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Segurança alimentar, um problema de saúde… mas também de geopolítica

O relatório Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo, lançado por 5 agências da ONU indica que 735 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2022.

A fome é um dos problemas mais urgentes e devastadores enfrentados pela humanidade, e infelizmente persiste em muitas partes do mundo. Enquanto a falta de acesso a alimentos é multifacetada e complexa, existem certos fatores que têm um impacto significativo na segurança alimentar global. Dois desses fatores são as sanções à Rússia e a questão dos fertilizantes.

As sanções econômicas impostas à Rússia por várias nações têm um efeito direto na disponibilidade e acessibilidade de alimentos para a população russa. Essas medidas restritivas geralmente visam punir ou pressionar governos ou indivíduos envolvidos em atividades indesejadas, como anexação de território ou violações dos direitos humanos. No entanto, essas sanções podem ter consequências imprevistas e negativas para a segurança alimentar.

As sanções podem afetar negativamente a capacidade da Rússia de importar certos alimentos e recursos agrícolas essenciais. Isso pode levar a uma diminuição na oferta de alimentos e a um aumento nos preços, tornando mais difícil para a população local obter uma nutrição adequada. Além disso, as sanções podem limitar o acesso a tecnologias agrícolas avançadas e conhecimentos especializados, prejudicando ainda mais a produtividade e a eficiência agrícola.

Outro fator relacionado à fome global é a questão dos fertilizantes. Os fertilizantes desempenham um papel crucial no aumento da produtividade agrícola, permitindo que as plantas cresçam de forma saudável e produtiva. No entanto, o acesso a fertilizantes de qualidade é limitado em muitas regiões do mundo, especialmente em países de baixa renda.

Existem várias razões para essa escassez de fertilizantes. A produção em larga escala de fertilizantes é dominada por algumas empresas, resultando em preços elevados e falta de concorrência. Além disso, a falta de infraestrutura adequada em algumas regiões dificulta a distribuição eficiente dos fertilizantes para os agricultores. A falta de conhecimento sobre o uso adequado de fertilizantes também pode levar a uma utilização ineficiente ou inadequada desses produtos.

A escassez de fertilizantes e a falta de acesso a eles têm um impacto direto na produtividade agrícola e na segurança alimentar. Sem fertilizantes adequados, as colheitas são menos produtivas, resultando em menor disponibilidade de alimentos e preços mais altos para os consumidores. Isso afeta principalmente os agricultores de subsistência em países em desenvolvimento, que dependem da agricultura como fonte de subsistência e enfrentam dificuldades para aumentar sua produtividade.

Para enfrentar o desafio da fome no mundo, é essencial abordar questões como as sanções à Rússia e a escassez de fertilizantes. A cooperação internacional, a busca por soluções inovadoras e o investimento em infraestrutura agrícola são fundamentais para superar esses obstáculos. Além disso, é importante promover práticas agrícolas sustentáveis, o uso eficiente de fertilizantes e a diversificação das fontes de alimentos para garantir a segurança alimentar global.

Em última análise, a fome é um problema complexo e multifacetado que requer uma abordagem abrangente e coordenada. Ao reconhecer o impacto das sanções à Rússia e a questão dos fertilizantes na segurança alimentar, podemos trabalhar juntos para mitigar esses problemas e garantir que todas as pessoas tenham acesso a alimentos adequados e nutritivos.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X