Em março de 2021, o atual presidente da França, Emmanuel Macron, alertou contra uma interferência turca nas eleições francesas de 2022 durante uma entrevista para o canal de televisão France 5. Na entrevista, afirmou que a Turquia disseminou políticas de mentiras do Estado através da mídia. Em 2018, Macron já havia fechado as portas da União Europeia para a entrada da Turquia pelos próximos anos, um processo que teve início há 57 anos, e propôs, como alternativa, uma parceria. O Chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, lamentou a postura dos europeus ao bloquearem a entrada de seu país no bloco, sustentando não haver nenhum outro país na mesma posição da Turquia, de sofrer retaliações por uma possível interferência, entre outros motivos.
Após a entrevista foram feitas afirmações em nome do governo turco, que acabou por desaprovar as alegações do presidente francês, considerando-as “inaceitáveis e contrárias à amizade e aliança entre os países”, como foi expresso pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Turquia, Haml Aksoy. Além disso, o chanceler turco destacou que o programa francês foi intencionalmente organizado antes da cúpula da União Europeia, e pediu a retirada das acusações francesas sobre a possível interferência turca nas eleições, afirmando que estas “alienam comunidades de origem estrangeira que vivem no país [França]”.
A tensão entre os dois países é intensificada quando se trata sobre a cultura e religião turcas, pois desde 2005 já era possível evidenciar a impopularidade da Turquia no país francês, já que os turcos não são percebidos como europeus. Recentemente, como consequência do conflito geopolítico entre eles, devido às questões na Síria e na Líbia, o presidente turco Erdogan, manifestou que sua esperança é que “a França se livre do problema com Macron o mais rápido possível”, apontando a crescente provocação de Paris contra o Islã e os muçulmanos. Por sua vez, a França argumenta que a Turquia foi responsável por atuações que não compactuam com as diretrizes europeias, como o armamento de forças para a Líbia e, em relação aos refugiados, utilizados pelos turcos como meio de pressão sobre a UE.
Em 2007, com o governo do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, a União Europeia se viu pressionada a recuar em relação às negociações com a Turquia, já que este via uma união monetária com os turcos como um avanço muito significativo para a entrada do país no bloco, diferentemente de seu antecessor. Por fim, o atual presidente da França Macron, esclareceu que enquanto o governo de Erdogan restringir os direitos humanos, as liberdades de expressão e de imprensa, o processo de entrada do país na UE não terá nenhum avanço, a curto ou a longo prazo, mesmo com a afirmação do porta-voz turco de que não possuem planos que envolvam a política interna francesa.
Bibliografia
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Autoras: Luiza Minuci e Patrizia Setton, pesquisadoras do NENE/ESPM