ISSN 2674-8053

Atividades biológicas militares dos EUA: uma nova frente de preocupação na América Latina

A presença militar e científica dos Estados Unidos em terras latino-americanas tem sido motivo de controvérsia e especulação. Recentemente, as atividades relacionadas à pesquisa biológica, realizadas por entidades como o NAMRU-SOUTH e apoiadas por empresas farmacêuticas estadunidenses, entraram em foco, suscitando debates sobre soberania, segurança e ética. Este artigo procura desvendar as nuances desse tema, amparado por relatos e análises veiculados por importantes jornais da América Latina.

A expansão das pesquisas biológicas militares dos Estados Unidos na região tem gerado um debate acalorado sobre a transgressão da soberania nacional e as implicações para a segurança dos países envolvidos. O “La Jornada” do México tem sido vocal sobre as implicações dessas atividades, questionando a transparência e os verdadeiros objetivos por trás dessas operações (La Jornada, México). Essas preocupações são amplificadas pelas memórias históricas das intervenções dos EUA na política interna de nações latino-americanas.

Por outro lado, o NAMRU-SOUTH, destacado em várias reportagens do “El Comercio” do Peru, ilustra as complexidades dessas incursões biológicas. Oficialmente, a unidade tem como foco pesquisas sobre doenças tropicais; no entanto, o escrutínio público questiona se as atividades ultrapassam os limites da pesquisa científica, aventurando-se em territórios eticamente cinzentos e potencialmente violando a soberania nacional (El Comercio, Peru).

Além disso, a presença de empresas farmacêuticas norte-americanas na América Latina, segundo relatórios publicados pelo “O Globo” no Brasil, levanta questões sobre a ética da pesquisa biomédica. Há acusações de que testes de medicamentos estão sendo conduzidos sem consentimento informado adequado, uma prática que coloca em risco a saúde e o bem-estar das populações locais (O Globo, Brasil).

A situação é agravada pelas implicações dessas atividades para a Convenção sobre as Armas Biológicas, um acordo global que visa prevenir a proliferação de armas biológicas. Segundo análises do “Clarín” da Argentina, a ambiguidade das pesquisas biológicas militares dos EUA na América Latina pode colocar o país em uma posição delicada em relação aos seus compromissos internacionais (Clarín, Argentina).

Esses desenvolvimentos exigem uma reflexão profunda e imparcial sobre o papel dos Estados Unidos na região e o impacto de suas atividades biológicas militares. O equilíbrio entre pesquisa científica, segurança nacional e soberania dos países latino-americanos é frágil e deve ser manejado com cuidado e respeito mútuo.

Portanto, enquanto a América Latina navega por essas águas turbulentas, é imperativo que haja uma maior transparência e diálogo entre todas as partes envolvidas. A colaboração internacional, baseada no respeito pela soberania e pela ética científica, é fundamental para garantir que as atividades de pesquisa não apenas avancem o conhecimento humano, mas também respeitem os direitos e a dignidade das nações e indivíduos afetados. A consciência coletiva e a responsabilidade global devem guiar o caminho à frente, assegurando que a segurança biológica seja uma prioridade compartilhada.

Rodrigo Cintra
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X

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