Desde o começo de fevereiro de 2022 as tensões entre Rússia e Ucrânia aumentaram de forma significativa. Nesse momento, a quase totalidade dos analistas internacionais defendiam que não haveria conflito armado entre os dois países, resumindo tudo a uma jogada de poder por parte da Rússia. Em 24 de fevereiro de 2022 foi iniciado o conflito entre os dois países. Analistas, nesse momento, afirmavam que seria um conflito rápido no qual a Rússia logo assumiria o controle sobre a Ucrânia, impondo seus objetivos: impedir a entrada da Ucrânia na OTAN e na União Europeia.
Hoje o conflito chega aos três meses de existência sem que haja uma clareza sobre quando e como será o seu fim. Ao que tudo indica ainda serão meses pela frente com pequenas vitórias de lado a lado.
Enquanto o conflito desaparece da mídia por se tornar algo cotidiano e sem grandes fatos capazes de atrair o interesse das pessoas mundo afora, a movimentação político-diplomática tem se tornado cada vez mais forte, mas no sentido errado.
A explicação da incapacidade de os analistas internacionais entenderem o conflito está na base que utilizam para suas análises: o poder militar como único determinante. As comparações feitas foram em torno de quantidades de poderio militar de cada lado, o que mostrava a clara vantagem russa. Mas o mundo de hoje é muito mais complicado, muito mais interdependente e com interesses de outras naturezas – sobretudo econômicos – que também se fazem presentes neste conflito.
O lado econômico pode ser visto quando consideramos a guerra indireta que está sendo travada. Não muito presente na mídia, há um grande esforço para se isolar a Rússia dentro do sistema internacional. Acredita-se, com isso, que o governo Putin será enfraquecido ao perder apoio doméstico, o que levaria à sua queda e substituição por um governo mais pró-Ocidental. Assim, são adotadas sanções comerciais, impedimentos de atividades comerciais e financeiras e congelamento de ativos russos mundo afora.
O resultado disso tudo? Nenhum. A atual estratégia foi válida durante a Guerra Fria, quando o mundo tinha uma interdependência menor e era mais clara a segmentação do mundo entre os países capitalistas, socialistas e não-alinhados. Hoje o mundo mudou. A tentativa de estrangulamento econômico russo seguramente afeta negativamente a popularidade de Putin, mas não a ponto de ser a ferramenta certa para acabar com o conflito. Assim, tudo o que estamos fazendo é forçar que o conflito seja cada vez mais lento e duradouro.
Mais do que isolar a Rússia, esse é o momento de trazer a interdependência internacional como o verdadeiro elemento pacificador. Foi isso o que ocorreu na Europa, com a criação do espaço que hoje conhecemos como União Europeia. A ideia era, naquele espaço conflituoso que iniciou duas guerras mundiais, construir uma interdependência econômica e política capaz de suplantar as tensões militares.
Assim, mais do que isolar a Rússia, agora seria o momento certo para trazê-la a todos os fóruns e organismos internacionais possíveis. Neste sentido, acerta o Brasil ao se abster da votação em que a Organização dos Estados Americanos (OEA) faz uma declaração criticando a Rússia por conta do conflito com a Ucrânia. Acerta o Brasil ao criticar a Rússia no Conselho de Segurança da ONU.
Qual a diferença entre eles? No Conselho de Segurança é colocada a crítica, mas sem que a Rússia seja retirada do organismo. Já no caso da OEA houve a suspensão da Rússia como observadora da OEA.
É via inclusão no sistema internacional que a Rússia será forçada a entender os ganhos e perdas de um conflito como esse. Isola-la só levará ao fortalecimento da atual tendência.