O cenário internacional contemporâneo está marcado por tensões crescentes que despertam preocupações sobre a possibilidade de um conflito global de grandes proporções, similar à Primeira e à Segunda Guerra Mundial. Para entender se estamos realmente à beira de uma terceira guerra mundial, é essencial traçar paralelos históricos e identificar padrões que possam indicar a repetição de ciclos destrutivos. Entre esses padrões, destacam-se o aumento da xenofobia e as tensões geopolíticas, que hoje se manifestam em diversas partes do mundo.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Europa estava imersa em uma rede de alianças complexas e conflitos de interesses nacionais, que culminaram no assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em 1914 e a subsequente declaração de guerra. De maneira semelhante, a Segunda Guerra Mundial surgiu de um cenário de profunda insatisfação com os resultados do Tratado de Versalhes, que impuseram severas penalidades à Alemanha, além do crescimento de regimes totalitários. Ambos os conflitos foram precedidos por períodos de nacionalismo exacerbado, xenofobia e rivalidades econômicas e militares.
Atualmente, observa-se um aumento preocupante da xenofobia e do nacionalismo em várias regiões do mundo. Nos Estados Unidos e na Europa, movimentos políticos populistas têm ganhado força, promovendo políticas anti-imigração e retóricas de “nós contra eles”. Este fenômeno não é exclusivo do Ocidente. Na Índia, a ascensão do nacionalismo hindu tem gerado tensões religiosas e étnicas internas. Na China, a política de “Sinicização” imposta pelo governo de Xi Jinping tem causado represálias contra minorias étnicas, como os uigures muçulmanos. Essas dinâmicas são reminiscências dos sentimentos nacionalistas que precederam as duas guerras mundiais, criando um ambiente de desconfiança e hostilidade entre nações e dentro delas mesmas.
Além da xenofobia, as tensões geopolíticas atuais evocam lembranças dos prelúdios das grandes guerras do século XX. Na Europa, a invasão russa da Ucrânia em 2022 reacendeu medos de conflitos em larga escala no continente. A anexação da Crimeia em 2014 e as contínuas intervenções russas nas questões ucranianas são reflexos de uma Rússia buscando reafirmar seu poder e influência, similar às ambições territoriais observadas nas décadas de 1930 e 1940. A resposta internacional, marcada por sanções econômicas e apoio militar à Ucrânia, lembra os alinhamentos de alianças que marcaram a Primeira Guerra Mundial.
No Pacífico, a crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China sobre a questão de Taiwan e o domínio do Mar do Sul da China gera preocupações sobre um conflito militar direto. A assertividade da China em expandir sua influência territorial e econômica na região tem levado a uma corrida armamentista, com os Estados Unidos reforçando suas alianças com países como Japão, Austrália e Índia, numa estratégia que lembra a contenção do expansionismo japonês antes da Segunda Guerra Mundial.
Em outras regiões, conflitos locais também contribuem para a instabilidade global. No Oriente Médio, as guerras na Síria e no Iêmen, as tensões entre Israel e o Irã, e as rivalidades sectárias continuam a desestabilizar a região. Na África, confrontos em países como Etiópia e República Centro-Africana, bem como a ameaça de grupos extremistas em áreas como o Sahel, adicionam camadas de complexidade ao cenário global.
Os paralelos históricos e os padrões observáveis sugerem que o mundo está em um estado de alerta. No entanto, existem diferenças significativas que podem servir de barreira contra uma guerra mundial iminente. As lições aprendidas com os conflitos passados, a presença de organizações internacionais como a ONU, e os mecanismos de diplomacia multilateral oferecem caminhos para a resolução pacífica de conflitos. A interdependência econômica global também serve como um dissuasor importante, uma vez que as economias estão mais interligadas do que nunca.
Em conclusão, embora as tensões internacionais atuais apresentem padrões alarmantes similares aos que precederam as duas grandes guerras mundiais, o contexto moderno possui fatores mitigantes que podem prevenir um conflito global de escala semelhante. No entanto, é imperativo que as nações trabalhem juntas para desescalar as tensões e promover a cooperação internacional, a fim de evitar os horrores de uma nova guerra mundial.