Notice: Trying to access array offset on value of type null in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/transposh-translation-filter-for-wordpress/wp/transposh_db.php on line 322

Notice: Trying to access array offset on value of type null in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/transposh-translation-filter-for-wordpress/wp/transposh_db.php on line 322

Notice: Undefined index: in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 879

Notice: Undefined index: in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 880

Notice: Undefined index: in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 881

Notice: Undefined index: in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 882
ISSN 2674-8053 | Receba as atualizações dos artigos no Telegram: https://t.me/mapamundiorg

Forças centrípetas e centrífugas da globalização: a prevalência do fechamento em tempos de desglobalização


Notice: Undefined variable: showjobtitle in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 662

Notice: Undefined variable: showseparator in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 664

Notice: Undefined variable: showseparator in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 667

Notice: Undefined variable: showcompany in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 667

Notice: Undefined variable: titleline in /home/ulhoacin/www.mapamundi.org.br/wp-content/plugins/sexy-author-bio/public/class-sexy-author-bio.php on line 751

A globalização, em sua essência, sempre esteve imersa em um jogo de forças contraditórias que moldam o destino das nações e das sociedades. Celso Lafer, em suas análises sobre a política internacional, destacou a coexistência de forças centrípetas, que promovem integração e interdependência, e forças centrífugas, que impulsionam fragmentação e fechamento. Este embate, que ao longo do século XX e início do século XXI oscilou entre momentos de colaboração e conflito, parece ter entrado em um ciclo particularmente inclinado à desglobalização. Ao analisarmos o ano que se encerra, o panorama internacional aponta para um mundo onde as forças centrífugas assumiram um protagonismo inquietante, redefinindo as bases da economia global e das relações entre os povos.

As forças centrípetas da globalização são representadas pela busca por conexões mais profundas entre os países, promovendo mercados integrados, circulação irrestrita de bens e ideias e soluções multilaterais para desafios comuns. Essas forças ganharam destaque com a consolidação de blocos econômicos como a União Europeia, o avanço tecnológico que derrubou barreiras geográficas e a promessa de um mundo mais unido frente a problemas globais, como mudanças climáticas. Contudo, tais forças parecem enfraquecidas diante do ressurgimento de forças centrífugas, que impulsionam rupturas e retrocessos.

Em 2024, as forças centrífugas ganharam força em vários aspectos. O retorno de políticas protecionistas, a revalorização de fronteiras e a crescente desconfiança em relação às instituições multilaterais sinalizam um claro movimento de fechamento. O nacionalismo econômico, por exemplo, assumiu papel central em várias agendas políticas, sendo simbolizado por líderes que defendem a priorização de indústrias e mercados internos. Isso se reflete na imposição de tarifas, na fragmentação de cadeias de suprimentos e na reorientação de investimentos para objetivos exclusivamente domésticos. A crescente resistência ao livre-comércio evidencia que o ideal de integração global está sendo eclipsado por narrativas que exaltam soberania nacional e autossuficiência.

Além disso, o mundo parece estar respondendo de forma centrífuga a crises globais que anteriormente serviriam como catalisadores para maior cooperação. A pandemia de COVID-19, por exemplo, não apenas expôs a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais, mas também impulsionou um comportamento de fechamento de fronteiras e políticas nacionalistas de saúde. Em vez de fortalecer a solidariedade internacional, a resposta global fragmentada aprofundou desconfianças e levou muitos países a reconsiderarem sua dependência de parceiros estrangeiros. Essa tendência se agravou com a guerra na Ucrânia, que transformou a energia e o comércio em instrumentos de poder geopolítico, acelerando a reorganização de alianças econômicas e políticas.

No âmbito tecnológico, que por décadas foi uma força centrípeta crucial, vemos o advento de uma “desglobalização digital”. A crescente competição tecnológica entre os Estados Unidos e a China levou à regionalização de padrões tecnológicos, ao bloqueio de produtos e serviços e à fragmentação da internet em blocos geopolíticos. Essa divisão, conhecida como “splinternet”, marca o afastamento de um espaço cibernético unificado para um cenário onde dados, inovações e infraestrutura digital são moldados por interesses regionais e disputas de poder.

Celso Lafer enfatizou que as forças centrífugas e centrípetas não existem isoladamente; elas coexistem, se influenciam e se redefinem conforme os contextos históricos. No entanto, em 2024, o equilíbrio entre essas forças parece pender perigosamente para a fragmentação. Esse movimento não é apenas reflexo de escolhas políticas, mas também de mudanças estruturais na forma como as sociedades percebem os riscos e as oportunidades da globalização. O sentimento de vulnerabilidade econômica, exacerbado por crises financeiras e mudanças climáticas, reforça a narrativa de que o fechamento é uma estratégia de autoproteção.

O impacto desse fechamento vai além das fronteiras nacionais. A desglobalização ameaça minar avanços conquistados em questões globais, como a cooperação ambiental e o combate à desigualdade. A fragmentação também tende a dificultar a construção de consensos em torno de novas governanças globais para enfrentar desafios emergentes, como inteligência artificial e fluxos migratórios. Ao privilegiar o interesse imediato das nações sobre soluções compartilhadas, o mundo corre o risco de tornar problemas globais ainda mais intratáveis.

Conforme encerramos este ano e olhamos para o futuro, é imprescindível refletir sobre as implicações dessa prevalência das forças centrífugas. O fechamento, embora possa oferecer soluções temporárias e localizadas, carrega consigo o risco de um isolamento que pode agravar desigualdades e perpetuar conflitos. O desafio para os próximos anos será encontrar maneiras de restabelecer o equilíbrio entre as forças centrífugas e centrípetas, reconhecendo que, em um mundo cada vez mais interconectado, o fechamento é uma solução insustentável. A revalorização do multilateralismo e o fortalecimento de instituições globais serão essenciais para reverter a tendência de fragmentação e para reafirmar a promessa de um mundo que possa prosperar na interdependência.

Este momento de análise, portanto, não é apenas um balanço do que foi perdido, mas também um convite para repensarmos como podemos reconquistar um equilíbrio global em tempos de tanta incerteza.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X

Deixe um comentário