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A nova corrida dos minerais: lítio, terras raras e o mapa do poder do século XXI

Nos séculos passados, o poder global foi moldado por quem controlava o ouro, o petróleo ou as rotas comerciais. No século XXI, essa lógica se atualiza — agora, os grandes recursos estratégicos são o lítio, as terras raras, o cobalto e outros minerais cruciais para a transição energética e a revolução tecnológica. Uma nova corrida global está em curso, envolvendo potências, corporações e blocos econômicos que disputam acesso, controle e influência sobre depósitos geológicos antes periféricos. E, como toda corrida de poder, ela reorganiza o tabuleiro geopolítico global.

O lítio é o símbolo mais visível dessa nova era. Elemento essencial para baterias de carros elétricos, celulares e sistemas de armazenamento de energia, ele é abundantemente encontrado em três países que compõem o chamado “triângulo do lítio”: Bolívia, Argentina e Chile. Juntos, concentram cerca de 60% das reservas conhecidas do mundo. Mas também há lítio em larga escala na Austrália (hoje a maior produtora global), na China e no Afeganistão.

As terras raras, um grupo de 17 elementos químicos pouco conhecidos do público, são igualmente fundamentais. Elas compõem imãs de alta performance, turbinas eólicas, painéis solares, drones, mísseis, carros híbridos e componentes de alta tecnologia. A China domina aproximadamente 85% da produção global e controla parte significativa das cadeias de refino. Esse monopólio gera tensões com os Estados Unidos e a Europa, que buscam urgentemente diversificar suas fontes.

O cobalto, por sua vez, é concentrado majoritariamente na República Democrática do Congo, país marcado por instabilidade política, trabalho infantil e exploração por multinacionais. O controle dessas minas tem implicações diretas sobre a transição energética global — e também sobre os dilemas éticos da cadeia produtiva.

A transição para fontes renováveis — solar, eólica, baterias de longa duração — aumentou exponencialmente a demanda por esses minerais. Carros elétricos, por exemplo, consomem seis vezes mais minerais que veículos a combustão. Um sistema de energia solar requer até 12 vezes mais cobre que um sistema tradicional. A dependência desses insumos coloca países produtores e refinadores no centro da nova economia verde.

Por isso, estamos vendo uma reconfiguração de alianças e estratégias. Os EUA e a União Europeia têm criado fundos e alianças para garantir acesso seguro aos minerais críticos. Acordos com países da África e da América Latina buscam estabelecer cadeias “verdes”, com rastreamento ético e sustentável. No entanto, esses esforços competem com o pragmatismo chinês, que oferece infraestrutura, crédito e parceria sem exigir reformas institucionais ou padrões ambientais.

O Brasil entra nesse mapa com relevância crescente. Possui reservas importantes de nióbio (fundamental para ligas metálicas leves), grafite natural, manganês, e potencial ainda subexplorado de terras raras e lítio. No entanto, a falta de uma política nacional clara sobre mineração estratégica coloca o país mais como exportador bruto do que como articulador global dessas cadeias. O mesmo vale para países como Bolívia e Congo: têm riqueza geológica, mas pouca soberania sobre sua exploração.

A nova corrida dos minerais não é apenas técnica — é geopolítica. Quem controlar as minas, as rotas logísticas e o refino, dominará não apenas a produção industrial, mas também o ritmo da transição energética global. E, como toda disputa estratégica, essa corrida pode gerar conflitos, dependências e assimetrias.

Estamos diante de um novo “ouro branco”, mas com consequências que vão muito além da economia. A geopolítica da energia está sendo redesenhada — e os minerais são os novos mapas do poder.

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