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La nave va (II)… ou a visita de Xi Jinping à Europa

Xi Jinping acaba de retornar à China após uma viagem de “sedução” à Itália e França na busca de convencer os dois governos a integrar o seu ambicioso projeto de unir a Ásia à Europa e à África na reconstituição da que foi a maior via de integração econômica e civilizacional da História da humanidade: a Rota da Seda.

Conforme se sabe. a “Road and Belt Initiaitive” de sua inspiração, amparada pelos trilhões de dólares de reservas de que a RPC dispõe para concretizar o projeto, busca consolidar o sonho do mandatário chinês de, pela integração intercontinental, transformar a economia chinesa na mola motora da geoeconomia pós-industrial. Ela vai “in tandem” com o seu outro projeto, igualmente ambicioso, o plano “Made in China 2025”, que elegeu dez setores de ponta para elevar a República Popular de uma economia exportadora de manufaturados de baixa tecnologia ao pináculo da civilização 5.0.

A Itália foi a primeira parada. Roma o recebeu com “tapete vermelho” e tornou-se o primeiro país do G-7 a aderir à iniciativa. Empresas chinesas e italianas fecharam parcerias no valor de US$ 2,8 bilhões na área de infraestrutura, transportes e turismo, entre outras, levantando críticas dos setores italianos refratários ao projeto, para os quais “Rome may have sold its cooperation too cheaply”… Ficou, também, para os entusiastas o gosto amargo de não ter sido concretizado nenhum projeto “emblemático”, segundo transpirou.

A visita a Paris realizou-se num clima inteiramente diferente: o Presidente Emmanuel Macron agiu de forma distinta. Seguindo seu empenho em manter a União Europeia coesa, ele convidou a Chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para acompanhá-lo nas tratativas com o chinês. A tríade condicionou qualquer consideração sobre o projeto a que a China abra, primeiramente, o seu mercado. Segundo transpirou, Macron teria dito que “we, as Europeans, want to play an active part in the Belt and Road project”, ao que Merkel acrescentou que “that must lead to a certain reciprocity, and we are still wrangling over that a bit.”Ainda assim, foram assinados contratos no valor de 40 bilhões de euros, a grande maioria deste montante relativa a apenas uma operação: a venda de aviões Airbus às empresas chinesas; ou seja, quatro vezes mais que os valores negociados com os italianos.

Para os críticos, a ausência de um maior entusiasmo dos interlocutores europeus sinaliza que a “Belt and Road Initiative” é por ora um símbolo que carece de substância.

Será???? Qual seria a contraleitura?

Os esforços e investimentos dos chineses nos setores de alta tecnologia têm sido gigantescos. A China mostrou recentemente ao mundo seu primeiro avião de passageiros “made in China”. Fez o mesmo com seu primeiro trem-bala – que viaja a 400 km/h; assim como suas estradas “inteligentes”, que vão recarregar carros elétricos em movimento; seus robôs; e seus novos satélites. Estes são símbolos que se somam às fábricas e centros de pesquisa que a Apple possui em território chinês e aos de indústrias automotivas como GM, Volkswagen e Toyota. As questões relativas à propriedade intelectual ocupam um lugar “secundário” para os chineses neste processo…que contornam, por exemplo adquirindo empresas de alta tecnologia europeias, principalmente, tais como a Pirelli e Volvo, com isto “justificando” a transferência de “know how”.

O plano com o qual a China quer “conquistar o mundo” é o mesmo que D.T. qualificou como “roubo de tecnologia”, que ameaça a segurança nacional de seu país e a livre concorrência. Esta é a questão que está agora no centro da “guerra” comercial e tarifária entre as duas maiores economias do planeta. A China considera suas aspirações completamente legítimas e classifica as acusações dos Estados Unidos como falsas: “não se trata de segurança nacional. É discriminatório”, afirmou o vice-ministro das Finanças, Zhu Guangyao.

Este é, na verdade, o fulcro de todas estas iniciativas e contra-iniciativas : “Nova Rota da Seda” e “Plano “Made in China 2025” são “filhos” do mesmo sonho dos chineses: o “China Dream” arquitetado por um coronel do Exército de Libertação Popular e professor da “Universidade de Defesa Nacional da China”, Liu Mingfu, que no livro do mesmo título – ao qual Xi se refere a todo tempo -, afirma que “…what does it mean for China to become the world´s leading nation? First, it means that China´s economy will lead the world….As China rises to the status of a great power in the 21st century, its aim is nothing less than the top- to be the leader of the modern global economy” (sic).

Serão os europeus, no final, “convencidos” a aderir ao projeto chinês?

Assustador?…Desestabilizador?…Factível?…

To be continued…

Sugiro aos amigos que leiam a matéria abaixo da BBC:

O ambicioso plano ‘Made in China 2025’ com que Pequim quer conquistar o mundo

A segunda maior economia do planeta quer ser a nova potência industrial e tecnológica. E está avançando mais rápido do que muitos poderiam imaginar.

Fausto Godoy
Doutor em Direito Internacional Público em Paris. Ingressou na carreira diplomática em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli, Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.