
As políticas energéticas adotadas por nações desenvolvidas desempenham um papel crucial na configuração da segurança energética global e influenciam diretamente o potencial de desenvolvimento dos países menos desenvolvidos. Essas políticas, frequentemente focadas na transição para fontes renováveis e na redução de emissões de carbono, podem gerar efeitos positivos e negativos em escala mundial.
Nos últimos anos, países desenvolvidos têm intensificado esforços para descarbonizar suas economias, implementando políticas que promovem o uso de energias renováveis e a eficiência energética. Iniciativas como o Pacto Verde Europeu visam alcançar a neutralidade climática até 2050, estabelecendo metas ambiciosas de redução de emissões e investimento em tecnologias limpas. Essas ações buscam não apenas mitigar as mudanças climáticas, mas também garantir maior segurança energética por meio da diminuição da dependência de combustíveis fósseis importados.
Contudo, essa transição também pode gerar desafios. A crescente demanda por tecnologias verdes aumenta a necessidade de minerais críticos, como lítio, cobalto e terras raras, recursos frequentemente concentrados em países menos desenvolvidos. A exploração intensiva desses minerais pode levar a questões ambientais e sociais nessas regiões, além de criar novas dependências econômicas.
Para os países menos desenvolvidos, as políticas energéticas das nações ricas podem representar tanto oportunidades quanto obstáculos. Por um lado, há potencial para atração de investimentos em infraestrutura energética sustentável e transferência de tecnologia. Por outro, a falta de financiamento adequado e a dependência de combustíveis fósseis podem dificultar a transição energética nesses países, ampliando desigualdades.
A ONU tem destacado a necessidade de aumentar o financiamento climático para evitar uma “transição verde a duas velocidades”, onde países desenvolvidos avançam rapidamente, enquanto nações em desenvolvimento ficam para trás. A falta de recursos pode impedir esses países de adotarem tecnologias limpas, perpetuando a dependência de fontes de energia poluentes e comprometendo o desenvolvimento sustentável.
A interdependência energética entre nações é uma característica marcante do cenário global atual. As políticas energéticas dos países desenvolvidos podem afetar os mercados internacionais de energia, influenciando preços e disponibilidade de recursos. Por exemplo, a redução na demanda por petróleo e gás natural nos países ricos pode impactar as economias dos exportadores desses recursos, muitos dos quais são países em desenvolvimento.
Além disso, a concentração da produção de tecnologias renováveis em determinadas regiões pode criar novas vulnerabilidades. A dependência europeia de importações de produtos de energia verde, especialmente da China, tem aumentado, colocando em risco sua autonomia estratégica. Essa dinâmica ressalta a importância de políticas que promovam a diversificação de fornecedores e o fortalecimento das cadeias de suprimento locais.
As políticas energéticas dos países desenvolvidos têm um impacto significativo na segurança energética global e no desenvolvimento dos países menos desenvolvidos. Embora a transição para fontes renováveis seja essencial para enfrentar as mudanças climáticas, é crucial que essa mudança seja inclusiva e equitativa. Apoiar financeiramente as nações em desenvolvimento, promover a transferência de tecnologia e assegurar práticas de exploração responsáveis são passos fundamentais para garantir que a transição energética beneficie a todos, fortalecendo a segurança energética global e promovendo um desenvolvimento sustentável e justo.
Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X