ISSN 2674-8053

Crise Migratória na Europa em 2015 e a relação com os refugiados da guerra entre Rússia e Ucrânia em 2022

Artigo elaborado por Maíra Figueredo Gomes e Marina Wohlers Ariboni

Desde o início da invasão russa à Ucrânia, que ocorreu no dia 24 de fevereiro de 2022, é estimado pelo ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) que 3,5 milhões de pessoas migraram de seu país de origem para outros países da Europa. Dentre eles, mais de 2 milhões de pessoas teriam se deslocado para a Polônia, especificamente. A crise migratória decorrente da guerra está cada dia maior, e de acordo com a agência de migração da ONU, quase 6,5 milhões de pessoas foram deslocadas para outras regiões da Ucrânia.

Ylva Johansson, chefe de migração da União Europeia afirmou que o bloco econômico está preparado de inúmeras formas para receber os refugiados, visto que aprenderam a lidar com esse assunto durante a crise migratória em 2015. “A situação agora é totalmente diferente e a questão é que estamos muito melhor preparados”, disse Johansson, em entrevista à Lusa sobre a situação no território ucraniano. Segundo ela, a UE “começou com um plano de contingência semanas antes de isto acontecer, contactando ambas as agências (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira e a Agência da União Europeia para o Asilo) e pedindo dados aos Estados-membros”. Além disso, afirmou que em comparação com 2015, a guerra na Síria começou em 2011 e a Europa começou a reagir quando os refugiados já estavam no território europeu, diferente do que está acontecendo atualmente.

De acordo com dados coletados da ACNUR, em 2014, a chegada de migrantes na Europa totalizou 280 mil, uma alta de 10,3% comparada com o ano anterior. Mais de 170 mil pessoas/imigrantes foram para a costa italiana e 43.500 para a costa grega. Em 2015, foram mais de um milhão de migrantes. No mesmo ano, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) estimou em 1.047.000 as chegadas por mar à Europa. *

No fim do verão de 2015, quando milhares de refugiados fugiram dos conflitos no Oriente Médio, a chanceler Angela Merkel decidiu abrir as portas da Alemanha, provocando uma grande escala de solicitações de refúgio e atingindo

1,26 milhões na UE. Agindo. Por ter agido de forma unilateral no fornecimento de refúgio, foi criticada por muitos de seus sócios europeus. 

A Comissão Europeia garante que a União Europeia está mais cuidadosamente preparada para lidar com o fluxo migratório provocado pela guerra na Ucrânia, em comparação à crise migratória de 2015. 

Pode-se concluir que o atual fluxo migratório na Europa, consequência principalmente da guerra entre Ucrânia e Rússia, está sendo consideravelmente superior devido ao seu preparo, se comparado com a crise migratória ocorrida em 2015, uma vez que o continente europeu já passou por uma situação semelhante. Entretanto, quando se fala em dados, esse quadro é o oposto. Segundo a ONU, em menos de uma semana de guerra, a fuga dos ucranianos foi ao menos 10 vezes maior que o recorde de pessoas que migraram para a Europa durante a crise em 2015.

Referências:

BACZYNSKA, Gabriela. ‘We can manage’ influx of Ukrainian refugees, says EU migration chief. Reuters. 15 de março de 2022. Disponível em: <https://www.reuters.com/world/europe/we-can-manage-influx-ukrainian-refugees-says-eu-migration-chief-2022-03-15/>. Acesso em: 28 de março de 2022. 

CLAYTON, Jonathan., et al. Over one million sea arrivals reach Europe in 2015. UNHCR. 30 de dezembro de 2015. Disponível em: <https://www.unhcr.org/news/latest/2015/12/5683d0b56/million-sea-arrivals-reach-europe-2015.html>. Acesso em: 27 de março de 2022.

CROWCROFT, Orlando. ‘Europe has learned from 2015’, EU migration chief says, as millions flee Ukraine. 11 de março de 2022. Euronews. Disponível em: <https://www.euronews.com/my-europe/2022/03/11/europe-has-learned-from-2015-eu-migration-chief-says-as-millions-flee-ukraine>. Acesso em: 26 de março de 2022.

JAKES, Lara. For Ukraine’s Refugees, Europe Opens Doors That Were Shut to Others. The New York Times. 3 de março de 2022. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2022/02/26/us/politics/ukraine-europe-refugees.html>. Acesso em: 31 de março de 2022.

JUNIOR, Carlos Nogueira da Costa. Crise Migratória na Europa em 2015 e os Limites da Integração Europeia: uma abordagem multicausal. Universidade Federal do Paraná. v. 5, n. 1 (2016). Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/conjgloblal/article/view/47421/28449>. Acesso em: 05 de abril de 2022.

TRALLA, Johannes. EU commissioner: Europe has no new plans for refugee redistribution quotas. Err News. 22 de março de 2022. Disponível em:<https://news.err.ee/1608540127/eu-commissioner-europe-has-no-new-plans-for-refugee-redistribution-quotas>. Acesso em: 01 de abril de 2022.

Ylva Johansson. European Commission. Disponível em:<https://ec.europa.eu/commission/commissioners/2019-2024/johansson_en>. Acesso em: 02 de abril de 2022.

Núcleo de Estudos e Negócios Europeus
O Núcleo de Estudos e Negócios Europeus (NENE) está ligado ao Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI) da ESPM-SP. Foi criado considerando a necessidade de estimular a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana a compreender melhor suas relações com os europeus, buscando compreender e aprofundar a Parceria Estratégica Brasil – União Europeia.