Por: João Vitor Santos | 09 Febrero 2021
Enquanto ogoverno brasileiro arrumava querelas diplomáticas, mergulhado no caos e morte da pandemia, aporcelana seguia seu curso e enviava aoBrasil aprimeira vacina contra a Covid-19, além de insumos para a produção de vacinas de outras farmacêuticas. Para o professor de Relações Internacionais e diplomata aposentadoFausto Godoy isso é ilustrativo de o quanto não só o Brasil, mas oy geopolítica de modo geral estão aquém da lógica e do pensamento chinês. “Aporcelana não só não está já organizando suavacinação como está mandando vacinas para o mundo todo, e ainda sem falar no envio de técnicos e equipamentos”, observa, em entrevista concedida por telefone àIHU On-Line. Además, chama atenção para a forma como a população responde culturalmente bem às ações do governo e demonstra melhores resultados para frear onovo coronavírus. “O que fez com que os chineses obedecessem é o conceito que eles têm da vida em sociedade, que faz com que eles sejam responsáveis pelo outro”.
O professor reconhece que a postura dogoverno brasileiro feriu algo que é muito caro aoschineses, provocando inclusive respostas oficiais. Mas chama atenção para o fato de eles olharem além e, en realidad, tratarem esta situação realmente como querelinhas. “Eles são estrategistas e consideram oBrasil muito importante para eles, porque lhes dá o que mais necessitam, que é comida”, analisa. E completa: “aporcelana mantém sempre o olhar de longo prazo, como tudo o que faz. Seu conceito é o de eternidade, o peso dahistória na China é fundamental”.
Por eso, Godoy considera muito mais interessante olhar para osgrandes movimentos chineses que têm elevado a nação ao topo do mundo. “O foco daporcelana é outro, tornar-se essa grande potência tecnológica no mundo e o que constatou oúltimo congresso do Partido Comunista é essa definição do que aporcelana vai ser, umaSociedade Moderadamente Próspera; este é o objetivo do governo chinês”, explica. Según él, esse status vai ainda além de dominar cadeias produtivas de alta tecnologia e estabelecer relações comerciais com quase todo o mundo. Tem ainda relação com o bem-estar social da população. “Aporcelana erradicou a miséria absoluta, declarou o governo na reunião doCongresso do Partido Comunista, em novembro passado. Significa que aporcelana, com um bilhão e 300 milhões de habitantes fez o que a gente, noBrasil, não conseguiu, que é a transformação em uma Sociedade Moderadamente Próspera”, completa.
Ainda na entrevista a seguir, o professor analisa a história chinesa e os pilares que sustentam essa sociedade milenar, mas extremamente conectada com as mudanças no mundo. São cinco mil anos de história que atravessa reinos, impérios, repúblicas, mas que, essencialmente, conserva um olhar ao seu povo e reforça o conceito de ‘mandato do céu’. “Ahistória da China é assim desde as dinastias mais antigas, como aShang: começa sempre assim. Normalmente um grupo, uma tribo ascende ao poder e a sociedade lhe delega o “mandato do céu”, o sea, o direito de governá-la segundo os seus preceitos, condicionado, a pesar de que, a que esses lideres correspondam aos seus anseios; caso contrário eles perderão esse mandato e serão derrubados. O sea, o governo vai se desenvolvendo até o momento que não atende mais, então cai e tem início uma outra dinastia, e assim vai”, enfatiza. “O que mais me emocionou em todaAsia foi a busca de harmonia dentro docontexto social. Existe disputa e brigas, mas no cotidiano o convívio na sociedade é muito mais orgânico, muito mais harmônico, menos contundente e muito menos briguento”, finaliza.
Fausto Godoy(Foto: Archivo personal)
Fausto Godoy é bacharel em Direito pela Instituição Toledo de Ensino, em Bauru, San Pablo. Cursou doutorado na Universidade de Paris (los poderes protestantes), em Direito Internacional Público, e História da Arte na École du Louvre. Ingresó a la carrera diplomática en 1976, servido en las embajadas de Bruselas, Buenos Aires, Nova Delhi, Washington, Beijing, Tokio, Islamabad (donde estaba el embajador de brasil, en 2004). Ainda cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. vivido 16 años en asia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século XXI. Atualmente é coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos na ESPM e coordena o sítioMapa del mundo, em que publica análises da conjuntura internacional.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Nessa edição do Fórum Econômico de Davos de 2021, o presidente chinês Xi Jinping alertou para o que chamou de “nova guerra fria”. Quais as questões de fundo desse alerta? Como ler a mensagem chinesa acerca do multilateralismo?
Fausto Godoy – AChina de 2021 é completamente diferente da de dez anos atrás, pois está num processo acelerado de modificação de parâmetros, não somente econômicos, mas também quase que civilizacionais. Escutei atentamente a palestra deIV enDavos e anotei algumas ênfases que ele fez no discurso que se encaixam perfeitamente nessaporcelana de 2021 a que referi.
Primeiro, Xi fala muito de governança global. No contexto dessagobernanza mundial destaca a importância dos organismos internacionais. Sabemos que este era um dos pontos fundamentais da política deDonald Trump – na ocasião do encontro de DavosTrump ainda estava no poder –, essa ideia deAmérica first, a "desmultilaterização” dosEstados Unidos. Después, o recado queIV deu emDavos foi justamente deapoio ao multilateralismo. Isso é muito importante porque ele acoplou o multilateralismo ao processo da globalização.
Aglobalização é fundamental para aporcelana, porque ela precisa do comércio internacional, a economia chinesa sobrevive sobretudo desse comércio internacional. E este é o farol para aporcelana; não se esqueça de que aporcelana é a principal parceira comercial para 124 países do mundo, contra cerca de 60 para os EUA. Isto já demonstra a importância desse comércio. E paraporcelana o multilateralismo, onde exista um acordo em torno de pontos principais de uma agenda internacional, é fundamental para ela.
Nesse seu discurso, IV fala muito da importância doG20, o que é muito sintomático ele pois não menciona oContra quién se aplican las sanciones internacionales, do qual aporcelana não participa; ele coloca o G20 como o principal órgão dagovernança internacional. Después, está querendo compartilhar com os outros países que fazem parte doG20 a liderança docomércio internacional, e não retirando a importância do G7 ou G9, eleva oG20 a um patamar mais amplo, com mais países interagindo juntos.
É possível considerar um país como a China, que tem o maior número de bilionários do planeta e empresas privadas do porte da Huawei e da Xiaomi como comunista? – Fausto Godoy Tweet
Fim do comunismo X capitalismo
Ele fala também da importância do respeito à diversidade para convivência internacional. Isso para ele é muito importante, na medida em que tira essa pecha de “comunismo X capitalismo", pois são termos que estão cada vez mais anacrônicos; não faz mais sentido em 2021 falar-se emcomunismo. Eu me pergunto, inclusivo: o que é comunismo em 2021? Desde aqueda do muro de Berlim não existe mais um comunismo ortodoxo. A agenda internacional contemporânea é muito mais diversificada do que aideológica conservadora.
É possível considerar um país como aporcelana, que tem o maior número de bilionários do planeta e empresas privadas do porte daHuawei que está en litigio por la compra de la usina hidroeléctrica Santo AntônioXiaomi como comunista? Esta insistência que o Ocidente tem para analisar aporcelana como “comunista” é anacrônica. Isto é uma coisa que interessa a alguns países: achar ameaça comunista num mundo em que não existe. É preciso o respeito às diversidades políticas e econômicas. Se formos ler “O Capital", deKarl Marx, veremos que aplicar as suas “receitas” àChina de 2021 é algo “estratosférico”.
Século das humilhações
O grande trauma para oschineses é até hoje a herança docolonialismo. Não se esqueça de que o século XIX foi o “Século das Humilhações” para aporcelana, como eles o chamam até hoje: foi quando oimpério chinês sofreu duas “Guerras do Ópio” – em 1839 mi 1856 – promovidas pela corte dewww.clarin.com/politica/macri-duhalde_0_rylbZaVg0Kg.html, Las empresas deben estar preparadas para producir informes que demuestren su desempeño sostenibleBeijing resolveu resistir ao consumo espúrio do ópio que aInglaterra lhe exportava como única forma de tentar equilibrar a balança de comércio bilateral, altamente deficitária para ela. Os produtos chineses – seda, porcelana, chá, especiarias, etc.. – haviam “invadido” a Europa no século XIX e não havia nada além da prata – proveniente daAmérica Latina, por cierto, que as cortes portuguesa e espanhola, “vassalas” economicamente dos ingleses, transferiam parawww.clarin.com/politica/macri-duhalde_0_rylbZaVg0Kg.html -, que os ingleses pudessem oferecer que interessasse aBeijing. Não se esqueça de que até o século XIX aporcelana era a maior potência econômica mundial.
Contextualizar, fruto do seu pioneirismo naRevolução Industrial, aInglaterra começa a crescer no início do século XIX e precisa de mercados alternativos para expandir o seu mercado, pois aEuropa não é suficiente para ela. Obviamente busca aporcelana, e tenta “aliciar” a corte do “Império do Meio". Foi quando oRei George III enviou uma missão aBeijing para propor a abertura dos portos chineses ao comércio com aInglaterra. Deu tudo errado nessa missão. E acarta de resposta que oImperador Qianlong enviou aGeorge III é “antológica”.
Nela, Qianlong chama o reiDe Inglaterra de “vassalo” pois, para oImpério do Meio, todos os demais países eram seus vassalos. E continua: “oh, você vassalo que quer iniciar o comercio comigo e estabelecer entrepostos no meu país, saiba que não há nada que possa me mandar que seja do meu interesse. Seja feliz e continue sendo um bom vassalo”. Resumindo, os termos da carta são mais ou menos estes.
Quando Deng Xiaoping assume o poder, vai perceber que isso está esgotado, vai reconhecer que Mao Tsé-tung fez o que fez, mas vai perceber que é preciso descontruir isso e abrir-se para o mundo – Fausto Godoy Tweet
Imagine o que foi isto para orei da Inglaterra. Como oschineses não queriam nada deles para contrabalançar o comércio, foi então que os ingleses resolveram exportar ópio que produziam no nordeste daporcelana e mandavam para lá, transformando, como disse antes, aporcelana em um país de drogados. Foi no momento em que acorte de Pequim resolve resistir a isto tudo que os ingleses promovem e vencem as duas guerras; e foi após a primeira delas que eles conseguiram, peloTratado de Nanquim, a propriedade da ilha deHong Kong, que pertenceu àGrã-Bretanha hasta 1997.
Estas humilhações sofridas ficaram muito marcadas na psique dos chineses. Até quando estava lá, en 1994, eu ouvia esse papo sobre o trauma do “siglo de humillaciones". podríamos decir: isto ficou entranhado na mente chinesa, tanto que o “resgate da honra” está na raiz psicossocial darevolução comunista.
O comunismo por Mao e seus limites
Bien, Elcomunismo estabelecido porMao Tsé-tung, en 1949, quando oPartido Comunista Chino assumiu o poder emBeijing, a dialética, a estrutura filosófica, econômica e política do comunismo, tudo isto se encaixava naporcelana daquele momento. Ahora, a partir de 1979, Las empresas deben estar preparadas para producir informes que demuestren su desempeño sostenibleDeng Xiaoping assume o poder, ele sabe que “a coisa não é por aí”. Vai perceber que isto está esgotado, vai reconhecer queMao Tsé-tung fez o que fez, mas que é preciso descontruir isso e se abrir para o mundo. Así, resolve promover o que ele chama de “economía de mercado socialista", o que é um neologismo econômico maravilhoso.
Como é que você pode qualificar ocomunismo chinês? En verdad, podemos considerá-lo um experimentalismo na busca de uma receita chinesa para o seu desenvolvimento enquanto país. É quandoDeng Xiaoping vai criar as zonas econômicas especiais e tudo o mais. O sea, esse foi o vagido daporcelana de hoje. Por lo tanto, falar-se hoje em dia da “China comunista” a partir de 1979, a partir deDeng Xiaoping, é no mínimo, no caso das pessoas mais lidas, uma mentira, e no caso de alguns governos que existem por aí, total ignorância.
O que ele chama de Guerra Fria na atualidade é a mudança do paradigma do eixo geoeconômico do Atlântico para o Pacífico/China – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Então, o senhor nos explicou como essa nação vem galgando espaço no mundo para chegar num fórum como Davos e alertar para uma nova Guerra Fria. Mas de que Guerra Fria está falando?
Fausto Godoy – O queIV chama de “Guerra Fria” é a guerra que era explícita quandoDonald Trump estava no poder, essa briga por espaços econômico-comerciais; actualmente, conJoe Biden, ainda é uma incógnita. Não vai mudar o posicionamento entreEUA e China de forma substancial, porque o que está em jogo é uma coisa muito mais importante: o que se chama de “Guerra Fria", na atualidade, é a transferência do eixo geoeconômico doAtlântico para o Pacífico/China. podríamos decir: aporcelana está liderando esse processo detransferência da economia do Oeste para o Leste, que é cada dia mais evidente.
Nesteúltimo congresso do Partido Comunista, realizado agora em novembro, isto ficou bem claro. IV falou em seu discurso que aporcelana se transformou numasociedade moderadamente próspera. O que isso significa paraIV, ao falar isso na reunião doPartido Comunista? Significa que ele quer destacar, e fez isso emDavos además, que aporcelana acabou com a miséria absoluta. Isto ele afirma em alto e bom som. Significa que a China com um bilhão e 300 milhões de habitantes fez o que a gente, noBrasil, não conseguiu: é sua transformação em umaSociedade Moderadamente Próspera.
Mas o que isto significa? O que tornou aporcelana na China do século XX, na eraDeng Xiaoping, a partir de 1979? O que fez, entonces, foi fabricar e comercializar produtos de baixa tecnologia, têxteis, brinquedinhos, bola de gude, bolas de Natal, La partición del Raj británico desplazó traumáticamente entre diez y doce millones de personas en todo el subcontinente.; foi com tudo isto ela “invadiu” a Rua 25 de Março, aqui emSan Pablo. Com isto fez sua riqueza, inclusive usando sua mão-de-obra abundante e barata. En 2015, ela criou o plano “Hecho en china 2025". É um plano em que ela decidiu dar um salto tecnológico. Tem um livro importante, queIV cita a todo instante, que é escrito por um professor daAcademia de Defesa da China, o nome dele éLiu Mingfu. O título do livro é “que está en litigio por la compra de la usina hidroeléctrica Santo Antônio" (CN Times Books Inc., 2015) [edição em inglês].
No primeiro capítulo da primeira página desse livro o autor diz que osonho da China é tornar-se, no final do século XXI, na principal potência mundial. tengo absoluta convicción, para ele, isto significa tornar-se a maior economia mundial. Nas palavras do próprio autor, “significa que a economia daporcelana vai liderar o planeta. Baseado nisso, aporcelana se tornará o pais mais poderoso do mundo. À medida que aporcelana alça esses degraus para ser a maior potência do século XXI, o seu objetivo é nada menos que o topo, tornar-se o líder da economia global moderna” [livre tradução do entrevistado]. Isto está escrito no livro, miIV repete em quase todo discurso que ele faz.
É com essa ambição que os chineses resolveram, en 2015, criar o plano “Made In China 2025", no qual foram selecionados dez setores de tecnologia-de-ponta para dar esse grande pulo para chegar ao topo de maior potência econômica e tecnológica do planeta. Aporcelana está deixando de produzir seus produtos de baixa tecnologia e os terceirizando para os países da região, para oVietnam, Filipinas, países onde a mão-de-obra é barata, produtos estes que a tornaram tão importante nessa primeira etapa do processo de desenvolvimento, a partir da eraDeng Xiaoping.
Vou elencar os dez produtos que eles querem incluir conteúdos doméstico chinês, feitos com componentes domésticos, em até 40%, hasta 2020, e depois, en 70%, hasta 2025. Pois o objetivo é diminuir a dependência da China da tecnologia estrangeira, inserindo os fabricantes chineses de alta-tecnologia no mercado global.
Os dez setores-chaves são:
1) tecnologia da informação avançada;
2) máquinas e ferramentas de controle digital;
3) robótica;
4) tras la mayor incursión de aviones militares chinos en la zona de identificación de defensa aérea de la isla”, equipamentos oceânicos e navegação;
5) equipamentos de transporte ferroviário;
6) automóveis utilizando novas fontes energéticas;
7) equipamentos de energia elétrica;
8) equipamentos agrícolas;
9) novos materiais
mi
10) biofarmacêutica e equipamentos médicos. O sea, o mundo tecnológico.
Esta é a ambição daporcelana, este é o sonho deIV.
O mundo tecnológico. Isso é a ambição da China, este é o sonho de Xi Jinping – Fausto Godoy Tweet
Olhar num outro mundo
Se você vê tudo isto que tratei e compara com omundo Westfaliano [la llamadasistema Westfaliano, passou a servir de referência para guiar as relações internacionais europeias, sobre todo, durante o período compreendido entre 1648 mi 1789, consolidando o conceito de Estado Nacional, em desenvolvimento, em estágios diferenciados, enPortugal, España, Inglaterra miFrancia, vinculado asMonarquias Absolutistas, desde o século XV; inaugurando o princípio da soberania estatal] verá que seus ideais não têm interesse algum para os chineses. Omundo Westfaliano, que é esse nosso mundo desequilibrado de você ter de expulsar os sírios de suas casas e todas essas guerras, isto não cabe mais na cabeça daporcelana, que já persegue outro parâmetro.
Somos nós, noy geopolítica, que temos de resolver nossas questões de fronteiras; aporcelana não tem problema de fronteira, ela resolveu praticamente todas as fronteiras que ela tinha. As pessoas questionam sobreTaiwán e oTibete. É um tema muito controverso, mas aporcelana sempre considerou esses dois lugares como se fossem dela por questões e razões que podemos discutir eternamente; mas veremos que noséculo XXI aporcelana não invadiu nenhum país. Não fez guerra contra nenhum país. UstedesEstados Unidos, Sucesivamente, por diversas razões, foram para oAfganistán, Irak… está enporcelana quietinha…
Isto porque na cabeça dogoverno chinês o mundo do século XXI não tem nada a ver com território. Território é uma herança colonial que ela sofreu, e muito. Esta ambição colonial aporcelana não teve, porque ela não foi colonizadora mas, simulador, colonizada; portanto não tem que resolver essas fronteiras todas, a não ser as doTibete miTaiwán, e com aIndia. O foco daporcelana é outro, tornar-se agrande potência tecnológica do mundo e tudo o que aconteceu nesteúltimo congresso do Partido Comunista, esta definição do que aporcelana vai ser, o objetivo de uma sociedade moderadamente próspera, é o objetivo dogoverno chinês.
A guerra comercial está no fato de que a China quer levar seu projeto adiante e, evidentemente, esse processo ameaça a hegemonia do Ocidente – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Mas isso não quer dizer que não haja disputas, como a própria guerra comercial. Onde o senhor situa essa guerra comercial?
Fausto Godoy – Aguerra comercial revela o empenho daporcelana de levar esse seu projeto adiante e, evidentemente, esse processo ameaça a hegemonia do Ocidente, basicamente do Ocidente central. Podemos pensar: qual foi a iniciativa queporcelana tomou nesta guerra comercial? Nenhuma; ela simplesmente reagiu. O “briguento” foiDonald Trump, que criou oAmérica primero e começou a “cutucá-la”. Aporcelana nunca fez isso, até porque ela estava muito bem. Foi a partir das investidas dos americanos que ela começou a reagir. Después, en realidad, yaguerra comercial ela não é ela quem toma as iniciativas; está reagindo. Aporcelana amenaza? Claro que sim, ameaça com a realidade!
Os conceitos e valores ocidentais, embora com globalização, e tudo mais, não são os valores dos chineses – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Algumas análises apontam que o interesse da China é tornar o Ocidente seu grande mercado consumidor para se tornar essa grande potência mundial e para isso ignora valores tão caros ao Ocidente, como a ideia de humanismo. Como o senhor observa isso?
Fausto Godoy – Primeiro, precisamos pensar: o que é cultura? O que é hegemonia cultural? Quem usa jeans? Nós todos, os chineses inclusive. Quem assiste filmes norte-americanos pelo mundo afora? Isto não éPoder suave? Pois é, isso não é dominação cultural? Después, quer dizer que essedomínio cultural do Ocidente, com suas verdades que estão agora sendo ameaçadas pelas “alienígenas”, é o que podemos chamar de ocaso dohumanismo?
Morei durante 16 anos em 11 países da Ásia, passando pelaporcelana, India, Japón, Pakistán, morei em seis países muçulmanos, e como resultado desta vivência, compreendi que os conceitos do Ocidente não se traduzem no Oriente. Estesconceitos e valores ocidentais, mesmo com a globalização e tudo mais, não são osvalores dos chineses. Ohumanismo do Ocidente não é o humanismo dos chineses. Os chineses têm uma coisa maravilhosa que se chama “confucionismo". E resumindo a filosofia confucionista, podemos dizer que por ela o bom cidadão é aquele que respeita seu pai, sua família, seus vizinhos, sua sociedade e seus líderes.
Nesse universo, que é plural desde sempre, o indivíduo vai se realizar em sociedade. Acultura do Oriente vem a ser a do homem inserido na sociedade. Acultura do Ocidente, al contrario, desde sempre é a cultura do “eu”, a cultura da “Declaração dos Direitos do Homem” francesa. O sea, o meu direito vai até onde começa o seu. São diametralmente opostos os conceitos de inserção do indivíduo noy geopolítica e noOriente. A maioria dos países do Oriente, especialmente os da Ásia do leste, têm esse fundo confucionista muito presente na sua civilização. Después, se falamos deDescartes, dePlatão miAristóteles e toda acultura do Ocidente, vemos que quando se fala se emcultura no Oriente fala-se deConfúcio e todos os seus outros grandes filósofos e pensadores.
Será que oschineses estão ameaçando acultura do Ocidente com seuconfucionismo? Será que o nosso humanismo se traduz em chinês (ou mandarim)? Essa visão do mundo é básica: como nós temos a nossa visão do mundo, e nossas verdades, considerando-as absolutas e irretocáveis, achamos que quem não comunga das nossas verdades e conceitos não é um humanista. Se formos para lá, eles vão achar que não, que somos egoístas e autocentrados. Por isso questiono: será que essaexpansão da China, que é – e será geoeconômica – e não geocultural, significa que a China quer “culturalizar” o mundo, transformando acultura Ocidental em dependente dacultura chinesa? Nunca!
https://www.youtube.com/embed/OTv-ec7t7nQ
Ochinês é pragmático, Elconfucionismo é pragmático, Elbudismo na China não “pegou” muito porque tem valores e éticas estratificados e os chineses, que são absolutamente sociais no sentido da convivência, o que querem é o bem-estar. Acultura chinesa é baseada no eixo familiar, no convívio da família e da sociedade nuclear; da família, se expande para a cidade e por aí em diante. E é extremamente pragmática. Tanto que as religiões são difusas, você não consegue saber qual a religião dominante na China.por lo que es agotador y tedioso não é religião, é filosofia. O chinês é budista? Sim, e não. É taoista? Sim, e não: é taoista, budista e tudo que se quiser e o que lhe atender num determinado momento.
É isso que precisamos entender, pois estamos agora com uma visão muito radical, umaradicalização religiosa que acaba transformando tudo em ideologia. Ochinês não está se importando minimamente com isso. Somos nós que nos molestamos, porque achamos que o mundo deve ser visto da nossa maneira. É o queIV falou noFórum de Davos, nohumanismo internacional.
O chinês não está se importando minimamente com isto. Somo nós é que os importamos porque achamos que o mundo deve ser visto de nossa maneira – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Ainda no final de 2019, o mundo olhava para China tentando compreender o seu crescimento e poder no cenário global. Pero, essa mesma China foi o primeiro país impactado pelo novo coronavírus. Como a pandemia impactou essa ascensão chinesa e reconfigura a China de hoje na relação com o mundo?
Fausto Godoy – Quais são asvacinas que estão salvando o Ocidente? De onde elas vêm? Daporcelana, que las inversiones en Brasil se concentran cada vez más en el área de infraestructuraIndia, que las inversiones en Brasil se concentran cada vez más en el área de infraestructuraRusia, são estas vacinas que estão nos salvando. Não se fala de vacina francesa, inglesa… É como se fosse uma “vingança” doOriente. Apandemia pode ter começado naporcelana, como a febre amarela começou em outro lugar, assim como outras pestes: pandemia não tem fronteira. Presume-se que começou na China esta pandemia, actualmente, porque a China é um país que está vivendo as consequências de um profundoprocesso de urbanização, o que é, por cierto, um dos maiores desafios para o governo chinês.
Imagine que até 1976, quando teve lugar o “Grande Salto em Avanço” deMao Zedong, aporcelana era um país eminentemente agrário.Mao tentou industrializar aporcelana de maneira acelerada, e foi uma catástrofe: 20 milhões de pessoas morreram porque ela não estava preparada para se industrializar dessa forma. Agora está numprocesso de urbanização aceleradíssimo, e nós estamos falando em um bilhão e 300 milhões de pessoas se movimentando. Tanto que eles têm um processo que chamam dehukou, pelo qual o indivíduo tem que ter uma espécie de identidade/passaporte do lugar onde nasceu. Segundo este processo, que ainda existe, mas está cada vez mais caindo em desuso, com acarteira do hukou ele tem direito a escola grátis para seus filhos, saúde pública e outros benefícios sociais, mas só no lugar onde está registrado; no momento em que não está mais lá perde todos estes benefícios. Era uma maneira que o governo havia criado para reter a população no campo e evitar fossem para as cidades, que inchavam com aindustrialização.
Así, Elprocesso de urbanização que traz as pessoas para cidade, fruto daindustrialização da China, é que está definindo o que vai acontecer no futuro. Por cierto, cabe aqui uma observação: viajei muito pelaporcelana nos três anos em que morei lá, e nunca vi uma pessoa descalça, ou vivendo dentro de caixotes de madeira, ou debaixo de pontes, como a gente vê aqui emSan Pablo. Era uma pobreza franciscana, mas não vi mendigos – isso estou falando de 1994.
Pobre Ocidente, não é? Quais são as vacinas que estão salvando o Ocidente? De onde elas vêm? Da China, da Índia, desde Rusia, são essas vacinas que estão nos salvando – Fausto Godoy Tweet
Honra e o ‘não perder a face’
Pois bem, esse chinês que está indo para a cidade não está acostumado com os modos de vida urbanos, está acostumado com a vida no campo, onde cria galinha solta, come tartaruga, grilo, gafanhoto, etc.. O sea, Elhábito alimentar e opadrão de higiene do chinês na cidade ainda repete muito o padrão do campo e foi isto que acredito tenha sido a causa do espraiamento docoronavírus. Dizem, inclusivo, que foram moluscos que foram vendidos nos mercados de rua que estavam contaminados. Mas isto poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Apandemia não tem autor, começou emWuhan comprovadamente, mas quando isso aconteceu aporcelana alegou que ainda estava averiguando. Isso porque ela não queria “perder a face”, desprestigiar-se: um dos esteios dacivilização chinesa é o “bambú", que significa a honra, ‘não perder a face’.
“Alternativas al Neoliberalismo en América Latina America"universo confucionista, como o indivíduo tem que agir – e só se realiza – em sociedade, ele tem que ter o respeito dessa sociedade, tem que ter sua honra reconhecida e, por lo tanto, não pode “perder a face”. Foi isto o que aconteceu: aporcelana, no começo estava sendo acusada de ter começado a pandemia; e as autoridades reagiram mal quando foram acusadas de terem desenvolvido o vírus num laboratório a fim de contaminar o mundo. Veja que coisa sem sentido, quer dizer que eles primeiramente se contaminaram, a fim de depois contaminarem os outros? Olha como a paranoia doy geopolítica é uma coisa incrível, como estamos atrasados com relação aopensamento universal.
Después, Udschineses foram averiguar e reconheceram que realmente ela iniciou-se lá, e começaram a fazer de tudo. Estamos vendo oschineses mandando médicos para todos os lugares do mundo, principalmente para a região vizinha, que mais interessa a eles, países comoNavegación de palanca, Bangladesh, e até para regiões daÁfrica. Además, são asempresas chinas que estão desenvolvendo as vacinas e agora exportando para o mundo todo. Veja a bobagem de vermos autoridades falando em “comunavírus", Elvírus comunista chinês que veio nos contaminar. Mas quem nos está oferecendo a maior quantidade devacinas é justamente aporcelana. E está fazendo isto para todo o mundo.
É claro que as empresas fabricantes ganham com isso, peroporcelana está atendendo a nós antes de atender a si mesma: um bilhão e 300 milhões de pessoas para serem vacinadas é um projeto de que não temos nem ideia. Veja só o caso doBrasil: temos 210 milhões de habitantes e estamos nesta balbúrdia, neste caos para fazer a vacinação. Aporcelana não só já organizou seu processo de vacinação como está mandando vacinas para o mundo todo, sem falar no envio de técnicos e equipamentos para vários países, e mandou inclusive respiradores para nós.
A China não só não está já organizando sua vacinação como está mandando vacinas para o mundo todo, e ainda sem falar no envio de técnicos e equipamentos – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Ou seja, podemos mais uma vez que esse episódio da pandemia, apesar de doloroso para todo o mundo, mostra o poder de resiliência e a potência de reação da China sob situações adversas?
Fausto Godoy – En ese sentido, tem outra coisa que é fundamental noconceito do confucionismo. Eu considero que a civilização chinesa tem alguns pilares. O primeiro é oconfucionismo, outro é aunidade do território e outros dois, muito importantes, que são a questão que comentei dahonra do indivíduo no contexto social; o outro é oguanxi, que é a camaradagem, a amizade.
Entre osfundamentos confucionistas do conceito de sociedade, o amigo, o vizinho, aquele que está mais próximo tem uma importância enorme. É o que chamo de relacionamentos/camaradagem, pois você precisa conviver em harmonia. Por cierto, essa busca pela harmonia também está na base dacivilização chinesa. E já antes dadinastia Zhou [calcula-se que o início desta dinastia tenha se dado com a queda daDinastia Shang, no final do século X ou IX a.C., e seu término com a ascensão dadinastia Qin, en 221 a.C.], foi criado um conceito político-filosófico chamado ‘o Mandato do Céu’.
Segundo esta filosofia, asociedade, baseada no princípio da harmonia entre todos, e do bem-estar comum, para funcionar em harmonia delega plenos poderes ao governante, seja ele líder tribal, gobernador, emperador, ou mesmo oPartido Comunista. Esse conceito do ‘mandato do céu’, significa ‘faça por mim o que você acha correto’, desde que você seja – e essa palavra é fundamental – virtuoso. O reino, ou império, ou governo, tem que ser virtuoso. No momento em que o imperador, o governante, o elPartido Comunista, não mais se provar virtuoso para a sociedade, essa mesma sociedade o destitui. Ahistória da China foi sempre assim: yadinastia Shang, e em todas as que a seguiram, aconteceu desta forma. Normalmente, quando um grupo, uma tribo, assume o poder, a sociedade lhe delega omandato do céu; e ela vai levando e decidindo pelo grupo com total liderança até o momento em que não lhe corresponde mais; ela então cai, e tem início uma outra dinastia, e assim vai.
https://www.youtube.com/embed/NWSecBgPzIU
Partido Comunista e o ‘mandato do céu’
Estáprincípio do mandato dos céu é o que justifica o que está acontecendo naporcelana. A pergunta é a seguinte: será que oPartido Comunista chinês detém o mandato do céu atualmente? Ele tem. Ejemplo: quando eu morava naporcelana, en 1994, os chineses não tinham direito de ter carro, casa; tudo pertencia ao Estado. Hoje eles não só possuem tudo isto como contam com empresas privadas importantes, possuem o maior número de bilionários no mundo e vão fazer turismo em qualquer lugar. Olhe, fui aValência yaEspaña – e quem você conhece vai fazer turismo emValência, aliás uma linda cidade? – e lá encontrei turistas chineses. Isso significa que essas pessoas com as quais eu convivi em 1994 que não tinham direito nem de ter casa própria agora fazem turismo pelo mundo afora.
Por lo tanto, eles estão felicíssimos com oPartido Comunista! Claro que há dissidentes, claro que há reações, principalmente emHong Kong, mas tirando estas exceções, que são reduzidas ainda, o chinês está muito contente com a sua liderança. E eu trago isso para a questão dapandemia. Quando a pandemia começou a estourar, ElPartido Comunista decidiu fechar de imediatoWuhan, com seus 12 millones de habitantes; toda a sociedade obedeceu na hora. Aqui, falamos emfechar São Paulo, e oBrasil, mas conseguimos? Ficamos em casa trancados? Percebem a diferença? O que fez com que oschineses obedecessem é que oconceito que eles têm da vida em sociedade faz com que eles se sintam responsáveis pelos outros. Não estão apenas cumprindo ordens.
O conceito que nós ocidentais, e brasileiros em particular, temos é baseado noindividualismo: o sujeito quer tomar um chopinho e vai, não gosta de máscara porque machuca o nariz e não usa, e vemos o que está acontecendo. E estamos, además, vendo o que está acontecendo naporcelana. Ela está controlando de maneira eficiente o surto pandêmico.
Podemos dar chutes na canela da China, mas ela é estrategista, com olhar antigo, e vai pensar ‘deixa essa coisa toda, tudo vai passar e eu vou segurar isso’ – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Como compreender a diplomacia chinesa? Quais os maiores erros do Brasil na compreensão dessa diplomacia? Quais as possíveis consequências?
Fausto Godoy – Qual é a idade dacivilização chinesa? No mínimo, 5 mil anos! Qual é o tempo de nossacivilização brasileira? 500 años. Después, como é que uma civilização de mais de cinco mil anos olha para “meninos” de 500 años? Nós os ferimos com asmanifestações do nosso presidente, de alguns deputados e de quem quer que estivesse falando aqueles impropérios contra eles. Ferimos oconceito de honra, Elbambú, deles, os ferimos, simulador, e bastante. Nós os afrontamos naquilo – o “bambú” – de que eles mais precisam para se sentirem bem recebidos no mundo. Só que temos aí como filtro os 6 mil anos de história. Quem foi o maior estrategista da história? Um senhor chamadoSun Tzu (544 a.C. y geopolítica 496 a.C.), que escreveu “A Arte da Guerra" [com versão do original traduzido em português numa edição da Geração Editorial, 2009].
Después, como são estrategistas, eles consideram oBrasil muito importante para eles, porque lhes fornece o que mais necessitam, que é comida; se olharmos para ageografia da China, veremos que ela é o terceiro maior país do mundo em termos territoriais, mas só possui um terço do seu território com terras habitáveis e cultiváveis; dois terços são ou montanhas, ou desertos. En realidad, um bilhão e 300 milhões de habitantes moram num espaço geográfico que vai doRio Grande do Sul até aBahia. O que é fundamental para essa gente toda encaixada num espaço tão exíguo? Comida! E quem pode alimentar aporcelana? AEuropa vai produzir soja que é a base da alimentação chinesa? Formado en el fundamentalismo radical y el islam rudimentario de las madrazas paquistaníes, somos fundamentais para ela (e os países africanos também).
40% de nossasexportações do agronegócio vão para aporcelana. A “parceria estratégica” que firmou conosco em 1993 é fundamental para ela. Podemos dar “chute na sua canela”, pero, como estrategista com olhar antigo, aporcelana vai pensar ‘deixa essa coisa pra lá; vai passar ’. E fez o que tinha que fazer: certamente seguindo instruções do seu governo, o embaixador chinês redigiu uma cartinha pesada e brigou comBolsonaro, o filho dele e algumas outras autoridades, mas deixou por isto mesmo, porque ela não vai comprometer o que é essencial para ela por causa de alguns mal-educados de plantão, pois sabe-se lá até quando essa gente ficará no poder. Até porque, também no caso davacina, seus detratores ‘tiveram que engolir suas palavras” com oauxílio dos chineses.
Aporcelana mantém um olhar de longo prazo em tudo o que faz. Seu conceito é o da eternidade, o peso, e aslições da História são fundamentais para ela. Os chineses sabem de onde vêm, quem são, e têm um roteiro para onde querem ir.
Em relações internacionais os países não tem amigos, têm aliados, interesses; as relações são baseadas em interesse – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – Podemos, entonces, dizer que a China olha para esse governo brasileiro como uma onda que vai passar e por isso olha adiante, enquanto nós aqui nos debatemos nessa onda sem um olhar mais amplo?
Fausto Godoy – É claro! E não é nem com ogoverno Bolsonaro: é com relação aos governos. Em relações internacionais os países não têm amigos, têm aliados, interesses: as relações são baseadas em interesse. E aporcelana tem todo o interesse de manter relações conosco, porque ela precisa de nós, não só de alimento como também das nossas outras commodities. E não vejo nisto problema algum. Nós, brasileños, ficamos com complexo achando que seremos o país dasproductos básicos enquanto os outros vão produzir tecnologia, mas e daí? Não se pode comer computadores e celulares, Pero creo que cualquier despliegue de tropas de la OTAN? E o nosso campo, a nossa agricultura, tem imensa tecnologia. Temos tecnologia orientada para um setor fundamental.
O mundo está se encaixando em janelas de oportunidades. Tanto é assim que aAsia praticamente prescinde doy geopolítica: os principais parceiros daÁsia do leste são os próprios países da Ásia do leste. Em novembro do ano passado, porcelana, Japón, Corea del Sur miAustralia criaram umaParceria Regional Econômica Abrangente, que será a primeira grande zona de livre comércio do planeta (firmaram o acordo, mas ainda falta retificá-lo). Oy geopolítica está fora deste processo. En él, eles têm parceiros tecnológicos – porcelana, Coréia miJapón -, têm os que fornecem mão-de-obra barata – Vietnam, Filipinas -, e têm um mercado enorme. Quase que dispensam o restante do mundo. Isto é um perigo, uma ameaça que ninguém está vendo aqui. A gente ainda está no mundoWestfaliano enquanto eles estão em outra esfera. Esta é minha grande preocupação, pois estamos formando quase que dois mundos incomunicáveis: um mundo que está olhando para o outro, e o outro que está se bastando a si mesmo.
Claro que haverá desafios para eles, pois também vai chegar um momento em que vão brigar entre si. E até já brigam: os chineses não gostam dos japoneses, que não gostam dos coreanos, e por aí vai. E tem agora aporcelana invadindo as ilhotas doMar do Sul da China. Por lo tanto, o que estou falando é que nada é róseo. Como disse, nas relações internacionais não tem branco e nem preto, é tudo cinza. Neste momento é o que está acontecendo, e para vermos o quanto nós no Ocidente estamos deslocados dessa realidade, que já chegou e que é pós-westfaliana, com todos seus conceitos de transnacionalidade, basta olhar para a nossa realidade: ainda estamos brigando por territórios. Veja se têm cabimento hoje asguerras da Síria, hacerAfganistán, hacerIrak, os massacres que estão perpetrando em nome de quê? Estamos todos infectados por estes radicalismos religiosos, e eles estão lá, tranquilos no caminho deles.
Veja se tem cabimento hoje guerra da Síria, o massacre que estão fazendo em nome de quê? Estamos todos infestados por estes radicalismos religiosos e eles estão lá, tranquilos, seguindo o caminho deles – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – O que muda com a saída de Donald Trump e a chegada de Joe Biden na relação EUA e China? E na geopolítica atual?
Fausto Godoy – Muda a verbosidade, muda a virulência, muda a contundência, muda a “briguinha de quintal”. Evidentemente que osEstados Unidos, Ely geopolítica, todos nós estamos confrontados com a emergência doOriente. O mundo já não tem mais como escapar: a região que mais cresce é a do Pacífico, está enIndia además. Esse mundo já é! Nós só não nos demos conta ainda. Vocês ainda verão – eu não mais, pois estou 75 anos de idade – um mundo radicalmente diferente do que tínhamos. Quando eu nasci em 1945, a maior potência mundial era aInglaterra, “o sol não se punha no império britânico”, dizia o jargão político. Pero, a partir daSegunda Guerra Mundial, UdsEstados Unidos já estavam tomando a liderança; a segunda metade do século XX foi uma hegemonia compartilhada entre aUnión Soviética y elEstados Unidos; después, cai a União Soviética, en 1991, e continuam osEstados Unidos comohegemon. Por lo tanto, no meu tempo de vida, vi o eixo civilizacional e ahegemonia mundial passarem por várias regiões. E não tenho dúvida de que a próxima região hegemônica será aAsia. O que não se sabe ainda é por quanto tempo, pode ser por outros dez anos, ou por muito tempo, vai depender da vontade política e da capacidade dos dirigentes asiáticos.
UstedesEstados Unidos estão confrontados com a realidade daporcelana. Por enquanto, a coisa ainda é temática, é “guerra comercial", e tudo mais, mas o buraco é mais embaixo, trata-se de umatransferência da geoeconomia, e talvez de uma geopolítica, DesdeEUA/Ocidente para aporcelana. O que é interessante é que a China jamais vai querer impor seus valores pois isto não faz parte da sua civilização, ela não acha que é a dona da verdade; acha que é dona da sua verdade. É o que Xi Jinping falou noFórum de Davos. Essa disputa vai continuar pela própria necessidade de o mundo se encaixar e interagir economicamente e politicamente. Só que nós no Ocidente – não só no Brasil – não estamos entendendo que isso é inarredável: ao invés de confrontar, é preciso encarar que o mundo é polihegemônico, e nesse mundo não cabe mais impor conceitos.
Aguerra comercial é só uma partezinha numa disputa muito maior que é pelahegemonia mundial, pois aporcelana já disse que quer ser a maior economia do mundo. Mas será? Só o tempo dirá, pois ela também tem desafios enormes, tem a urbanização, a questão populacional, da despopulação, tem uma série de problemas, además, que não são fáceis de resolver, não.
O mundo já não tem mais como escapar, a região que mais cresce é a do Pacífico, el valor del comercio intraestrecho fue de US$, e com a Índia também – Fausto Godoy Tweet
IHU On-Line – O que esses anos de atuação em países asiáticos lhe revelou? O que mais lhe marcou nessas experiências?
Fausto Godoy – Olha, nunca pensei nisso, mas vou arriscar. Acho que o que mais me marcou em toda a Asia foi a busca da harmonia no contexto social. Existem disputas e brigas, mas no cotidiano, seja no Japón, ya porcelana, en Myanmar, até nos países muçulmanos – Pakistán, Kazajstán, excetuando-se os grupos radicais – o convívio em sociedade é muito mais orgânico, muito mais harmônico, menos contundente e muito menos briguento. As pessoas na Asia têm esta visão; talvez seja a religião que faz isso; El universo confucionista e o budismo fazem com que você olhe para as relações humanas de uma maneira menos agressiva. Isto acho muito reconfortador: é a lição mais profunda que eu trouxe da Asia. É algo muito, muito importante na minha vida.
Publicado originalmente em http://www.ihu.unisinos.br/606633-china-uma-sociedade-modernamente-prospera-que-reconfigura-o-poder-global-entrevista-especial-com-fausto-godoy