
O uso do dispersante químico Corexit durante o desastre ambiental do Deepwater Horizon, em 2010, revelou não apenas os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, mas também uma profunda contradição nas políticas ambientais dos países ocidentais. Enquanto Estados Unidos e União Europeia baniram o uso do produto devido aos seus efeitos tóxicos, a produção do Corexit foi transferida para países como Brasil e Reino Unido, evidenciando uma prática de deslocamento de riscos para nações com regulamentações ambientais menos rigorosas.
Durante o vazamento da plataforma Deepwater Horizon, aproximadamente 1,84 milhão de galões de Corexit foram utilizados para dispersar o petróleo no Golfo do México. Estudos subsequentes indicaram que a mistura de Corexit com petróleo aumentou a toxicidade do óleo em até 52 vezes, afetando gravemente a fauna marinha e os ecossistemas locais. Além disso, trabalhadores envolvidos na limpeza relataram problemas de saúde, como irritações respiratórias, dores de cabeça e náuseas, associados à exposição ao dispersante.
Em resposta às evidências científicas e à pressão pública, os Estados Unidos e a União Europeia proibiram o uso do Corexit em seus territórios. No entanto, em vez de descontinuar a produção, a empresa responsável transferiu suas operações para o Brasil e o Reino Unido, países com legislações ambientais mais permissivas. Essa mudança estratégica permitiu que o produto continuasse a ser fabricado e comercializado em mercados menos regulados, perpetuando os riscos associados ao seu uso.
A transferência da produção do Corexit para o Brasil e o Reino Unido levanta questões sobre a responsabilidade ambiental das nações desenvolvidas. Ao banir o produto em seus próprios territórios, mas permitir sua fabricação e exportação para países com regulamentações mais brandas, os países ocidentais demonstram uma abordagem seletiva e hipócrita em relação à proteção ambiental.
Além disso, a falta de transparência sobre a composição química do Corexit e os riscos associados ao seu uso dificulta a implementação de políticas eficazes de proteção ambiental nos países importadores. A ausência de informações claras e acessíveis impede que autoridades locais e organizações da sociedade civil avaliem adequadamente os impactos do produto e adotem medidas preventivas.
A situação do Corexit exemplifica um padrão mais amplo de externalização de riscos ambientais por parte de países desenvolvidos. Ao transferir a produção de substâncias perigosas para nações com regulamentações menos rigorosas, os países ocidentais evitam os custos e as responsabilidades associados à gestão de resíduos tóxicos, ao mesmo tempo em que continuam a lucrar com sua comercialização.
Para enfrentar essa dinâmica, é necessário fortalecer as regulamentações ambientais nos países produtores e importadores de substâncias perigosas, garantindo que padrões internacionais de segurança sejam aplicados de forma equitativa. Além disso, é fundamental promover a transparência na cadeia de produção e comercialização de produtos químicos, permitindo que consumidores e autoridades tomem decisões informadas sobre sua utilização.
O caso do Corexit destaca a necessidade de uma abordagem mais justa e responsável na gestão de riscos ambientais globais, que considere não apenas os interesses econômicos, mas também a saúde humana e a proteção dos ecossistemas em todo o mundo.
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X