limpos. Contudo, o primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que ainda existe um longo caminho a ser percorrido, tanto técnica quanto economicamente, entretanto mantém-se aberto a estender esse gasoduto para o resto da Europa – ideia que é apoiada pelo primeiro-ministro francês e pelo presidente do governo espanhol.

Uma iniciativa um tanto quanto inesperada e contraditória partiu do governo francês, ao procurar restabelecer um vínculo com a Venezuela durante os bastidores da COP 27. Embora o presidente Nicolás Maduro tenha se mostrado favorável a essa aproximação, uma série de problemáticas foram levantadas, afinal o país sul americano vem desrespeitando os direitos humanos e a democracia; e a França, que tem se mostrado cada vez mais interessada em energia verde, negociar a compra de petróleo, insumo altamente poluente, durante uma conferência em prol do meio ambiente, não foi vista com bons olhos.

Porém, mesmo com tantas iniciativas, de acordo com especialistas ouvidos pela CNN, a meta estipulada na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em 2021 (COP 26), conhecida como “neutralidade de carbono até 2050” não será atingida – mesmo com que a guerra tenha acelerado o processo de adesão à fontes de energia limpa. Afinal, ainda existem países europeus, inclusive, que não estão contribuindo como deveriam para atingir esse objetivo.

Referências:

ANDRADE, Vanessa. Guerra entre Rússia e Ucrânia acende alerta sobre a necessidade de energias renováveis. Canal Energia. 2022. Disponível em: https://www.canalenergia.com.br/noticias/53225689/guerra-entre-russia-e-ucrania-acende-al erta-sobre-a-necessidade-de-energias-renovaveis. Acesso em: 11 de novembro de 2022.

CLIMA INFO. Crescimento de renováveis ajuda Europa a economizar dinheiro e aumentar segurança energética.  20 de outubro de 2022. Disponível em: https://climainfo.org.br/2022/10/19/crescimento-de-renovaveis-ajuda-europa-a-economizar-dinheiro-e-aumentar-segurança-energética/. Acesso em: 12 de novembro de 2022.

EXAME. Comissão europeia apresenta plano para enfrentar crise energética. 14 de setembro de 2022. Disponível em: https://exame.com/mundo/comissao-europeia-apresenta-plano-para-enfrentar-crise-energetic a/. Acesso em: 12 de novembro de 2022.

G7 NEWS. A Noruega é tratada como herói e vilão na crise energética da Europa. 2022. Disponível em: https://g7.news/noticias/2022/10/12/a-noruega-e-retratada-como-heroi-e-vilao-na-crise-ener getica-da-europa. Acesso em: 14 de outubro de 2022.

UOL NOTÍCIAS. França busca alternativas para crise energética ao se reaproximar da Venezuela, dizem analistas. 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2022/11/10/franca-busca-alternativas-para-cri se-energetica-ao-se-reaproximar-da-venezuela-dizem-analistas.htm. Acesso em: 13 de novembro de 2022.

Núcleo de Estudos e Negócios Europeus
O Núcleo de Estudos e Negócios Europeus (NENE) está ligado ao Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI) da ESPM-SP. Foi criado considerando a necessidade de estimular a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana a compreender melhor suas relações com os europeus, buscando compreender e aprofundar a Parceria Estratégica Brasil – União Europeia.